Salão Internacional do Automóvel retorna a São Paulo

Em seu retorno após sete anos, o Salão do Automóvel de 2025 vai além dos lançamentos e apresenta um formato imersivo que inclui a maior pista de test-drive indoor do mundo e sinaliza a aceleração do Brasil rumo à uma nova era da indústria

Por Gustavo Queiroz

- novembro 18, 2025

Salão Internacional do Automóvel de São Paulo

O Salão Internacional do Automóvel reinicia suas atividades em São Paulo após um hiato de sete anos, posicionando-se não apenas como uma vitrine de lançamentos, mas como o palco principal para exibir a profunda transformação em curso no setor automotivo brasileiro. O evento, que ocorrerá de 22 a 30 de novembro no Distrito Anhembi, é organizado em parceria pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e pela RX (Reed Exhibitions) e surge em um momento estratégico de investimentos massivos e transição tecnológica.

A edição de 2025 estabelece um novo patamar para o setor, com um formato que prioriza a experiência imersiva do visitante. A estrutura ocupa cinco pavilhões climatizados e interligados, totalizando 64 mil metros quadrados de área de exposição. Um dos principais destaques é a maior pista indoor de test-drive do mundo, onde estão previstos a realização de dez mil testes ao longo do evento. A programação integra mais de 300 veículos, incluindo modelos elétricos, híbridos, a combustão, protótipos e conceitos de mobilidade urbana, distribuídos por espaços temáticos como uma arena de inovação com demonstrações de novas tecnologias, um espaço dedicado à sustentabilidade, a área Dream Lounge para supercarros e o Custom Land, focado na cultura automotiva e veículos personalizados.

O retorno do Salão coincide com um ciclo histórico de investimentos para a indústria nacional. Dados da Anfavea confirmam que as fabricantes comprometeram R$ 140 bilhões em investimentos no Brasil até 2033, com foco em pesquisa e desenvolvimento, eletrificação, eficiência energética, conectividade e novas plataformas de produção. Este montante representa parte de um plano mais amplo de R$ 190 bilhões que inclui a cadeia de autopeças, configurando-se como o maior programa de modernização já anunciado pelo setor no país.

De acordo com Igor Calvet, presidente da Anfavea, o Salão funciona como um espelho do momento vivido pela indústria. “Queremos mostrar não apenas os produtos, mas o quanto o setor tem se reinventado em eficiência, inovação e sustentabilidade. O retorno do evento é também um símbolo da força da indústria nacional, que vem ampliando investimentos, empregos e parcerias tecnológicas no Brasil”, afirmou Calvet.

O contexto macroeconômico reforça a relevância do setor, que responde por 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos e representa aproximadamente 20% do PIB industrial brasileiro. Com 53 fábricas distribuídas por nove estados, as montadoras geraram receitas de R$ 360 bilhões no último ano e somaram R$ 252 bilhões em exportações, que registraram crescimento de 51,6% em 2025, com destaque para mercados como Argentina, Colômbia e Chile.

Um dos impulsionadores críticos para este novo ciclo é o Programa Mover, política pública que estabelece incentivos para inovação, eficiência energética e descarbonização. A iniciativa fortalece o posicionamento do Brasil, oitavo maior produtor e sexto maior mercado de veículos do mundo, no mapa global da mobilidade sustentável. O país já colhe os primeiros frutos dessa transição, com 25% das licenciamentos de veículos eletrificados em 2025 provenientes da produção local.

O Salão do Automóvel de 2025, com um recorde de 26 marcas expositoras e 18 “supermáquinas”, consolida-se assim como um ecossistema de inovação, reunindo montadoras tradicionais, novas entrantes, startups de mobilidade, universidades e parceiros institucionais. A edição não apenas celebra o retorno de um evento tradicional, mas sinaliza a aceleração do Brasil rumo a uma nova era da indústria automotiva, marcada pela convergência entre tecnologia, sustentabilidade e competitividade global.

Linha do tempo

A história começou em 1960, no Parque do Ibirapuera, com uma edição inaugural que marcou o surgimento da indústria automotiva nacional. Doze montadoras participaram do evento, que atraiu um público superior a 400 mil visitantes, estabelecendo-se desde o princípio como o epicentro de exibição da força manufactura do país.

Salão Internacional do Automóvel de São Paulo na década de 1970
Salão Internacional do Automóvel de São Paulo na década de 1970 | Foto: Divulgação

Na década de 1970, o Salão ganhou um novo lar e um novo simbolismo com a mudança para o recém-inaugurado Parque Anhembi. Esta transição espelhou a consolidação do setor no Brasil. Foi neste período que o evento testemunhou o lançamento de modelos que se tornariam ícones, como a apresentação do Fiat 147 em 1976, marco da chegada de novas players ao mercado nacional.

Os anos 1980, batizados como a “Era da Modernização”, foram caracterizados pelo “Salão da Esperança”. Esta fase destacou-se pela abertura a negócios internacionais e pela introdução das primeiras inovações eletrônicas significativas nos veículos nacionais. Modelos como o Gol GTI e o Monza EFI chegaram às vitrines, materializando o avanço tecnológico que começava a adentrar as linhas de produção e os produtos finais.

Um marco transformador ocorreu na década de 1990, com o fim da reserva de mercado. O Salão se internacionalizou definitivamente, convertendo-se em um palco global. A presença maciça de veículos importados e um público que superou a marca de 700 mil visitantes reafirmaram a integração do Brasil ao circuito automotivo internacional, alterando para sempre a paisagem competitiva e as opções disponíveis ao consumidor brasileiro.

A virada do milênio consolidou o amadurecimento do evento e da indústria. As edições do início dos anos 2000 elevaram o patamar de discussão, deslocando o foco principal para o design arrojado, a tecnologia de ponta e a exibição de carros-conceito. Esta evolução solidificou o Salão de São Paulo como o maior e mais importante encontro automotivo da América Latina, um espaço de antecipação de tendências.

O reconhecimento formal de seu status global veio em 2008, quando o evento foi incorporado ao calendário oficial da Organização Internacional dos Construtores de Automóveis (OICA). Esta chancela internacional posicionou o Salão entre as principais feiras do setor no mundo, atestando sua relevância e alcance.

De 2010 a 2018, durante a celebração de seus 50 anos e nas edições subsequentes, o Salão entrou na “Década da Mobilidade”. O evento expandiu seu escopo para além do automóvel propriamente dito, abraçando novas tendências de consumo e tecnologia. SUVs, crossovers, veículos eletrificados, tecnologias autônomas e soluções integradas de mobilidade urbana passaram a dominar os holofotes, espelhando a profunda transformação pela qual passava o setor em escala global.

Agora, em 2025, o Salão do Automóvel retorna ao Anhembi em um formato integralmente renovado. A proposta é a de um evento mais imersivo, tecnológico e alinhado com os princípios de sustentabilidade. Ao reunir as principais marcas nacionais e internacionais, o Salão não apenas celebra 65 anos de inovação, emoção e história sobre rodas, mas também assume seu papel de conectar o público, a indústria e a sociedade ao futuro da mobilidade brasileira, reafirmando seu legado como um farol do desenvolvimento automotivo.

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