Pelo Ministério do Trabalho e Emprego a ocupação “chapa” é classificada por “profissional responsável por carregar e descarregar caminhões”. Na prática são pessoas ficam à beira das estradas para prestar alguns tipos de serviços para os caminhoneiros.
Além de carga e descarga, os chapas também tem a função de informar o motorista. Dar informações que só ele, que é da cidade, vai saber e que serão de grande valia para a entrega da carga. Ele guia o caminhoneiro até o seu destino final.
O termo “meu chapa” é conhecido por remeter a um sentido de amizade, significa “meu amigo”. Tudo isso ajuda a entender a importância que esse profissional tem na história do transporte rodoviário de cargas no Brasil.
Entretanto, a profissão informal sempre foi banhada de insegurança. Afinal, ficar a beira de uma rodovia esperando um trabalho de alguém que você nunca viu na vida é complicado.
Vivência na pele que rendeu uma ideia
Depois de vivenciar por muito tempo essa dinâmica da contratação de chapas, dois paulistas tiveram a ideia de digitalizar tudo isso.
Joao Biarari tem mais de 25 anos de experiência em áreas de Supply Chain e operações, tendo passado por Unilever, Avon e Ypê. Já Guilherme Fernandes ostenta mais de 20 anos de experiência profissional em indústrias multinacionais brasileiras, na área de Planejamento Estratégico. Também passou pela Ypê durante 4 anos.
Em 2019, na cidade de Campinas, nasceu a MeuChapa. Plataforma que tem como objetivo conectar empresas e os profissionais de carga e descarga, os conhecidos “chapas”. A ideia é ser um marketplace desse serviço, intermediando essa operação.
“O Brasil se move por rodovias. Então o trabalho desse profissional é muito relevante no país. A gente acredita que exista meio milhão de pessoas nessa função”. Comenta João Biarari.
Como funciona a plataforma MeuChapa
A plataforma conta com uma base de 45 mil chapas cadastrados de um lado e cerca de 200 empresas clientes do outro. A empresa anuncia a oportunidade do serviço, com horas de antecedência (cerca de sete horas, segundo os executivos) com todo o detalhamento possível, e o trabalhador escolhe de aceita ou não.
A empresas e os chapas são cadastrados nessa base de dados. Eles são submetidos a uma verificação de segurança antes de estarem aptos a trabalhar.
“Ele passa por um background check. Nós temos um parceiro que checka várias fontes (antecedentes criminais em tribunais estadual e federal, além da checagem financeira) que propiciam os antecedentes daquele profissional. A gente gera um score que habilita o chapa pra trabalhar”. Explica João Biarari.
Pós serviço completado o aplicativo permite uma avaliação do trabalho do chapa, bem no estilo Uber. A renda da plataforma é cobrada em cada tarefa apenas sobre o motorista, que é quem paga essa “taxa de gestão”.
Segundo Guilherme, o grande diferencial é que a MeuChapa fica a cargo de toda a operação. A intermediação é completa, o que facilita ambos os lados.
MeuChapa em números
- 45 mil chapas cadastrados
- Mais de 200 clientes empresas
- Mais de 600 mil conexões feitas
- Cerca 100 milhões de tarefas no ano
- 21 estados do país e mais de 2 mil cidades atendidas
Inteligência Artificial aplicada na operação
Toda a operação também é cercada pelo uso de algoritmos para definir algumas diretrizes da plataforma. A geolocalização também é usada, já que a MeuChapa dá preferência, é claro, para os profissionais mais próximos à área de serviço. Tamanho e peso do pacote também são levados em consideração nas ofertas.
“35% das tarefas conectadas hoje dentro do nosso aplicativo são feitas em distâncias que podem ser percorridas a pé ou de bicicleta. Queremos criar oportunidades acessíveis” Afirma Biarari.
Ele também cita o uso de um algoritmo chamado de “Gestão de Coincidência”. Ele serve para evitar que as duas partes de encontrem mais que 2 vezes na semana. A ideia é evitar habitualidade e exclusividade em relação a um único motorista e cliente. “Assim a gente deixa a coisa mais justa e dividida pra todos”. Completa.
O aplicativo, aliás, também oferece um pacote de dados quando o profissional não tem acesso. Guilherme cita essa preocupação com o ciclo do negócio e conectividade.
“Fizemos uma pesquisa e vimos que 100% dos chapas tem celular, mas a dificuldade era a conectividade”. Completa o executivo.
A empresa desenvolveu uma serie de treinamentos disponíveis no YouTube para os usuários. “O objetivo é propiciar uma reinvenção do parceiro chapa. Estamos dando voz pra uma profissional que a gente via, mas não enxergava”.
Próximos passos da MeuChapa
Recentemente a plataforma captou R$ 6,1 milhões em uma rodada de investimentos liderada pela GVAngels, rede de investidores anjo formada por ex-alunos da FGV, pela Tompkins Ventures e Venture Hub, além de investidores de longa data na empresa.
Para o futuro a ideia, claro, é continuar crescendo, principalmente adicionando novas tecnologias. Biarari comenta que eles têm um roadmap com mais de 2 anos de funcionalidades, principalmente sobre automatizações de processos.
Outro ponto citado é o desejo de atender os TACs (Transportadores Autônomos de Carga) em um futuro próximo.
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