A explosão do e-commerce não apenas aumentou o volume de entregas, mas também redefiniu radicalmente os riscos que as empresas de transporte e logística precisam gerenciar. Hoje, o gerenciamento de risco vai muito além de prevenir roubo de carga; é um ecossistema complexo que engloba desde a manutenção preditiva da frota até a satisfação final do cliente que espera receber seu pedido em horas.
De acordo com Denis Caravelho, regional sales manager de Zebra no Brasil, o cerne da gestão de riscos moderna é permitir a tomada de decisão rápida e baseada em dados. “É mitigar perigos, evitar acidentes, garantir que falhas de infraestrutura não comprometam a entrega e, acima de tudo, reduzir prejuízos”, explica.
Os Novos Riscos: Velocidade, ESG e a Last Mile
O maior catalisador de mudança tem sido a expectativa do consumidor por entregas ultra rápidas. “O e-commerce briga por horas. Em algumas regiões, a entrega é em até duas horas. Isso gera uma pressão operacional imensa“, comenta Denis.
Esse cenário expõe as empresas a novos tipos de risco. Entre elas estão as entregas incorretas ou atrasadas, comprometendo a eficiência operacional e a reputação da marca; restrições urbanas, já que algumas leis municipais limitam o acesso de veículos grandes a centros urbanos, então exigem um planejamento de rotas extremamente inteligente e dinâmico.
Além da Sustentabilidade: há uma expectativa crescente por políticas de sustentabilidade, que vão além da adoção de veículos elétricos e passam pela otimização total do consumo de combustível e da operação.
O segmento de última milha é o que sofre mais pressão. “É uma briga acirrada com empresas novas que nasceram digitalmente, sem legado, e portanto, mais ágeis e eficientes. As empresas tradicionais precisam se reinventar para competir”, analisa o executivo.
O Maior Desafio Não é Tecnológico: É Humano
Um dado alarmante norteia o setor: existe um déficit de aproximadamente 45 mil motoristas no Brasil. “As novas gerações não veem esse trabalho como uma carreira de longo prazo. Há uma rotatividade alta, o que significa que as empresas precisam treinar pessoas novas constantemente e com muita agilidade”, destaca Denis.
É aqui que a tecnologia se torna uma aliada crucial não só da eficiência, mas da capacitação. A Inteligência Artificial (IA), por exemplo, não tem como objetivo substituir o trabalhador, mas empoderá-lo. “Dispositivos móveis robustos (celulares potentes e tablets) podem permitir que um motorista menos experiente interaja de forma natural com o sistema, faça perguntas e receba orientações em tempo real para executar seu trabalho da melhor forma possível”, explica.
Tendências Tecnológicas para o Futuro
Denis aponta três pilares tecnológicos que serão determinantes para a gestão de risco nos próximos anos. Primeiro as frotas hiperconectadas: A conectividade em tempo real é a base para tudo. Ela permite roteirização dinâmica, monitoramento preciso da carga e do veículo e comunicação instantânea.
Em sequência, os Sensores de IoT (Internet das Coisas) que vão além dos veículos. “A ideia é integrar dados de sensores espalhados em rodovias inteligentes e centros urbanos para antecipar problemas e otimizar rotas.”
E por último, Inteligência Artificial e Análise Preditiva: A IA cruzará dados do motorista, do veículo, da rota, do tráfego e do histórico de entregas para prever falhas, sugerir ações preventivas e evitar riscos antes que eles aconteçam.
Uma Jornada em Andamento
Apesar dos benefícios evidentes, uma grande parcela das empresas ainda não adotou essas práticas modernas de gestão de risco. O caminho, segundo Denis, é a educação. “Os tomadores de decisão precisam entender que o custo da tecnologia é um investimento com retorno garantido em eficiência e redução de prejuízos. Eles devem buscar ajuda de consultores especializados e estar abertos a repensar seus modelos de operação.”
O executivo é realista: a América Latina ainda está em uma jornada de maturidade tecnológica. “Muitas empresas tiveram que investir rápido demais para acompanhar o crescimento do e-commerce e talvez não tenham tido tempo para integrar todos os sistemas da melhor forma. Mas o caminho já começou. Quanto antes investirem em tecnologia preparada para o futuro, mais rápido terão retorno e estarão preparadas para a próxima onda de crescimento.”
A mensagem final é clara: em um setor onde a margem de erro é cada vez menor, investir em uma frota conectada e inteligente não é mais um diferencial, mas uma questão de sobrevivência no mercado de transporte e logística.