Shacman, o curioso caminhão chinês brasileiro

Empresa adia anúncio de fábrica no Brasil

Empresa adia anúncio de fábrica no Brasil

“É um produto brasileiro feito na China.” Por meio dessa contradição em termos João Comelli, diretor de produto e sócio da Metro-Shacman, define os caminhões produzidos pela Shaanxi na China e que, segundo ele explica, foram “totalmente projetados por engenheiros brasileiros para as condições brasileiras”. Comelli conta que o desenvolvimento, “por questões burocráticas”, foi feito em Angola, onde a Metro-Shacman atua com 23 empresas, principalmente no setor de construção civil.

Assim os caminhões Shacman que começam a ser vendidos no Brasil em janeiro de 2012 foram desenvolvidos por brasileiros, com testes em Angola e produção na China. É com essa combinação bastante curiosa, e inédita, que a Metro-Shacman pretende vender cerca de 1 mil unidades no próximo ano, todas importadas da China, enquanto caminha em paralelo o projeto de construir uma fábrica no Brasil em associação com a Shaanxi.

Os planos da nova fábrica deveriam ter sido anunciados na terça-feira, 25, durante a Fenatran (de 24 a 28 de outubro no Anhembi, em São Paulo). Contudo, os representantes da empresa disseram que vão esperar por uma definição do governo quanto à política industrial para o setor. “Faz muita diferença no volume de investimento necessário começar com 20% ou 65% de índice de nacionalização. Por isso vamos aguardar essa definição, já que o governo acena com uma regra de transição, com índices menores de nacionalização para quem ainda vai instalar uma fábrica aqui”, explicou Rodrigo Teixeira, diretor executivo da Caminhões Metro-Shacman do Brasil. “Mas a decisão de fazer a fábrica já está tomada”, garante, sem revelar também a localização. Estados do Nordeste são grandes candidatos. “Existem incentivos e linhas de crédito muito interessantes lá”, avalia Teixeira.

Desenvolvimento e operação no Brasil

Segundo Comelli, o desenvolvimento da família de caminhões Shacman já consumiu US$ 20 milhões e outros R$ 4 milhões já foram investidos para estruturar a operação no Brasil, que começa com sete concessionárias (Recife, Fortaleza, Natal, São Paulo, Boituva, Cuiabá e Rondonópolis) e dois centros de distribuição de peças, um em Recife (PE) e em Boituva, interior de São Paulo.

“Não teremos dificuldades de nacionalizar esse caminhão, pois os principais fornecedores estão no Brasil também”, diz Comelli, citando a motorização Cummins, eixos com tecnologiaMAN, radiadores da Behr, sistemas pneumáticos da Wabco, quinta-roda da Jost e transmissão Eaton. “Perto de 75% dos componentes podem ser encontrados no mercado brasileiro”, afirma.

Segundo Teixeira, a operação comercial é 100% brasileira, mas o desenvolvimento da fábrica terá investimentos também da Shaanxi, em porcentual que ainda depende de negociações e de incentivos governamentais.

Mesmo sob o impacto do aumento do IPI e da falta de definição sobre a fábrica, os caminhões Shacman começam a ser vendidos em janeiro em cinco opções. Serão três cavalos mecânicos: 4×2 e 6×4 de 385 cavalos e outro 6×4 de 420 cavalos. Também há duas versões de chassi: o LT 6×4 de 385 cavalos e o DT com a mesma potência, mas já vendido implementado, com caçamba.

Comelli admite que o desenvolvimento em Angola não contemplou a tecnologia de emissões Euro 5, que passa a ser exigida no Brasil a partir de janeiro próximo. Isso porque no país africano não há nem cheiro de diesel S50, com baixo teor de enxofre, necessário para reduzir as emissões. “Lá em Angola o diesel deve ser S5000”, diz. “Mas a homologação para Euro 5 no Brasil já foram feitos pela Cummins, que fornece os motores.”

Apesar de todo o desenvolvimento pouco convencional, Comelli garante que os transportadores brasileiros vão gostar dos Shacman: “Eu já tenho 500 caminhões desses lá em Angola e eles operam muito bem.”

Automotive Business

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