Enquanto comemora 60 anos de atuação no Brasil em 2024, a Voith segue no centro da discussão sobre transição energética. Rogério Pires (foto), diretor de veículos comerciais da Voith Turbo, aproveitou o momento para comentar a posição da empresa em relação ao tema, aqui e no mundo. Durante encontro com jornalistas na planta da empresa, em São Paulo, o executivo comentou a hibridização dos veículos comerciais, a importância do diesel e o espaço que ainda existe para aprimorar o uso desse combustível.
Durante a IAA 2024, realizada na Alemanha na última semana, que a empresa participou e exibiu algumas de suas soluções para o segmento de ônibus e caminhões, ficou claro que essa transição ainda não é completa e nem deve caminhar para ser totalmente elétrica. Por lá, muito se falou em soluções híbridas, a manutenção do diesel de uma forma mais eficiente sob o ponto de vista energético e a necessidade da atuação do poder público na parte de infraestrutura.
Atualmente a Voith conta com 23 mil funcionários atuando em 60 países ao redor do globo. A Voith Turbo é a divisão que cuida de transmissões e tudo o que for relacionado a regulagem de força.
Transição elétrica no Brasil
A Europa tem enfrentado um momento onde a queda do subsídio governamental e a lentidão de desenvolvimento da infraestrutura atrapalhou a transição energética total por lá. Sendo assim, soluções híbridas voltaram a ter força. Já aqui no Brasil, estamos alguns grandes passes atrás deste momento. “Acredito que a eletrificação para o ônibus, por exemplo, vai caminhar lentamente em um mercado onde não tem equacionamento adequado, principalmente de infra.”
Rogério também falou sobre usar soluções híbridas. Para ele, todos os caminhos são possíveis, ainda mais no Brasil, onde é necessário entender cada tipo de contexto. A Voith, aliás, já mostrou ao mercado esse tipo de tecnologia e recentemente a Cummins anunciou uma parceria com a Alisson Transmission para um sistema de propulsão hibrido elétrico também.
“A opção híbrida é uma alternativa. Todos os caminhos são bons, mas você precisa saber dosá-los e colocar dentro de cada vocação específica. “É um quebra-cabeça de tecnologias que você não você não pode estigmatizar nenhuma delas todas elas são importantes. Por exemplo, eu aceleraria a eletrificação dos centros urbanos. Mas, numa condição mais mista, mais longe do centro, uma opção híbrida funciona. O ponto crucial é que o salto tecnológico de fora já é grande, mas o nosso aqui é enorme”.
O diesel ainda é pauta quente
Mas além de discutir sobre tecnologias avançadas, Rogério lembra que ainda há espaço para evoluir no diesel e a Voith continua olhando com carinho para o segmento. Aliás, a empresa anunciou um investimento de 5 milhões no banco de testes da Voith Turbo do Brasil para o setor de óleo e gás. Ele cita, primeiro, as melhoras possíveis de software. Aproveitando a capacidade tecnológica que temos para tirar o melhor proveito possível do que já temos.
“O tempo inteiro a gente está discutindo como podemos fazer com que o nosso produto opere melhor naquela condição específica. Principalmente hoje que a grande influência em cima deles está na parte de software. Entre o melhor e o pior motorista, dentro de uma determinada operação, nós estamos falando entre 15 e 20% de diferença. Muita coisa pode ajudar nisso aí: sistemas eletrônicos de apoio à condução, inteligência embarcada na questão dos sistemas do veículo, geo posicionamento. Tem vários ainda elementos que a gente pode trabalhar fora do veículo para ganho de eficiência energética.”
Ele completa citando o exemplo do controle de aceleração de ônibus, um estudo que a Voith desenvolveu aqui no Brasil:
“Por exemplo, a questão do controle de aceleração de ônibus urbanos. Isso já existia na Europa, mas de uma forma muito simples e nós aqui no Brasil, em função da necessidade específica. Nós fomos a fundo nisso daqui, uma das montadoras locais nos ajudou bastante nessa questão, e nós desenvolvemos um algoritmo, uma lógica de controle de aceleração que inclusive depois foi patenteada na Alemanha.”
Evolução dos componentes
Rogério também citou o projeto Super Truck como um caso interessante. Realizado nos Estados Unidos com apoio e dinheiro governamental, os estudos feitos por montadoras tentam alcançar soluções, que ainda não vão pra rua em um primeiro momento, mas são possíveis para o futuro.
“Nesse sentido nós oferecemos sistemas de turbo compound, é um segundo Turbo em que ele na saída do escapamento reaproveita a parte da energia térmica do motor e devolve para saída do motor de forma mecânica. Então nós fornecemos todo esse sistema de recuperação de energia para você ganhar eficiência energética.” disse o executivo.
Assim como o compressor de ar de duplo estágio, onde a compressão do ar não é em paralelo nos cilindros. Existe um cilindro que comprime o ar a um nível de pressão, então ele é refrigerado e depois ele comprime até a pressão final. Isso dá uma economia de energia de cerca de 1,5%. “E esse compressor de ar agora tá sendo oferecido com embreagem também, ou seja, desacoplo o compressor do motor quando eu não preciso. E aí você consegue outros um por cento ali de economia de combustível, parece pouco, mas somando essas pequenas coisas, faz muita diferença em um veículo rodando quase 24 horas todos os dias”. Explicou.
Para finalizar, Rogério Pires diz ainda tudo é muito incerto. O mercado ainda não descartou nada, que a Voith neste aniversário segue entendendo o seu papel. “Como indústria a gente precisa estar preparado para quando o mercado se conscientizar que essa solução faz sentido”.
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