Simpósio da AEA discute o futuro da mobilidade no Brasil

Uma ideia predominou na maioria das palestras: o futuro da mobilidade é multienergético, e os problemas serão resolvidos por uma combinação de soluções.

A 9ª edição do Simpósio Eficiência Energética, Emissões e Combustíveis, evento organizado pela AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva -, a primeira pós-pandemia, aconteceu em 15 de junho, no Millenium Centro de Convenções, em São Paulo, tendo como tema “Mobilidade Sustentável e Acessível”.
Duzentos e vinte participantes lotaram o auditório para assistir às dez palestras do simpósio. Muito conhecimento foi compartilhado em seis horas de programação, e uma ideia predominou na maioria das palestras: o futuro da mobilidade é multienergético, e os problemas serão resolvidos por uma combinação de soluções.

Temas abordados para pesados

O primeiro painel foi focado em leves, mas o segundo a discussão foi em cima da realidade dos pesados.
Ele teve como tema “Experiência do usuário com energia sustentável”. Felipe Hack, coordenador da FEMSA, empresa coligada à Coca-Cola, abriu a sequência de palestras apresentando o funcionamento do perfil de rotas e os veículos elétricos que compõem sua frota, 35 VW e-Delivery e um BYD T08, na palestra que teve como tema “Veículo elétrico de entrega urbana”.
O custo de manutenção de um caminhão elétrico é 63% menor do que a de um caminhão a combustão. Com esse perfil de frota, evitamos a emissão de 445 t/ano de CO2”, informou.

Experiências com biometano

Cristian Malevic, diretor da unidade de negócios da MWM, e Luís Paulo do Val Cervelatti, gerente de manutenção automotiva da Cocal, apresentaram a palestra seguinte, sobre “Experiências com biometano”.
Luís Paulo iniciou com uma apresentação da Cocal, empresa multinacional sediada no interior de São Paulo e com foco na produção de cana de açúcar. “A partir da cana, produzimos etanol, energia, levedura, biogás, metano e CO2. Nossa frota é composta de 2.500 equipamentos e temos o desafio de reduzir o consumo do diesel trocando pelo biometano. Consumimos 30 milhões de litros de diesel/ano e isso nos incomoda”, argumentou.
Cristian, por sua vez, mostrou o histórico da MWM e falou sobre o processo de retrofit na Cocal. “Temos um grande centro tecnológico no Brasil, onde utilizamos cada vez mais combustíveis com menor pegada de carbono. Usamos biogás para geração de energia e buscamos demanda no cliente final”, informou.

Biodiesel no Brasil

Gustavo Teixeira, gerente de engenharia de produtos da FTP Industrial, encerrou o ciclo de palestras do segundo painel apresentando o tema “Incremento do biodiesel no Brasil: desafios para os catalisadores em veículos Proconve”.
Afirmou de início que o biodiesel traz uma série de benefícios ambientais, como a redução de partículas, ser biodegradável, atóxico e diminuir a dependência do combustível fóssil. Mas se traz vantagens, o biodiesel também proporciona desafios que devem ser enfrentados.
“Quando observamos misturas acima de 7%, especialmente na América do Sul e Ásia, pode acontecer incompatibilidade de materiais, diluição do óleo lubrificante, danos no sistema de injeção, crescimento bacteriano e envenenamento dos sistemas catalíticos e controle de emissões”, ressaltou. Boas práticas são mandatórias.
Por fim, apresentou ensaio simulando 700.000 kms exigidos pelo PROCONVE para o ciclo diesel com vários motores de famílias diferentes da linha FPT, usando B20 e o resultado foi que o biodiesel não deve ser obstáculo para o sistema de pós tratamento dos motores P8.

Alternativas ao diesel

Após uma breve pausa para o almoço, o simpósio continuou com o terceiro painel, “Substitutos para o óleo Diesel – Quais as alternativas para veículos pesados”.
O primeiro palestrante a se apresentar foi José Luiz Zotin, consultor master da Petrobras. Falando sobre “Óleo Diesel Renovável”, apresentou uma linha do tempo do biodiesel na empresa, desde o início, em 2004, quando foram feitos os testes pilotos e o registro da patente HBio, até 2022, ano em que se realizaram os testes em frotas com o Diesel R e em que o produto entrou no mercado. “O Diesel R, que faz parte do programa de descarbonização da Petrobras, é uma mistura do diesel mineral com um componente renovável, no caso os hidrocarbonetos produzidos a partir da hidrogenação de óleos vegetais e gorduras”, explicou.
A seguir, André Ferrarese, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Tupy, discorreu sobre o tema “Combustíveis para novos motores”. Começou apresentando a empresa, que atua no ramo de fundição, e continuou mostrando a evolução da demanda de energia no Brasil e no mundo, focando na lenta e gradativa substituição dos combustíveis fósseis por renováveis a partir de 2018. “O futuro é multicombustível. Na eletrificação, um dos grandes desafios é a bateria. Quanto maior for, maiores serão as emissões de CO2 na fabricação do veículo e o impacto na carga útil. E não podemos confundir transição energética, que traz soluções temporárias, com o bio sozinho, que é uma solução perene”, explanou.

A eletrificação dos transportes pesados

Valério Marochi, pesquisador do Instituto SENAI  de Inovação e Eletroquímica, na sequência, falou sobre “A eletrificação dos transportes pesados”.
“Devemos nos apoiar naquele tripé já citado: equidade, sustentabilidade financeira e também a questão ambiental. Na questão da transição energética para veículos pesados, não podemos deixar de pensar em alguns temas: o transporte responde hoje por um quarto da emissão de gases e chegará a um terço em 2050 (incluindo aviação e transporte marítimo). Será que as práticas atuais para limitar as emissões poderão acomodar esse crescimento?”, questionou.

Diesel verde

Finalizando o terceiro painel, Camilo Abduch Adas, da Be 8 Energy, apresentou sua palestra com o tema  “O atraso da América do Sul para diesel verde e SAF”. Apresentando-se como empresário, começou destacando o fato de que há muitos pensamentos diferentes na discussão dos temas. E que isso pode atrapalhar a tomada de decisões importantes que, segundo ele, é o que está faltando no momento.
“Vim neste mesmo seminário há três anos e ainda não tomamos as decisões que precisamos tomar. Como a União Europeia, que é multicultural, já tem regulamento e nós que falamos a mesma língua não conseguimos?” Para o empresário, o Brasil tem vários bons projetos que não saem do papel, como o programa Combustível do Futuro. “Conversa-se muito e não se toma decisões”, declara.
O evento foi encerrado com Renato Linke, um dos coordenadores do Simpósio de Eficiência Energética, Emissões e Combustíveis, agradecendo aos presentes pelas informações e afirmando que “não há um caminho único a seguir, não há uma solução global para a mobilidade, mas sim diversas soluções regionais, que nos coloca como um país privilegiado, pois podemos optar por seguir inúmeras delas ao mesmo tempo”.
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