Carretas da MAT Equipamentos para Gases viabilizam transporte nas áreas sem gasodutos

Fabricante usa tecnologia nacional para liderar o mercado de implementos rodoviários para a movimentação de gases, substituindo importações

Por Gustavo Queiroz

- outubro 23, 2025

Ramon Leite, líder de Negócios GNC/Biometano da MAT Equipamentos para Gases | Foto: Divulgação

A robustez do desenvolvimento e os crescentes investimentos na indústria do biometano têm impulsionado a MAT Equipamentos para Gases, maior produtora de cilindros de armazenamento para gases de alta pressão da América Latina, a expandir estrategicamente seu portfólio. A empresa, que por décadas foi referência na fabricação de cilindros, diversificou sua atuação a partir de 2017 para a produção de carretas de transporte e módulos de armazenamento estacionário (estocagens), posicionando-se como uma fornecedora integral para a cadeia de gás natural veicular (GNV) e biometano.

A trajetória dessa transição começou com um case específico, conforme detalha Ramon Leite, líder de Negócios GNC/Biometano da MAT. “A Mat, como fornecedora e fabricante de cilindros, vendia para empresas que montavam seus próprios equipamentos de transporte. Esses clientes criaram unidades fabris pequenas para fabricar carretas para seu próprio uso, comprando apenas os cilindros de nós. Percebemos que isso custava muito dinheiro para eles, com despesas de engenharia e projeto, algo que não era o negócio principal deles“, relata. A solução foi uma proposta ousada: inverter a lógica. “Nós propusemos ao próprio cliente invertermos e, ao invés de vender apenas o cilindro, vendemos a carreta completa. Ele deixaria de se preocupar com esses custos altos de engenharia e produção, e nós utilizaríamos nossa estrutura industrial“, explica o executivo. Essa mudança, iniciada em 2017 com um projeto pioneiro, marcou o nascimento da divisão de equipamentos de transporte da companhia.

A MAT comercializa quatro modelos de implementos rodoviários
A MAT comercializa quatro modelos de implementos rodoviários | Foto: Divulgação

A decisão estratégica mostrou-se acertada. “Cerca de 60 a 70% do custo da carreta é o cilindro. A competitividade do fabricante de cilindro para agregar valor num produto como esse é maior“, analisa Leite. O sucesso foi tal que a empresa, que antes exportava apenas cilindros para países como Peru, México e Argentina, passou a exportar carretas completas. “Estamos num processo de exportação de carretas para o Peru, já exportamos para o Egito – as primeiras carretas de transporte de gás do Egito são nossas – e também para o México“, relata.

O mercado brasileiro para esses equipamentos é caracterizado como “não maduro” e “sazonal”, podendo variar de 20 a 80 unidades por ano. Para 2025, a MAT planeja fabricar entre 30 e 40 carretas. No entanto, a perspectiva é de forte expansão. “A gente visualiza um crescimento por conta dos projetos de geração de biometano no interior, onde o gasoduto não chega. Entre 2026 e 2029, projetamos quatro anos de crescimento e maior consolidação, onde a produção do biometano e a distribuição do gás natural devem praticamente dobrar no Brasil, demandando um crescimento em infraestrutura“, projeta o executivo.

Fábrica da MAT Equipamentos para Gases
Fábrica da MAT Equipamentos para Gases em Jundiaí (SP) | Foto: Divulgação

Para atender a essa demanda, a MAT padronizou sua linha em quatro modelos de carretas, desenvolvidos com base nas legislações de carga e nos tamanhos de contêineres (20 e 40 pés). A esmagadora maioria das vendas, entre 85% e 90%, concentra-se no modelo de maior capacidade. “A maior preocupação do cliente é a capacidade de armazenamento/transporte. Quanto maior, mais ganho ele tem na logística. A nossa busca constante é por um equipamento robusto para operar nas rodovias, muitas vezes remotas, e que carregue o máximo de gás possível“, destaca Leite. Essa busca pela eficiência peso-volume levou a empresa a um intenso trabalho de engenharia nos últimos dois anos, explorando materiais mais leves sem abrir mão da robustez. “Chegamos a um teto máximo com a tecnologia atual de cilindros de aço. Para avançar além, teríamos que pensar em outros materiais e tecnologias“, pondera.

A robustez é uma premissa inegociável. “É um equipamento feito para durar 30 anos ou mais e para operar em rodovias, onde acidentes acontecem. A ideia é ter um equipamento de alta robustez“, enfatiza. Todo o desenvolvimento segue rigorosas normativas internacionais e certificações locais, incluindo testes severos como os de enchimento, fogo, balística e queda, exigidos para a homologação dos cilindros de alta pressão.

Carreta de 40 pés com capacidade para até 144 cilindros
Semirreboquede 40 pés com capacidade para até 144 cilindros | Foto: Divulgação

A MAT não fabrica as bases rodantes, adquirindo-as de fornecedores nacionais consagrados, como Facchini e Randon. “O Brasil não precisa importar base rodante; o mercado é muito bem desenvolvido, com know-how da legislação, facilidade de financiamento e capacidade produtiva“, avalia Leite. O trabalho de engenharia da empresa foca na integração dos cilindros – que utilizam tubo de aço cromo-molibdênio (possui maior resistência em alta temperatura e à corrosão por hidrogênio) sem costura – e dos sistemas de alta pressão à carroceria.

Um caso emblemático citado por Ramon Leite ilustra a capacidade de resposta da empresa. Um grande produtor e transportador de biometano no Rio de Janeiro, diante de um projeto de expansão que demandava 24 carretas em curto prazo, considerou a importação para mitigar riscos. “Fizemos um trabalho de força-tarefa, implementação de processo industrial para dar agilidade. Conseguimos trazer 100% do negócio para a MAT, garantindo preço competitivo, prazo e a segurança do cliente de comprar um equipamento nacional, com suporte técnico e manutenção local“, relembra. A agilidade da MAT se estende a situações críticas. “Já houve caso de carretas tombarem na estrada. Recolhemos a carreta e a colocamos rodando em 30 dias novamente. Temos essa capacidade“.

Financiamento

Diante do potencial de crescimento, a estratégia da MAT vai além da capacidade produtiva, já considerada adequada para suprir o mercado. Um pilar central é a facilitação do financiamento para os clientes. “O mercado brasileiro carece de fontes de financiamento para facilitar novos projetos. O produto fabricado pela MAT tem o benefício do financiamento do BNDES via FINAME, com taxas inferiores às do mercado, prazos longos e carência“, explica Leite. Para investimentos da ordem de R$ 25 a 30 milhões, como o caso das 24 carretas, esse suporte é decisivo. “Os novos projetos acabam atrasando por conta dessa debilidade. Trazer soluções de financiamento é um ponto estratégico que fará a diferença“, afirma.

Caminhões a gás no transporte de cilindros de gás
Caminhões a gás (de cliente) no transporte de cilindros de gás | Foto: Divulgação

Veículos a gás

Quanto ao futuro dos combustíveis, Ramon Leite vê um mercado imediato e real nos veículos pesados 100% a gás (GNV ou biometano). “Scania, Iveco, MWM, Volkswagen… todas possuem produtos sendo comercializados. É um mercado em crescimento para ônibus e cavalos mecânicos, com a indústria bastante sedenta. O biometano é a mola propulsora maior“. Sobre o hidrogênio e as células a combustível, ele é otimista mas pragmático: “É um mercado real para armazenamento de alta pressão, mas o Brasil ainda está distante. Vamos ver isso em outras partes do mundo primeiro. A tendência atual e de curto prazo aqui é o veículo pesado a gás natural e biometano, impulsionado por políticas públicas e a busca por combustíveis limpos“.

Carretas

São quatro medidas de implementos produzidos para o transporte GNC/Biometano. O primeiro pode transportar 84 cilindros em um espaço de 13.440 litros e 3.864 m3 com 20 pés. Com 40 pés, a segunda opção pode carregar 160 cilindros em 25.600 L e 7.360 m3. A terceira possibilidade, de 40 pés, contempla três eixos distanciados, 144 cilindros, 23.040 L e 6.624 m3. O maior semirreboque, também de 40 pés, conta com quatro eixos, capacidade para levar 172 cilindros em 27.520 L e 7.912 m3.

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