O transporte por fretamento corporativo sofreu drásticas mudanças após a grande reviravolta no modelo de trabalho determinada pelo efeito do isolamento durante a pandemia. De acordo com a diretora executiva Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo (FRESP), Regina Rocha, as empresas passaram por transformações muito rápidas com o trabalho remoto.
Segundo o artigo Internet Access and its Implications for Productivity, Inequality, and Resilience publicado na National Bureau of Economic Research em 2021, o trabalho remoto já dobrava em número a cada 15 anos antes de 2020, mas cresceu o equivalente a 30 anos no período pandêmico.
O estudo How hybrid working from home works out, também publicado pela National Bureau of Economic Research, indicou que as empresas passaram a perder menos funcionários, e os feedbacks de satisfação aumentaram. Além disso, a pesquisa indica que nos Estados Unidos e na Europa existe uma abertura maior ao tipo de trabalho, enquanto empresas da America do Sul ainda o praticam menos, seja por questões culturais, perfil do mercado de trabalho ou carência de infraestrutura.
Considerando o sistema de trabalho híbrido, em que os trabalhadores vão à empresa apenas alguns dias da semana, as exigências para o fretamento têm se tornado cada vez mais tecnológicas. “Nunca tínhamos trabalhado nesse sistema híbrido e isso tem demandado das nossas empresas mais rapidez no sentido da tecnologia, de alcançar soluções que possam permitir essa escala nova de trabalho”, comenta a executiva.
Mudança na contratação do serviço
Antes, a contratação do serviço era realizada de maneira fixa, de segunda a sexta-feira o mesmo número de pessoas embarcava diariamente no mesmo horário para o transporte. Assim, a empresa demandava um número certo de motoristas e veículos, que era previsto em contrato, para transportar os trabalhadores. Porém, atualmente, muitas companhias estão deixando à escolha dos funcionários os dias para o trabalho presencial.
Isso tudo torna o trabalho das empresas de transporte por fretamento mais difícil. “Há uma tentativa do cliente de unir esse retorno híbrido com o nosso serviço, mas para nós fica muito difícil porque a partir do momento que você fecha um serviço está disponibilizando uma frota e um profissional para fazer aquele serviço, então não tem como você falar que o ônibus vai trabalhar segunda e sexta, ou terça e quinta, porque nosso custo fixo é muito grande”, explica Marco Antonio Rocha, diretor da AS Service.
Soluções
Mas o cliente não fica sem atendimento, ainda mais quando parte das empresas passaram por um período de queda brutal na demanda com a chegada da necessidade do isolamento. O diretor da AS conta que alguns dos clientes da empresa voltaram com o modelo híbrido, deixando à escolha do funcionário os dias que ele fará o presencial. A empresa de fretamento disponibiliza os veículos para três dias da semana, por exemplo, que já são pré determinados.
Por meio de uma lista de reserva de assentos online, os trabalhadores passageiros e a empresa conseguem visualizar a lotação do veículo. Desse modo, caso o veículo já esteja lotado em determinado dia, o colaborador que não conseguiu reservar um lugar terá que escolher um outro dia para sua ida à empresa.
De acordo com a diretora da FRESP, esse movimento tem sido comum para as empresas atualmente, embora não seja fácil ajustar todas essas particularidades. Mesmo com o retorno de parte da demanda perdida na pandemia, ainda há impactos para o setor. “O que impacta para nós é que, se você reduz a quantidade de dias, obviamente reduz o faturamento das empresas e eles precisam fazer uma logística melhor e até um aproveitamento melhor de frota”.
Pandemia
Segundo Regina, o setor teve duas vertentes durante a pandemia: empresas que atuavam para serviços essenciais, tendo, em alguns casos, aumento na demanda; e empresas que prestavam serviço para setores mais administrativos, que encararam o home office logo no início.
No caso da AS Service, que está entre as empresas que prestavam serviço para setores administrativos em grande parte, a queda no faturamento foi de quase 50%. “Perdemos os nossos maiores clientes daquele momento, que praticamente pararam 100% das atividades. E agora, aos poucos, eles estão retomando”, explica o diretor da empresa.
Movimento de retomada
Com o retorno parcial do modo presencial, a adoção do trabalho híbrido vem trazendo, aos poucos, a demanda perdida para essas empresas de transporte. Ainda assim, não há previsão de que a demanda do passado seja recuperada. De acordo com Marco Antonio, com a retomada a atual, um cliente que antes exigia 10 veículos disponíveis para fretamento, hoje necessita de apenas quatro.
O diretor da empresa acredita que as empresas que aderiram ao trabalho remoto em 100% tendem a retornar parcialmente. Para ele, existe uma perda de produtividade no modelo, parte do convívio e situações benéficas de trabalho, como resolver um problema rapidamente, são perdidas com a distância física entre uma equipe.
Mesmo assim, estudos indicam o contrário. De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), o novo modelo demonstrou níveis de bem-estar e satisfação elevados, em comparação aos trabalhadores que seguem no modelo presencial. Além da economia de tempo e dinheiro com deslocamentos.
De todo modo, Regina Rocha comenta que o mercado melhorou depois do período de crise. Clientes novos chegam, antigos clientes retornaram e as empresas seguem em adaptação para entregar às exigências e particularidades do movimento que virou tendência mundial após um grave período de crise.
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