Aumento da mistura de biodiesel ao diesel gera discussão

Produtores rurais se mobilizam para elevar a mistura de 10% para 13%, enquanto entidades de transportes defendem a manutenção do percentual atual

A proposta de aumento da mistura do biodiesel ao diesel, de 10% para 13%, defendida pelo governo federal para vigorar a partir desse mês, vem provocando uma verdadeira queda de braço entre os produtores rurais e entidades do setor de transportes. Enquanto os primeiros lutam pela elevação do percentual em benefício da cadeia da soja, os transportadores rebatem a medida sob o argumento de que isso prejudica o funcionamento dos motores.
O percentual de mistura de biodiesel ao diesel A –de origem fóssil, produzido a partir do petróleo nas refinarias– que já era de 13% até abril de 2021, foi sendo reduzido ao longo desse ano pelo governo Bolsonaro, na tentativa de conter a alta nos preços do diesel B, vendido nos postos. Em setembro e outubro baixou para 12% e, em novembro e dezembro, caiu novamente desta vez para 10%. Logo depois, o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) decidiu manter a mistura de 10% de biodiesel ao longo de 2022, à espera de uma nova decisão por parte do novo governo.

Pressão política

Segundo informou nesta sexta-feira, 10, o jornal “O Estado de São Paulo”, produtores rurais e deputados ligados ao agronegócio estão procurando os 14 ministros que integram o CNPE, na tentativa de assegurar que a reunião para tratar do aumento da mistura não seja adiada pela pasta de Minas e Energia, na reunião, prevista para acontecer no próximo dia 17, e que deve reunir o vice-presidente da República Geraldo Alckmin, Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente e o Ministro da Agricultura Carlos Fávaro.

Os defensores da elevação do percentual de biodiesel ao diesel argumentam que, apesar de elevar o preço do diesel em R$ 0,03, a nova mistura aumentaria o esmagamento da soja em território nacional, incentivando a exportação de farelo (um produto de maior valor agregado do que o grão), o que também poderia ajudar a baixar o preço da carne, segundo o jornal.

A medida, no entanto, é alvo de críticas de entidades do setor de transportes, como a Confederação Nacional do Transporte (CNT), a Associação Nacional do Transporte de Cargas & Logística (NT&C) e de associações do setor automotivo, entre outras. Na quinta-feira, 9, tais entidades contestaram os efeitos do possível aumento do teor de biodiesel no diesel nos setores que representam.

Em nota enviada à imprensa, as entidades ligadas ao transporte e demais associações argumentam que o biodiesel produzido hoje no Brasil é o de base éster. A característica química desse biodiesel gera problemas como o de criação de borra, com alto teor poluidor. Na prática, esse sedimento danifica peças automotivas, bombas de abastecimento, geradores de hospitais, máquinas agrícolas e motores estacionários. Outro dano ocasionado pela borra é o congelamento e contaminação do insumo. O biodiesel cristaliza em baixas temperaturas em motores quando as situações climáticas envolvem variação de temperatura e umidade.

As entidades também lembram que, com a mesma soja e demais biomassas que se faz o biodiesel de base éster, é possível fazer o diesel verde (HVO) — este, sim, sustentável e funcional. Mas as discussões sobre o incentivo à produção e uso de diesel verde não evoluem também por questões econômicas e políticas. “Quem produz o biodiesel não quer o HVO. A verdade é que os atuais produtores de biodiesel não querem perder o lucro fácil e rápido do biodiesel de base éster, nem investir na modernização do processo industrial para produzir diesel verde”.

Impactos nos motores

Na nota, as entidades ainda chamam a atenção para o fato de que a indústria automotiva tem sofrido consequências com as avaliações de padrão de qualidade: perda da eficiência de motores, aumento do consumo de diesel e, consequentemente, mais poluição. Os donos de postos de combustíveis, além de problemas que enfrentam nas bombas, encaram a ira de motoristas que abastecem com a mistura de biodiesel e voltam para reclamar de pane em seus veículos, como se o combustível estivesse adulterado.

As entidades observam que o transportador, que move este país, por sua vez, tem se deparado com problemas mecânicos relacionados ao descompasso entre o teor do biodiesel e as limitações das tecnologias veiculares e peças automotivas. Além de gastar mais com um combustível que não é ambientalmente sustentável, ainda fica por vezes parado na estrada, perdendo tempo e aumentando seu prejuízo. Esses prejuízos se dão em virtude do desgaste prematuro de peças veiculares; da descompensação ambiental das emissões de poluentes; e da onerosa participação do biodiesel no preço final do diesel comercializado.

A nota finaliza sinalizando de que o Brasil deve olhar para a experiência mundial. A mistura para o consumidor final, para os motores funcionarem a contento, garantindo a redução de emissões, é de 7% na Comunidade Europeia; 5% no Japão e Argentina; de 1% a 5% no Canadá; e de 5% nos Estados Unidos, usualmente. E esses países estão na linha de frente das preocupações climáticas. Aqui, já se pratica um percentual de 10%.

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