Direção autônoma pode chegar aos implementos rodoviários

Depois de alcançar os autos de passeio e os veículos comerciais, a direção autônoma pode chegar aos implementos rodoviários, aposta o CEO da Lume Robotics

Por Victor Fagarassi

- julho 31, 2025

Plataforma autônoma opera em porto chinês

A indústria automotiva ganhou um notável impulso nos últimos anos com a chegada dos veículos autônomos, capazes de operar sem a ajuda dos motoristas. Ainda que a tecnologia continue em pleno desenvolvimento, a novidade já movimenta automóveis, veículos industriais, ônibus e caminhões em parte do mundo, incluindo o Brasil. E pode alcançar, até, os implementos rodoviários.

Em inúmeras fábricas ou centros de distribuição do país já é possível encontrar AGVs (Veículos Guiados Automaticamente, em tradução livre) circulando pelas linhas de produção ou corredores. Da mesma que nas lavouras ou na mineração, os primeiros caminhões autônomos fazem o trabalho pesado em ambientes controlados. Ou então na indústria, caso da Ypê, onde caminhões da Mercedes-Benz equipados com tecnologia da Lume Robotics, realizam tarefas como o transporte de materiais entre a linha de produção e o almoxarifado, por meio de sistemas de inteligência artificial, além de câmaras e sensores.

Rânik Guidolini, CEO
Rânik Guidolini, CEO e fundador da Lume Robotics

“Os AGVs utilizam tecnologias mais simples que seguem faixas pintadas no chão ou cabos indutivos e funcionam em operações confinadas, onde não há circulação de pessoas. Já os veículos autônomos conseguem replicar todas as funcionalidades de um motorista humano, reagindo a situações de trânsito, identificando pessoas e semáforos, por exemplo. Assim, eles podem operar em ambientes abertos e mais complexos”, explica Rânik Guidolini, CEO e fundador da Lume Robotics. Criada em 2019, a startup hoje oferece um sistema robótico de direção autônoma, que vai muito além da capacidade dos AGVs, abrindo novas possibilidades.

Inteligência artificial

O especialista ressalta que o avanço da inteligência artificial (IA) pelo mundo ajuda a acelerar o avanço dos caminhões e até carretas autônomas, já que possibilita melhorar a capacidade de operação de forma cada vez mais segura. “São vários tipos de IAs combinados para esse tipo de veículo, para garantir maior confiabilidade. No nosso caso utilizamos também a IA generativa, popularizada pelo Chat GPT, que amplia o entendimento do ambiente ao redor do veículo”.

Entre as inúmeras vantagens oferecidas pela condução autônoma, Guidolini  destaca o aumento da segurança. Sem distração ou imperícia humana, é natural a redução de acidentes. No caso das operações repetitivas que podem causar mais facilmente fadiga ao motorista, a automatização faz total sentido. Além disso, ele aponta um menor desgaste do veículo, redução do consumo de combustível e redução dos custos de manutenção, já que tudo é precisamente calculado pela inteligência artificial. “Embora isso depende o tipo de operação, é possível calcular que um veículo autônomo demore cerca de três anos para se pagar”.

Implementos rodoviários

No caso dos implementos rodoviários, Rânik admite que é necessário agregar outros aperfeiçoamentos para a tecnologia atender a contento. “Em veículos articulados é preciso instalar sensores no implemento, que permitem monitorar o ângulo entre o cavalo mecânico e a carreta para ajudar em manobras. O mesmo ocorre com o sensoriamento traseiro, principalmente para a ré”.

Foto 2 LUME
Caçamba controlada à distância da Lume Robotics para uso na agricultura

Apesar dos desafios, o CEO da Lume acredita que a indústria de implementos pode se beneficiar do avanço dessa tecnologia, inclusive buscando maior capacidade de carga, o sonho de todo transportador. “É certo que a indústria de implementos vai precisar de adequar, talvez criar produtos de maior capacidade. A condução autônomo permite a utilização de comboios maiores, como tri-trens ou até seis vagões. Além de oferecer mais segurança, a tecnologia proporciona um controle mais preciso de velocidade”.

O executivo lembra que a legislação brasileira ainda não permite a operação de veículos autônomos em vias públicas; apenas em ambientes privados para o transporte de carga interno. Diferente de países como Estados Unidos e China, onde o uso é mais tolerado. A falta de infraestrutura em nossas rodovias também impede essa mudança. “Em São Paulo até seria possível em algumas partes, mas ainda é pouco”, lamenta Rânik.

Embora seja complexa e ainda muito nova no Brasil, a condução autônoma vem se colocando como um bom celeiro para o desenvolvimento. “São poucos países evoluindo esse tipo de veículo. É algo que realmente não é fácil, mas o bacana é que o Brasil tem desenvolvimento 100% nacional e isso é um diferencial”, comemora o representante da Lume Robotics.

Compartilhe nas redes sociais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *