Plataforma quer reinventar a função do “chapa”

Empresa já atendeu em 21 estados brasileiros desde 2020

Guarulhos, São Paulo, Brasil 22-07-2020 Retrato de Carlos R Lopes, chapa (trabalhadores ajudantes de caminhoneiros), esperando e acenando para atrair caminhoneiros no ponto de chapas do Posto Sakamoto na Via Dutra. Série de reportagens para Projeto Legados da Dutra realizadas em cidades dos arredores da Rodovia Presidente Dutra - BR 116, entre Rio de Janeiro e São Paulo.

Pelo Ministério do Trabalho e Emprego a ocupação “chapa” é classificada por “profissional responsável por carregar e descarregar caminhões”. Na prática são pessoas ficam à beira das estradas para prestar alguns tipos de serviços para os caminhoneiros.

Além de carga e descarga, os chapas também tem a função de informar o motorista. Dar informações que só ele, que é da cidade, vai saber e que serão de grande valia para a entrega da carga. Ele guia o caminhoneiro até o seu destino final.

O termo “meu chapa” é conhecido por remeter a um sentido de amizade, significa “meu amigo”. Tudo isso ajuda a entender a importância que esse profissional tem na história do transporte rodoviário de cargas no Brasil. 

Entretanto, a profissão informal sempre foi banhada de insegurança. Afinal, ficar a beira de uma rodovia esperando um trabalho de alguém que você nunca viu na vida é complicado.

Vivência na pele que rendeu uma ideia

Depois de vivenciar por muito tempo essa dinâmica da contratação de chapas, dois paulistas tiveram a ideia de digitalizar tudo isso.

Joao Biarari tem mais de 25 anos de experiência em áreas de Supply Chain e operações, tendo passado por Unilever, Avon e Ypê. Já Guilherme Fernandes ostenta mais de 20 anos de experiência profissional em indústrias multinacionais brasileiras, na área de Planejamento Estratégico. Também passou pela Ypê durante 4 anos.

Em 2019, na cidade de Campinas, nasceu a MeuChapa. Plataforma que tem como objetivo conectar empresas e os profissionais de carga e descarga, os conhecidos “chapas”. A ideia é ser um marketplace desse serviço, intermediando essa operação.

O Brasil se move por rodovias. Então o trabalho desse profissional é muito relevante no país. A gente acredita que exista meio milhão de pessoas nessa função”. Comenta João Biarari.

Sócios da MeuChapa: Em pé da esquerda para direita: Paulo Teixeira; Erus Rocha; Dora Ferreira; Sentados da esquerda para direita: Guilherme Fernandes e Joao Biarari

Como funciona a plataforma MeuChapa

A plataforma conta com uma base de 45 mil chapas cadastrados de um lado e cerca de 200 empresas clientes do outro. A empresa anuncia a oportunidade do serviço, com horas de antecedência (cerca de sete horas, segundo os executivos) com todo o detalhamento possível, e o trabalhador escolhe de aceita ou não.

A empresas e os chapas são cadastrados nessa base de dados. Eles são submetidos a uma verificação de segurança antes de estarem aptos a trabalhar. 

Ele passa por um background check. Nós temos um parceiro que checka várias fontes (antecedentes criminais em tribunais estadual e federal, além da checagem financeira) que propiciam os antecedentes daquele profissional. A gente gera um score que habilita o chapa pra trabalhar”. Explica João Biarari.

Pós serviço completado o aplicativo permite uma avaliação do trabalho do chapa, bem no estilo Uber. A renda da plataforma é cobrada em cada tarefa apenas sobre o motorista, que é quem paga essa “taxa de gestão”.

Segundo Guilherme, o grande diferencial é que a MeuChapa fica a cargo de toda a operação. A intermediação é completa, o que facilita ambos os lados.

MeuChapa em números

  • 45 mil chapas cadastrados
  • Mais de 200 clientes empresas
  • Mais de 600 mil conexões feitas
  • Cerca 100 milhões de tarefas no ano
  • 21 estados do país e mais de 2 mil cidades atendidas

Inteligência Artificial aplicada na operação

Toda a operação também é cercada pelo uso de algoritmos para definir algumas diretrizes da plataforma. A geolocalização também é usada, já que a MeuChapa dá preferência, é claro, para os profissionais mais próximos à área de serviço. Tamanho e peso do pacote também são levados em consideração nas ofertas.

35% das tarefas conectadas hoje dentro do nosso aplicativo são feitas em distâncias que podem ser percorridas a pé ou de bicicleta. Queremos criar oportunidades acessíveis” Afirma Biarari.

Ele também cita o uso de um algoritmo chamado de “Gestão de Coincidência”. Ele serve para evitar que as duas partes de encontrem mais que 2 vezes na semana. A ideia é evitar habitualidade e exclusividade em relação a um único motorista e cliente. “Assim a gente deixa a coisa mais justa e dividida pra todos”. Completa.

O aplicativo, aliás, também oferece um pacote de dados quando o profissional não tem acesso. Guilherme cita essa preocupação com o ciclo do negócio e conectividade.

“Fizemos uma pesquisa e vimos que 100% dos chapas tem celular, mas a dificuldade era a conectividade”. Completa o executivo.

A empresa desenvolveu uma serie de treinamentos disponíveis no YouTube para os usuários. “O objetivo é propiciar uma reinvenção do parceiro chapa. Estamos dando voz pra uma profissional que a gente via, mas não enxergava”.

Próximos passos da MeuChapa

Recentemente a plataforma captou R$ 6,1 milhões em uma rodada de investimentos liderada pela GVAngels, rede de investidores anjo formada por ex-alunos da FGV, pela Tompkins Ventures e Venture Hub, além de investidores de longa data na empresa.

Para o futuro a ideia, claro, é continuar crescendo, principalmente adicionando novas tecnologias. Biarari comenta que eles têm um roadmap com mais de 2 anos de funcionalidades, principalmente sobre automatizações de processos.

Outro ponto citado é o desejo de atender os TACs (Transportadores Autônomos de Carga) em um futuro próximo.

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