Número de fabricantes de produtos voltados ao segmento passou de 350 para 428, em cinco anos.
Número de fabricantes de produtos voltados ao segmento passou de 350 para 428, em cinco anos.
Os projetos de renovação da malha ferroviária nacional e a ampliação do uso deste meio de transporte em ambientes urbanos estão dando musculatura à cadeia produtiva da indústria ferroviária no Brasil. Mesmo com o câmbio favorável às importações, nos últimos cinco anos,o número de fornecedores do setor com produção nacional passou de 350 para 428.
São números que acompanham altas consistentes de receita. Em 2007, as vendas das indústria ferroviária brasileira foram de R$ 2 bilhões. Em 2008, alcançaram R$ 2,6 bilhões. Caíram com a crise, no ano seguinte, para R$ 2,1 bilhões. Mas, em 2010, bateram em R$ 3,1 bilhões. Para este ano, as perspectivas da Abifer – Associação Brasileira da Indústria Ferroviária indicam R$ 3,8 bilhões.
A própria associação viu o número de associados crescer rapidamente. Nos últimos dois anos, a lista passou de 28 para 58. “Entendemos que essa década será efetivamente a década do setor ferroviário”, afirma Vicente Abate, presidente da entidade. “Não há como não haver expansão ferroviária, pela necessidade de redução de custos logísticos e de melhora do transporte público”, avalia.
Nos últimos cinco anos, entre as companhias que passaram a integrar a lista de empresas que atendem ao setor, encontram-se nomes pouco conhecidos, como a Caiçara Sistemas de Segurança, fabricante de lavabos, reservatórios de água, portas e janelas de alumínio para a indústria ferroviária; ou a Cauchoflex, de buchas e amortecedores. Mas também companhias como a 3M, que no ano passado montou uma equipe comercial e de marketing especificamente para desenvolver novos negócios na área. “Até há alguns anos, víamos o mercado como estagnado. Com o crescimento recente e os projetos por vir, a área passou a ser estratégica”, diz Marcio Nanuncio, gerente de desenvolvimento de negócios para o mercado ferroviário.
A 3M fabrica uma ampla gama de produtos com aplicação na indústria ferroviária, mas que não são feitos especificamente para ela. A lista vai de discos abrasivos para a construção de estruturas até fitas para marcação e mascaramento em pintura, passando por selantes, isolantes térmicos e acústicos. Neste ano, a meta da empresa é crescer no país acima de 40% na área. As projeções para a companhia como um todo são bem menores, de 10% a 12%, sobre os R$ 2,4 bilhões de 2010.
Há também fabricantes de trens como a espanhola CAF, que já tinha escritório no país, mas inaugurou fábrica em Hortolândia, SP, no ano passado. E a Bom Sinal, fabricante brasileira de VLTs – veículos leves sobre trilhos a diesel, que antes fabricava interiores e mobiliário para ônibus e estádios. É um movimento que tende a ganhar ainda mais corpo, com novos investimentos na ampliação da malha ferroviária do país. O governo estuda revitalizar pelo menos 14 linhas regionais nos próximos anos; há projetos para implantação de VLTs em pelo menos uma dezena de cidades do país; a construção das ferrovias Norte Sul e Oeste Leste está caminhando e existe a promessa do trem-bala, enfraquecida por adiamentos sucessivos da licitação, mas ainda na lista do governo federal.
O cenário positivo tem levado companhias como a GE a falarem na possibilidade de novos investimentos – mesmo após ter dobrado a capacidade de produção, de 60 locomotivas por ano, para 120, de 2010 para 2011. Na semana retrasada, durante visita ao país de seu presidente mundial, Jeff Immelt, a companhia divulgou que estuda novos aportes em sua fábrica de trens, em Contagem, MG.
De forma semelhante, a Caterpillar anunciou neste ano que será a segunda companhia a fabricar locomotivas para o transporte de cargas no Brasil. E a Knorr-Bremse, fabricante de sistemas de frenagem, está construindo uma nova fábrica em Itupeva (SP), com investimento de R$ 80 milhões. Até 2013, na contabilidade da Abifer, os investimentos em expansão da produção na indústria ferroviária somarão ao menos R$ 250 milhões. De 2003 a 2010, foram de cerca de R$ 1,1 bilhão, calcula a entidade.
Há ainda plano de expansão da malha ferroviária urbana de São Paulo, orçado em R$ 27 bilhões
A concretização das projeções vai depender de vontade política e do desempenho da economia não sódo Brasil, mas do mundo, que parece estar entrando em um novo ciclo recessivo. Porém, a julgar pelas projeções oficiais e anúncios das concessionárias, a indústria ferroviária continuará a ver demanda aquecida nos próximos anos.
De acordo com a ANTF – Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários, até o final desta década haverá demanda no país para mais duas mil locomotivas, 40 mil vagões e 1,5 milhão de toneladas de trilhos — da tríade, os trilhos são o único produto não fabricado no país.
Isso equivale dizer que só em locomotivas serão compradas quase duas ALLs, companhia ferroviária e de logística que tem 1.095 locomotivas e 31.650 mil vagões. Ela atua no Brasil e na Argentina e registrou receita bruta de R$ 3,1 bilhões, em 2010. Levando-se em conta que o custo de cada vagão é estimado entre R$ 180 mil e R$ 200 mil, os pedidos deverão somar pelo menos R$ 7,2 bilhões.
Ainda segundo a ANTF, os investimentos das empresas do setor foram ampliados no ano passado em 19,45%, quando comparados com os de 2009, para R$ 2,98 bilhões. Foi um dos maiores aportes em um só ano, desde a privatização da malha ferroviária nacional, em 1997. No período, os investimentos todos somam R$ 24 bilhões.
Do total, só a ALL investiu cerca de R$ 6,7 bilhões, em um plano de expansão orgânico ainda em andamento. Para este ano, estão programados R$ 650 milhões, 40% para manutenção, 60% em equipamentos e obras de ampliação da produtividade em linhas já em operação.
Além desse total, a empresa prevê outro investimento de cerca deR$ 300milhões para a continuidade do projeto de construção da ferrovia entre Alto Araguaia e Rondonópolis (MT).O Projeto Expansão Malha Norte começou em
2009 e acaba em 2012 com investimento total de R$ 700 milhões.
Com execução prevista para os próximos quatro anos, há ainda um montante de R$ 27 bilhões em investimentos do governo do Estado de São Paulo na malha de transporte ferroviário da região metropolitano da capital. No governo anterior, foram R$ 22 bilhões, destinados a abertura de uma nova linha de metrô (Linha 4), a modernização de cerca de 600 carros de passageiros e a compra de mil novos vagões, lembra Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer).
E o setor aguarda ainda para este ano a aprovação dos financiamentos de uma série de projetos de mobilidade nas cidades sede da Copa 2014, que poderão significar novas encomendas de VLTs (bondes modernos).
Uma das principais apostas da ALL para os próximos dois anos será a duplicação do trecho da ferrovia que liga São Paulo a Santos. Orçado em R$1,2 bilhão — dos quais cerca de R$ 600 milhões deverão ir para a construção de vias, R$ 200 milhões para terminais de carga e R$ 400 milhões para a compra de material rodante —, o projeto está em fase de licenciamento ambiental e tem perspectiva de conclusão no final de 2013, diz Carlos Eduardo Baron, gerente de relações com investidores da companhia.
A duplicação permitirá ampliar a capacidade de escoamento de açúcar da ALL, que neste ano espera movimentar 5 milhões de toneladas. “Com um trem descendo e outro subindo ao mesmo tempo, só para a Rumo Logística, controlada indiretamente pela Cosan, a companhia transportará anualmente 9 milhões de toneladas”, diz Baron. O volume representa quase a metade do total que é embarcado da commodity por Santos.
Outro projeto da companhia que deverá receber aportes de cerca de R$ 1 bilhão nos próximos cinco anos é o de expansão da Brado Logística, criada em sociedade com a Standard, para trazer para a ALL cargas em contêineres. A MRS Logística, outra das principais companhias da área, tem planos de expansão semelhantes, com reforço da linha para Santos, ampliação em contêineres e cargas gerais. Mas investiu menos no semestre: R$ 335,8 milhões, de acordo com último balanço, valor que inclui a compra de 12 locomotivas e 148 vagões.
Brasil Econômico