Fiat encerra negociações de fusão com a Renault

A montadora ítalo-americana Fiat retirou a oferta de fusão com a Renault na noite desta quarta (5). A fusão resultaria na terceira maior montadora do mundo

A montadora ítalo-americana Fiat Chrysler retirou a oferta de fusão com a Renault na noite desta quarta (5). Com isso, se encerra um longo período de negociação entre as montadoras. A desistência ocorre depois de o governo da França, acionista da Renault, pedir o adiamento de um voto sobre a operação no conselho de administração da firma francesa.

A possível fusão das empresas criaria a terceira maior empresa mundial do setor, avaliada em US$ 35 bilhões. Não foi a primeira vez que a definição do negócio foi adiada. A decisão sobre a junção de forças já havia sido postergada na terça, quando os administradores da Renault se reuniram pela primeira vez para avaliar a proposta da FIAT.

Apesar da transição ter fracassado a FIAT se posicionou reconhecendo o interesse na fusão. Em nota, a FIAT diz que “se mantém firmemente convencida” do interesse da oferta à Renault. Entretanto, afirmou que “as condições políticas não existem atualmente na França para levar adiante” o negócio.

Confira: Fusões entre montadoras e setor de autopeças

Interferência Japonesa

Segundo o Wall Street Journal, o obstáculo nas últimas horas vinha sendo a Nissan, que tem uma aliança de duas décadas com os franceses para intercâmbio de tecnologia e componentes. Além de deter 15% das ações da companhia, que, no sentido inverso, controla 43% do negócio japonês.

De acordo com a publicação americana, os dois representantes da firma asiática no conselho da Renault, sinalizaram que se absteriam da votação. Dessa forma, colocando em dúvida o interesse da Nissan em manter a parceria caso o acordo com a FIAT fosse concretizado.

A manutenção da parceria com a Nissan sempre foi uma prioridade para a Renault. Desde que a oferta veio a público, em 27 de maio, o governo francês insistia, entre outros pontos, na importância de a fusão não afetar seu elo com a aliada japonesa.

Entretanto, os posicionamentos da montadora japonesa representava cada vez mais incertezas na continuidade da relação. Na última segunda (3), o diretor-executivo da Nissan, Hiroto Saikawa, disse que a possível entrada da FIAT no consórcio “demandaria uma revisão profunda da relação atual” entre Paris e Yokohama.

Ao mesmo tempo, os franceses indicavam hesitação sobre o fechamento do acordo. Na quarta, o ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, afirmou a um canal de TV que era preciso dar tempo “para garantir que as coisas sejam [fossem] bem feitas”.

Competitividade de mercado

À primeira vista, a FIAT é vista como concorrente direta dos japoneses em várias frentes. Especialmente no mercado norte-americano. Assim, a montadora ítalo-americana representa maior competitividade aos japoneses do que uma dona de uma carteira de produtos e tecnologias potencialmente complementares à operação da empresa asiática.

Outro motivo de desconfiança seria a dificuldade da FIAT de ingressar no front asiático. Além de avançar no desenvolvimento de veículos elétricos e autônomos, área em que a Nissan é bastante forte. A manutenção dessa fatia do mercado e a garantia de crescimento é prioridade para os asiáticos.

Parceria Renault/Nissan vive momento conturbado

A aliança Renault-Nissan vive um período de estremecimento desde a prisão, em novembro de 2018, do ex-presidente e ex-diretor-executivo de ambas. O franco-brasileiro Carlos Ghosn, foi preso sob a acusação de não declarar parte de seu salário no comando da firma japonesa.

Posteriormente, ele teve de responder sobre a suposta transferência, para os cofres da Nissan, de perdas com investimentos pessoais. Atualmente, Ghosn aguarda seu julgamento no Japão. Apesar de ter sido solto no fim de abril, o executivo encontra-se impossibilitado de sair do país.

Outro episódio suspeito nas movimentações financeiras de Ghosn veio à tona recentemente. Na terça (4), soube-se que uma auditoria realizada na joint venture da aliança, sediada na Holanda, identificou gastos não justificados da ordem de US$ 11 milhões atribuídos a Ghosn.

As despesas incluem viagens particulares em aviões da empresa, a compra de um relógio de uma grife de luxo. Além de idas ao Festival de Cannes, luxuoso balneário da Côte d’Azur. Segundo o conselho da Renault, o executivo deverá responder na Justiça holandesa.

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