Desaceleração da demanda leva à primeira queda do indicador desde 2009
Alinhados com a retração na indústria em meio ao freio da economia como um todo e à deterioração do cenário internacional, os investimentos recuaram pela primeira vez no terceiro trimestre deste ano desde a recuperação da crise financeira mundial iniciada em 2009. A formação bruta decapital fixo, indicador que reflete os investimentos físicos da economia, caiu 0,2% na passagem entre o segundo e o terceiro trimestres.
Depois de ter registrado crescimento nulo entre o terceiro e o quarto trimestres do ano passado, os investimentos repetiram uma alta de 1,3% nos dois seguintes, mas não conseguiram sustentar o desempenho entre julho e setembro diante da desaceleração do consumo e da queda de confiança com as repercussões da complicação da crise fiscal na Europa.
Na comparação com o terceiro trimestre de 2010, o indicador mantém desempenho positivo com alta de 2,5%, mas bastante moderado em comparação com a sua trajetória recente, que chegou a registrar alta acima de 25% no início do ano passado. O índice dez vezes menor entre julho e setembro é o pior desde o terceiro trimestre de 2009, quando os investimentos caíram 9%.
Para o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC), as medidas de incentivo ao consumo do governo para estimular a indústria de transformação correm o risco de promover mais importação, se não vierem acompanhadas de medidas para melhorar a competitividade da indústria nacional e as condições para o investimento.
“O governo está correto em estimular a demanda, que é um dos principais fatores para o investimento, mas é preciso aumentar a competitividade em paralelo. A indústria de transformação tem tido um desempenho muito atrás do varejo e esse espaço tem sido preenchido pelos importados”, avalia Lacerda.
Transformação. O coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto, concorda que a retração mais forte na indústria de transformação prejudicou os investimentos, tendo em vista que esse segmento responde por quase 60% de todo o setor industrial. Por outro lado, no acumulado em 12 meses, os investimentos ainda têm alta de 7%, ainda à frente do consumo das famílias, com 5,4%.
A desaceleração dos investimentos já havia sido detectada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que reduziu este ano os subsídios ao financiamento para a compra de bens de capital.
Análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) apontou ontem que a retração dos investimentos é um sinal de que “a economia brasileira desacelerou demais”, comprometendo parte do seu dinamismo.
Como resultado do mau desempenho, a taxa de investimento ficou em 20% do PIB entre julho e setembro, 0,5 ponto porcentual abaixo da registrada no mesmo período de 2010. A taxa de poupança também caiu, de 18,8% para 19,6% do PIB.
Se a indústria como um todo patinou no terceiro trimestre, com queda de 0,9% em relação ao segundo trimestre e alta de 1% na comparação com igual período de 2010, a construção civil deu a contribuição positiva ao segmento e foi destacada pelo IBGE como uma das poucas exceções no quadro de desaceleração generalizada. O setor cresceu 0,2% na margem, mas exibiu uma vigorosa alta de 3,8% na comparação com o terceiro trimestre de 2010, ficando atrás apenas da produção e distribuição de energia, gás e água (4%).
Para Rebeca Palis, do IBGE, o setor segue em alta com o crescimento nominal do crédito direcionado, o programa Minha Casa, Minha vida, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as obras para os eventos esportivos, como estádios e obras de transporte urbano. Com isso, o setor ajuda a minimizar a queda dos investimentos, já que é um forte componente da formação bruta de capital fixo. Também ajuda a manter o nível de emprego na economia. A ocupação acumulada na construção até setembro está no mesmo nível de 2010:2,8%.
O Estado de S.Paulo