Especialista admite que a redução do arrasto aerodinâmico não vista como essencial pelo mercado de transporte, por priorizar a capacidade de carga em lugar da eficiência energética
A busca pela melhoria da eficiência aerodinâmica nos veículos comerciais não se restringe aos caminhões, ônibus ou utilitários fabricados no país. Aos poucos, a preocupação começa a envolver também os implementos rodoviários, especialmente diante das demandas por redução no consumo de combustível e emissões de CO², alinhadas às metas de sustentabilidade. Atualmente, os esforços estão mais concentrados nos implementos de maior volume de carga, como furgões de alumínio, baús lonados e frigorificados, onde a altura da caixa de carga em relação à cabine do caminhão gera maior arrasto aerodinâmico.
“Diferente de que ocorre na indústria automobilística ou no transporte internacional de longa distância, a busca pela eficiência aerodinâmica deixa um pouco a desejar, no caso dos implementos. Fatores como capacidade de carga, robustez e custo por tonelada transportada ainda têm maior peso nas decisões de projeto”, afirma Fábio Tronca, gerente de Estratégia de Mercado e Suporte ao Cliente da Librelato.
O executivo reforça que existem segmentos específicos, como o florestal, que aplicam soluções únicas para diminuir o arrasto, como uso de grades ou quadros articulados nos painéis traseiros e dianteiros. “Mas, no geral, é fato que a eficiência aerodinâmica ainda não está no centro das prioridades para a indústria de implementos rodoviários no Brasil”, reafirma o gerente.
Obstáculos no caminho
Tronca admite que não é falta de querer, já que o transportador irá sempre buscar o máximo de economia e produtividade, seja onde for. Porém, a adoção mais ampla de soluções aerodinâmicas em implementos rodoviários enfrenta alguns obstáculos diretos. O primeiro é o foco na capacidade de carga, já que a indústria vai priorizar o aproveitamento máximo deste limite, seja em peso ou comprimento, necessitando de implementos maiores e mais robustos. “Essa abordagem muitas vezes conflita com soluções aerodinâmicas, que podem demandar alterações no design ou agregar componentes que impactam volume e peso”.
O segundo fator citado por Fábio é o perfil operacional no Brasil. “A maioria dos implementos circulam em velocidades médias e em condições variadas de relevo e pavimento. Isso limita os benefícios práticos de soluções aerodinâmicas mais complexas, que tendem a ser mais eficazes em trajetos longos, planos e com velocidade constante”
Acrescente a isso tudo o custo de eventuais melhorias sobre o produto final, que muitas vezes inviabiliza sua adoção especialmente para pequenos e médios frotistas. “Dispositivos como carenagens, defletores e coberturas podem elevar o custo inicial do implemento e aumentar a necessidade de manutenção, o que reduz sua atratividade em operações com margens financeiras apertadas”, resume Tronca.
Soluções atrativas
Mesmo diante desse cenário, o representante da Librelato admite que já existem soluções aerodinâmicas conhecidas no exterior que começam a despertar o interesse no mercado brasileiro. Principalmente para operações de longa distância com foco em eficiência energética. Entre elas, as carenagens laterais retráteis ou fixas nos semirreboques, que reduzem a turbulência sob o implemento. “Cito também os defletores traseiros, as carenagens frontais integradas entre o cavalo e o semirreboque e as soluções modulares e rebatíveis em geral”.