Inovação na logística da celulose no foco da Suzano

A movimentação de celulose tem impulsionado investimentos por soluções de transporte com melhor eficiência energética em suas operações

Caetano Paste Perim, consultor de Logística e Planejamento Comercial da Suzano

Conhecida por seus negócios nas áreas de papel e celulose, a Suzano também ocupa posição de destaque no meio logístico ao investir em tecnologias de ponta e projetos pilotos que apontam para o futuro do transporte de cargas. Entre os exemplos, a empresa testa um caminhão autônomo no Porto de Portocel, em Aracruz (ES), além de ter iniciado a operação com um caminhão elétrico com capacidade máxima de tração (CMT) de até 120 toneladas.

Para compreender o poder de inovação logística da fabricante, a Frota&Cia conversou com Caetano Paste Perim, consultor de Logística e Planejamento Comercial da Suzano, que revela os segredos da operação nesta entrevista.

Frota&Cia – Como surgiu o projeto de retrofit para eletrificar um Mercedes-Benz Axor 3344 a combustão?

Caetano Perim – A gente tem alguns compromissos públicos e um deles está relacionado a descarbonização de nossas operações, o que passa, obrigatoriamente, pela atividade logística. Temos procurado diversas alternativas ou projetos que possam apoiar o cumprimento das metas relacionadas a emissões de CO2 no transporte da nossa principal carga, que é a celulose. O movimento de transição energética é consistente e será um caminho sem volta. Todavia, a maior parte das empresas não sabe exatamente qual será o combustível do futuro e, talvez por isso, existam tantas possibilidades que poderão coexistir.

Caetano Paste Perim, consultor de Logística e Planejamento Comercial da Suzano
Caetano Paste Perim, consultor de Logística e Planejamento Comercial da Suzano.

Em 2022, nos reunimos com o nosso parceiro, que é a Vix Logística, uma empresa do Grupo Águia Branca, para tratar de outro projeto e, com a reunião finalizada, continuamos o bate-papo e foi onde surgiu o assunto da descarbonização. Começamos a falar sobre caminhões, que são os veículos que a gente precisa nas operações de logística de celulose. Neste momento, eles contaram que havia um projeto em andamento de retrofit de um veículo para transformá-lo em elétrico, já que o mercado não poderia oferecer uma solução original com este perfil, nesse nível de capacidade de transporte.

As necessidades se encontraram, a da Suzano em poder operar de forma sustentável com a da Vix em poder tirar este projeto do papel e colocá-lo para rodar dentro de uma atividade consistente, como a nossa. Era uma excelente oportunidade de ganha-ganha para as duas partes.

Frota&Cia – O que se espera dessa operação?

Caetano Perim – O “Atlas“, que é este caminhão eletrificado, opera no transporte de celulose no trecho de 4,3 km entre a Unidade Aracruz da Suzano e Portocel. Há potencial para reduzir em até 20% a emissão de poluentes neste trajeto. Equipado com baterias de lítio-fosfato de ferro (LFP), o veículo pode economizar até 8.300 litros de diesel por mês e evitar a emissão de cerca de 21 toneladas de CO2.

O Atlas é um Mercedes-Benz Axor 3344
O Atlas opera em trecho inferior a 5km entre a fábrica de Aracruz e o Portocel.

Estamos operando com ele em período reduzido de tempo, dentro do horário administrativo, justamente para termos a oportunidade de estar presente diante de quaisquer necessidades. Neste cenário, ele faz o mesmo ciclo do caminhão a combustão. Isso nos permite poder recarregar suas baterias a cada seis horas, mais ou menos. A Vix está estudando as métricas da operação e ajustando os parâmetros para que o Atlas consiga ter uma autonomia maior no futuro.

Frota&Cia – Há pretensão de expandir o uso de elétricos?

Caetano Perim – Faz parte do nosso plano essa transição energética total. Mas, a gente ainda não sabe quando, porque dependemos dos resultados desse projeto. Pretendemos testá-lo em rotas mais longas, o que aumenta a complexidade dos testes. Por enquanto, falamos em expansão dos estudos, apenas.

Frota&Cia – A Suzano possui outros projetos voltados para a transição energética?

Caetano Perim – Temos projetos amparados no conceito de inovação. Estamos testando aditivos de combustível, como a ingestão de hidrogênio. O objetivo é sempre melhorar a eficiência do equipamento mirando a sustentabilidade da operação. Também estamos avaliando um dispositivo eletrônico que regula os picos de injeção de combustível, o que corrigiria, por exemplo, o comportamento de motoristas que pisam no acelerador sem soltar a embreagem, que injeta muito mais diesel. É uma tecnologia que evita o desperdício.

O Atlas é um Mercedes-Benz Axor 3344
O Atlas é um Mercedes-Benz Axor 3344

Temos, ainda, estudos voltados para hidrogênio, metanol, biometano e etanol como combustíveis para a frota que opera para a Suzano. Não podemos restringir pesquisas e desenvolvimentos neste sentido, pois ainda não há produtos de prateleira suficientes no mercado de pesados.

Outro objetivo é aumentar o volume transportado por unidade de carga dentro das possibilidades das legislações que tratam do assunto. Novas possibilidades de composições (caminhão/implemento) reduziriam a quantidade de emissão por tonelada movimentada. Estamos encarando isso como inovação e como uma oportunidade muito boa dentro da Suzano. Temos pensado nisso para todos os modais em que atuamos, tanto no rodoviário, quanto ferroviário e também no marítimo.

Frota&Cia – Como a Suzano avalia a automação do transporte?

Caetano Perim – Um estudo da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos, afirma que a automação da mobilidade tem potencial para reduzir em até 17% o consumo de diesel, justamente por ser capaz de conduzir perfeitamente o veículo e sem os riscos de distração e fadiga de um motorista humano, que interferem na performance do caminhão.

Atualmente, temos um veículo autônomo sendo testado em Portocel, aqui em Aracruz. Também contamos com uma unidade em testes no Porto do Itaqui (Itacel), no Maranhão. O parceiro para este projeto é a Lume Robotics, uma start up capixaba que surgiu dentro da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Para esta operação em Portocel, utiliza-se um caminhão Mercedes-Benz Axor com nível 4 de automação para a movimentação de fardos de celulose para o despacho internacional da carga. A tecnologia tem um nível de sensibilidade tão alto que é capaz de identificar qualquer obstáculo, como um pássaro, para preservar a segurança de todo o ambiente de operação.

Frota&Cia – Qual é o tamanho da frota que atua para a Suzano?

Caetano Perim – Considerando os nossos fornecedores do serviço de transporte, exclusivamente para celulose, operamos com cerca de 350 carretas e em torno de 1.600 vagões ferroviários, além de 220 viagens em navios de armadores marítimos parceiros por ano, sendo que 10 desses navios são dedicados e só trabalham para Suzano.

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