Projetos para infraestrutura até 2018 exigem R$ 920 bilhões

    Os projetos de infraestrutura anunciados pelo governo e pelo setor privado exigem R$ 920 bilhões em investimentos até 2018, de acordo com estudo do Itaú BBA obtido com exclusividade pelo Valor. O levantamento leva em consideração o que está planejado para o período nas áreas de óleo e gás, transportes, energia e saneamento.
     
    “Se esses projetos realmente se concretizarem, será uma dose cavalar de investimento no país”, disse Cristina Reis, professora de economia da Universidade do ABC e analista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “A proporção de investimentos sobre o PIB alcançaria seguramente a marca dos 20%, patamar que nunca conseguimos atingir, e a barreira que temos que passar para melhorar nossos gargalos.”
     
    Segundo os cálculos de Cristina, a formação bruta de capital fixo – medida do PIB que considera aplicações em construção e máquinas e indica o nível de investimentos produtivos no país – chegaria a 21% ou 22% do PIB. Nos últimos anos, essa proporção tem custado a passar dos 18%. Para chegar a esses números, Cristina considerou uma parcela anual de R$300 bilhões dos investimentos totais, aplicada ao PIB de 2016. Já o valor do PIB foi estimado com base em projeções de crescimento anual da de 4,5%, e de 2% ao ano até lá.
     
    No estudo do Itaú, óleo e gás é o setor que responde pela maior fatia de recursos necessários, com programas de R$ 543,4 bilhões, ou quase 60% do total. É seguido por transportes (R$ 200 bilhões), energia (R$ 162,4 bilhões) e saneamento (R$ 15 bilhões).
     
    Em transportes, o levantamento compreende ferrovias, rodovias, aeroportos, portos e mobilidade urbana (não leva em conta o trem de alta velocidade). O valor inclui também investimentos que já foram iniciados, como em quatro aeroportos concedidos recentemente (Guarulhos, Campinas, Brasília e São Gonçalo do Amarante). As concessionárias que venceram os leilões recentes de rodovias também já começaram os trabalhos em algumas estradas.
     
    O levantamento feito pelo banco inclui muitos projetos ainda não licitados – apenas 18% do Programa de Investimentos em Logística (PIL, o pacote de concessões) já foi a leilão. O governo já iniciou a tomada de contribuições para a modelagem dos quatro próximos projetos de concessões rodoviárias federais. Também estão sendo feitos estudos para a modelagem da nova concessão da ponte Rio-Niterói e deve ser anunciado nos próximos meses o resultado da licitação da parceria público-privada (PPP) para a rodovia dos Tamoios, que liga a capital ao litoral norte do Estado de São Paulo.
     
    Além disso, está aberto o chamamento público para complementação de estudos de viabilidade técnica para quatro trechos de ferrovias previstos no PIL. As análises serão direcionadas para os trechos entre Açailândia (MA) – Barcarena (PA), com 457 quilômetros de extensão; Anápolis (GO) – Corinto (MG), com 775 quilômetros; Belo Horizonte (MG) – Guanambi (BA), com 845 quilômetros; e Estrela D’Oeste (SP) – Dourados (MS), com 659 quilômetros de extensão.
     
    Outros dois chamamentos públicos incluíram a elaboração de estudos de viabilidade para novos trechos: Sinop (MT) – Miritituba (PA), com 990 quilômetros de extensão; e Sapezal (MT) – Porto Velho (RO), com 950 quilômetros.
     
    O capital para financiamento de um montante desse tamanho não deve preocupar o governo – pelo menos não no caso dos projetos de transporte e logística. Alberto Zoffmann do Espírito Santo, economista da área de “project finance” do Itaú BBA, diz que praticamente todos os recursos de financiamento nesses casos devem partir do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo ele, “aparentemente” a instituição não deve ter dificuldades para cumprir os desembolsos previstos em transporte e energia.
     
    Em cada segmento, há recursos disponíveis de outras fontes – como capital do governo federal em obras de mobilidade urbana e saneamento, além de sócios estrangeiros em projetos de óleo e gás. Apesar de a pesquisa apresentar um montante expressivo, diz respeito aos projetos apenas anunciados. Atrasos em licitações, ou nas obras, poderiam postergar parte significativa desse montante para os anos seguintes – o que poderia deixar os investimentos abaixo do demandado pelo país.
     
    A agência de classificação de risco Moody’s estima, de acordo com relatório divulgado recentemente, que a defasagem do Brasil no setor seja de aproximadamente 6,4 pontos percentuais do PIB, ou seja, US$140 bilhões. Entre 1971 e 2012, no entanto, o investimento total em infraestrutura no país ficou, em média, em 3,4% do PIB.
    Investimentos na ordem dos US$ 900 bilhões apurados pelo Itaú BBA, pelos próximos quatro anos, representam cerca de 5% do PIB, nos cálculos de Cristina, do Iedi. Ela cita a presença do governo como liderança importante para essa retomada dos investimentos em infraestrutura, depois de uma espécie de paralisia e pouco otimismo que tomou conta do setor a partir de 2011.
     
    “O setor público já representou uma melhoria nos investimentos em 2013, inclusive por meio de estatais como a Petrobras e a Eletrobras “, diz a analista. “Cerca de 22% do total de investimentos no ano passado foi público, o que é um bom crescimento. A participação não era tão alta assim.” Cristina também lembra as expectativas em torno do programa de concessões federais, que, na estimativa do governo, deve injetar R$ 600 bilhões diretos na economia até 2012.
     
    FONTE: VALOR ECONÔMICO
     
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