Com 19 anos de atuação e um faturamento anual na casa dos R$ 800 milhões, a Macroex, trading capixaba de importação e logística, está estruturando um ambicioso departamento dedicado ao setor metroferroviário. A aposta, que inclui a representação exclusiva de equipamentos como o rebocador Rail King e a manutenção de estoques estratégicos no Brasil, visa capturar uma fatia de um mercado em aquecimento, projetando um faturamento que pode girar em torno de R$ 100 milhões neste segmento dentro de três anos.
A iniciativa é liderada por Veltan Martinelli, líder de Vendas da Macroex, com 39 anos de experiência em uma operadora ferroviária, que se juntou à empresa após um contato em uma feira na Alemanha, em setembro de 2024. “Houve uma sinergia dentro dessa parte técnica – do meu conhecimento – junto com a necessidade comercial“, explica Martinelli. “O projeto da Macroex é diferenciado no seguinte sentido, pois além de ter um contato mais sólido com o fabricante, a gente também entende a linguagem do setor ferroviário para fazer essa integração“, complementa.
O principal diferencial apontado pela empresa vai além do modelo one-stop-shop (solução completa) – que oferece ao cliente uma única fonte para diversos produtos – e reside na profundidade do suporte técnico. A macroestratégia é atuar como um elo robusto na cadeia de suprimentos, traduzindo necessidades complexas dos clientes para os fabricantes e vice-versa.
“Entendemos a linguagem do setor ferroviário, bem como as suas necessidades de forma técnica. Por isso, podemos estabelecer um diálogo claro e objetivo com o fabricante. Este conhecimento se reflete em tempo reduzido nas discussões técnicas. O objetivo fica mais cristalino para o fornecedor. Tais características tornam a nossa atuação mais assertiva, garantindo a satisfação do cliente“, destaca Martinelli.
O executivo enfatiza que a relação proposta não é puramente comercial, mas sim de parceria de longo prazo. “A nossa preocupação teve o início e tem uma continuidade de atividades a serem desenvolvidas. Após a venda, inicia-se outra fase do nosso compromisso com o pós-vendas.”
Estoque próprio
Um dos maiores gargalos do setor atualmente, o extenso prazo de fornecimento – que pode variar de 120 a 180 dias – é um dos focos da estratégia da Macroex. Para mitigar esse risco e oferecer agilidade, a empresa utilizará a estrutura de sua controlada, a Átmos Logística, localizada em Vitória (ES), para manter um estoque de segurança de itens críticos no Brasil.
“O prazo de entrega hoje está muito alto. Para uma empresa que precisa de um produto com entrega imediata, esse deadline elevado é um problema“, analisa Martinelli. “Nós identificamos os itens mais demandados pelo mercado para mantê-los em estoque para que possamos revendê-lo de pronto ao cliente. Conseguimos um custo significativamente menor para aquele produto, tornando vantajoso aos nossos consumidores“, complementa.
Entre os itens já elencados para esse estoque estratégico estão componentes eletrônicos, materiais para sistemas de ar-condicionado e insumos para via permanente. A empresa já possui uma área dedicada para produtos industrializados chineses.
Oportunidades de mercado
O portfólio inicial da Macroex para o setor inclui rodas e eixos ferroviários (da Railteco), componentes de frenagem e suspensão (Wabtec), máquinas para oficinas (NHS Group), peças para carros ferroviários (Rubena) e o carro-chefe, o rebocador Rail King, do qual é representante exclusiva no Brasil.
“O rebocador ferroviário é uma máquina vantajosa, pois o custo de investimento é menor do que uma locomotiva, assim como por sua facilidade e versatilidade operacional“, explica Veltan Martinelli. “Ele trabalha no sistema rodoviário, no pátio de manobra e também de forma segura no reboque na linha férrea. Isso é um diferencial importante.”
As oportunidades de mercado são vistas nas grandes obras em andamento e projetadas, com investimentos que podem chegar a R$ 530 bilhões durante os períodos de concessão da malha ferroviária, a partir de 2026, segundo o governo federal. “Hoje a gente vê as grandes obras que estão acontecendo no Nordeste, no setor de transporte de grãos. Estamos trabalhando para nos aproximar e atender essas demandas de materiais ferroviários dessas obras“, comenta o executivo. A abordagem inicial prioriza o transporte de passageiros, dada a “facilidade de acesso e contato“, mas o segmento de carga, com operadoras como MRS e Transnordestina, também já está sendo prospectado.
Sustentabilidade e Investimentos
A questão da sustentabilidade, embora ainda em estruturação no processo de due diligence (investigação detalhada) de fornecedores, já é uma bandeira. O rebocador Rail King é citado como exemplo, por utilizar motores com menores emissões de poluentes e um consumo de combustível significativamente inferior ao de uma locomotiva tradicional. “Ele utiliza 10% do que se utiliza uma locomotiva para se iniciar um movimento. É uma economia de combustível significativa e que impacta positivamente na redução da emissão de poluentes“, afirma Martinelli.
O investimento inicial para a estruturação do segmento é de capital próprio, estimado em cerca de R$ 500 mil, focando principalmente em recrutamento de talentos, viagens, participação em feiras e congressos para construção de relacionamento com fornecedores e clientes. A meta é que, em um horizonte de três anos, o negócio ferroviário represente 10% do faturamento total do grupo, que projeta chegar a R$ 1 bilhão, equivalendo a R$ 100 milhões em vendas para o setor.
Com essa investida, a Macroex busca se consolidar não como mais um importador, mas como um parceiro técnico e logístico em um mercado dinâmico e cheio de desafios, apostando na expertise e na capacidade de estocagem local como seus principais trunfos.