A falta de políticas públicas de qualidade revela o aprofundamento das desigualdades sociais na Região, que privilegia um tipo de público e condena outro
A análise dos dados sobre mobilidade urbana em Belém (PA), Boa Vista (RR), Macapá (AP), Manaus (AM), Palmas (TO), Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC), a partir de informações atualizadas pelo portal MobiliDADOS, revela um retrato cruel da mercantilização do direito à cidade. As altas taxas de motorização (de 378 a 698 veículos por mil habitantes) vão na contramão do progresso e revelam o aprofundamento das distâncias sociais nessas praças. Talhadores enfrentam até uma hora de deslocamento em condições precárias. A ausência de calçadas (em até 81,94% dos domicílios em Boa Vista) e rampas (menos de 3% na maioria das cidades) explicita como a infraestrutura urbana reproduz a lógica da mais-valia em que se investe mais ou apenas no que gera acumulação e escassez, negligenciando pedestres, idosos e pessoas com deficiência.
As disparidades de acesso à infraestrutura cicloviária e transporte público são escancaradas. Por exemplo, em Belém, trabalhadores que ganham até meio salário mínimo têm 60% menos acesso a ciclovias em relação à parcela com mais recursos financeiros; em Manaus, 0% da população tem transporte de média capacidade, condenando os usuários a horas perdidas em deslocamentos exaustivos.
A violência no trânsito é refletida por meio da desigualdade, como em Palmas, que possui uma taxa de 37,66 mortes por 100 mil hab. (70% negros). As 429 internações/100 mil em Porto Velho revelam que o tema da mobilidade urbana está longe de ser uma preocupação da gestão pública. Quando mulheres negras têm 50% menos acesso a infraestrutura que homens brancos (como em Belém), fica claro que a mobilidade urbana na Região é fator de segregação.
Belém (PA)
Belém, capital do Pará, apresenta indicadores relevantes sobre mobilidade urbana, infraestrutura e impactos ambientais. A cidade possui uma taxa de motorização de 378,91 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma dependência significativa do transporte individual. No entanto, a infraestrutura para pedestres ainda é limitada, com apenas 50,87% dos domicílios tendo calçadas no entorno, e um percentual muito baixo de rampas para cadeirantes (2,71%).
O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 33 minutos, e uma pequena parcela da população (2,91%) gasta mais de uma hora nesse trajeto. A cidade enfrenta desafios na poluição do ar, com emissões per capita de 495,84 kg de CO₂, 82,64 gramas de material particulado e 1.536,85 gramas de NOx devido ao uso de combustíveis.
Quanto à mobilidade ativa, 36,69% da população vive próxima a infraestrutura cicloviária, mas há desigualdades. Por exemplo, enquanto 43,70% das pessoas com renda acima de três salários mínimos têm acesso, apenas 25,08% daqueles que ganham até meio salário mínimo estão nessa condição. Mulheres negras têm menor proximidade (30,25%).
O transporte público também apresenta disparidades. Apenas 20,54% da população mora perto de estações de média e alta capacidade, sendo que esse acesso é maior para quem tem renda mais alta (22,28% acima de três salários mínimos) e menor para os mais pobres (10,16% até meio salário mínimo). Mulheres negras (13,33%) e mulheres com renda de até um salário mínimo (12,92%) são as mais prejudicadas.
A segurança viária é outro desafio. A taxa de mortalidade no trânsito é de 5,51 mortes por 100 mil habitantes, sendo os pedestres (2,19) e motociclistas (1,19) os mais vulneráveis. A população negra representa 83,13% das vítimas fatais. Além disso, há 2,76 internações por 100 mil habitantes devido a acidentes, com pedestres (1,92) sendo os mais afetados.
Esses dados evidenciam a necessidade de políticas públicas mais inclusivas, com melhorias na infraestrutura urbana, ampliação do transporte coletivo e ações para reduzir acidentes e desigualdades socioeconômicas e raciais na mobilidade.
Boa Vista (RR)
Boa Vista apresenta uma taxa de motorização de 496,38 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma significativa dependência do transporte individual. A infraestrutura urbana, no entanto, ainda é precária em termos de acessibilidade, sendo que apenas 18,06% dos domicílios têm calçadas no entorno, e um número ainda menor (2,05%) possui rampas para cadeirantes.
O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 32,80 minutos, com 10,62% da população gastando mais de uma hora nesse trajeto. A cidade também enfrenta desafios ambientais, com altas emissões per capita de poluentes, incluindo 936,87 kg de CO₂, 166,31 gramas de material particulado e 2.801,65 gramas de NOx por habitante, provenientes do uso de combustíveis.
A infraestrutura cicloviária atende de forma desigual. Enquanto 24,07% da população com renda acima de três salários mínimos vive próxima a ela, apenas 12,13% dos que ganham até meio salário mínimo têm esse acesso. Entre mulheres negras, o percentual é de 14,87%. Já o transporte público de média e alta capacidade é ausente, considerando que 0% da população reside próximo a estações, independentemente de renda ou perfil demográfico.
A segurança viária é outro problema grave, pois a taxa de mortalidade no trânsito é de 19,01 óbitos por 100 mil habitantes, sendo 8,70 mortes de ocupantes de automóveis, 2,29 de pedestres, 2,06 de motociclistas e 0,92 de ciclistas. 75,90% das vítimas fatais são pessoas negras, evidenciando desigualdades sociais. As internações por acidentes de trânsito somam 129,15 por 100 mil habitantes, com destaque para motociclistas (74,73) e pedestres (38,94).
Os dados revelam a necessidade de políticas públicas que priorizem acessibilidade universal, transporte sustentável e redução das disparidades socioeconômicas na mobilidade urbana de Boa Vista.
Macapá (AP)
Macapá, capital do Amapá, apresenta dados relevantes sobre mobilidade urbana, infraestrutura e impactos ambientais e sociais do transporte. A taxa de motorização na cidade é de 386,73 veículos para cada mil habitantes, indicando um uso significativo de automóveis. No entanto, a infraestrutura para pedestres e pessoas com deficiência ainda é limitada: apenas 33,84% dos domicílios têm calçadas no entorno, e apenas 2,31% possuem rampas para cadeirantes.
O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 24 minutos, e 4,41% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. Quanto à poluição, as emissões per capita são altas: 750,03 kg de CO₂, 115,83 gramas de material particulado e 1.706,82 gramas de NOx por habitante, resultantes do uso de combustíveis.
A infraestrutura cicloviária atende apenas 7,51% da população, com acesso desigual entre faixas de renda. Enquanto 2,02% da população com renda entre ½ e 1 salário mínimo vive próxima a ciclovias, esse percentual é de 2,31% para quem ganha entre 1 e 3 salários mínimos. Mulheres negras têm 2,07% de proximidade a ciclovias. Já o transporte de média e alta capacidade não atende nenhum grupo populacional, com 0% de cobertura em todas as categorias analisadas.
A violência no trânsito é um problema grave: a taxa de mortalidade é de 11,87 mortes por 100 mil habitantes, sendo motociclistas e ocupantes de automóveis os mais afetados (3,06 mortes/100 mil cada). Pedestres e ciclistas correspondem a 1,53 e 0,57 mortes/100 mil, respectivamente. 93,55% das vítimas fatais são pessoas negras. Além disso, a taxa de internações por acidentes de trânsito é de 116,95/100 mil habitantes, com destaque para motociclistas (75,41 internações/100 mil).
Esses dados revelam desafios urgentes em acessibilidade, transporte público, segurança viária e redução de emissões, demandando políticas públicas mais eficazes para melhorar a mobilidade em Macapá.
Manaus (AM)
Manaus apresenta uma taxa de motorização de 390,60 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma alta dependência do transporte individual. A infraestrutura urbana ainda é precária em acessibilidade: apenas 50,4% dos domicílios têm calçadas no entorno, e apenas 2,4% contam com rampas para cadeirantes.
O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 40,6 minutos, e 17,34% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. A falta de opções de transporte eficientes é evidente, já que nenhuma parcela da população reside próxima a estações de transporte de média ou alta capacidade, independentemente de renda ou gênero. A infraestrutura cicloviária também é limitada, atingindo apenas 2,54% da população, com maior acesso entre pessoas de maior renda (7,26% para quem ganha acima de três salários mínimos) e menor entre as mais pobres (1,75% para até ½ salário mínimo). Mulheres negras têm acesso próximo à média geral (2,49%).
As emissões poluentes são preocupantes, considerando que cada habitante emite o equivalente a 784,94 kg de CO₂, 158,66 g de material particulado e 3.162,54 g de NOx anualmente devido ao uso de combustíveis.
A violência no trânsito é outro desafio. Com taxa de mortalidade de 11,88 mortes por 100 mil habitantes, os motociclistas são as maiores vítimas (5,81 mortes), seguidos por pedestres (3,28) e ocupantes de automóveis (1,86). Ciclistas representam 0,04 mortes. 87,31% das vítimas fatais são negras. As internações por acidentes chegam a 57,86 por 100 mil habitantes, com motociclistas correspondendo a 37,61 internações, enquanto pedestres somam 2,23.
Os dados revelam a necessidade urgente de políticas públicas que melhorem a mobilidade, reduzam desigualdades e promovam um trânsito mais seguro e sustentável em Manaus.
Palmas (TO)
Palmas, capital do Tocantins, apresenta indicadores relevantes sobre mobilidade urbana, infraestrutura e impactos ambientais e sociais do transporte. A taxa de motorização na cidade é de 698,33 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma significativa presença de automóveis na região. Quanto à acessibilidade, apenas 57,82% dos domicílios têm calçadas no entorno, e um número muito reduzido (0,82%) possui rampas para cadeirantes, indicando desafios na inclusão de pessoas com mobilidade reduzida.
O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 25,6 minutos, e 4,88% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. A cidade também enfrenta questões ambientais, com emissões per capita de 1.126,31 kg de CO₂, 198,38 gramas de material particulado e 3.781,65 gramas de NOx devido ao uso de combustíveis.
Em relação à infraestrutura cicloviária, 17% da população reside próxima a ciclovias, com variações por faixa de renda: 15,66% (até ½ salário mínimo), 17,98% (½ a 1 salário), 24,11% (um a três salários) e 24,39% (acima de três salários). Entre mulheres negras, esse percentual é de 19,5%. No entanto, nenhuma parcela da população tem acesso próximo a estações de transporte de média ou alta capacidade, evidenciando a falta de infraestrutura de transporte coletivo eficiente.
A segurança viária é outro ponto crítico: a taxa de mortalidade no trânsito é de 37,66 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas os mais afetados (21,06 mortes), seguidos por ocupantes de automóveis (6,7) e pedestres (4,15). 70,34% das vítimas fatais são pessoas negras, destacando desigualdades raciais nesse contexto. As internações por acidentes de trânsito chegam a 429,15 por 100 mil hab., com os motociclistas correspondendo a 348,87 casos, reforçando a vulnerabilidade desse grupo.
Esses dados revelam a necessidade de políticas públicas que melhorem a infraestrutura urbana, ampliem o acesso a transportes sustentáveis e reduzam os riscos no trânsito, especialmente para grupos mais vulneráveis.
Porto Velho (RO)
Em Porto Velho, capital de Rondônia, a taxa de motorização na cidade é de 597,61 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma alta dependência do transporte individual. Quanto à acessibilidade, apenas 42,05% dos domicílios têm calçadas no entorno, e um percentual mínimo (1,19%) conta com rampas para cadeirantes, evidenciando desafios na inclusão de pessoas com mobilidade reduzida.
O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 28,20 minutos, enquanto 7,38% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. A infraestrutura cicloviária ainda é limitada, com apenas 4,34% da população residindo próximo a vias adequadas para bicicletas, sendo que esse acesso é ligeiramente maior entre grupos de maior renda (6,72% para quem ganha acima de 3 salários mínimos). Mulheres negras têm 6,05% de proximidade, enquanto a população de baixa renda (até ½ salário mínimo) apresenta 5,05%.
Chama a atenção a ausência de estações de transporte de média e alta capacidade na cidade, com 0% da população tendo acesso a esse tipo de infraestrutura, independentemente de renda ou perfil demográfico.
Nos aspectos ambientais, as emissões de CO₂ per capita chegam a 1.400,32 kg por habitante, além de 278,45 gramas de material particulado e 5.898,46 gramas de NOx por pessoa, indicando um significativo impacto da queima de combustíveis.
A violência no trânsito é outro problema grave, uma vez que a taxa de mortalidade é de 17,85 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas as maiores vítimas (8,93/100 mil). Pedestres e ciclistas correspondem a 1,46 e 1,09 mortes/100 mil, respectivamente. 68,37% das vítimas fatais são pessoas negras, destacando desigualdades raciais nesse contexto. As internações por acidentes de trânsito atingem 402,25/100 mil habitantes, com os motociclistas novamente liderando (249,99/100 mil).
Esses dados revelam a necessidade de políticas públicas que melhorem a infraestrutura urbana, ampliem o transporte sustentável e reduzam as disparidades socioeconômicas e ambientais em Porto Velho.
Rio Branco (AC)
Rio Branco, capital do Acre, apresenta uma taxa de motorização de 542,10 veículos para cada mil habitantes, indicando um uso significativo de transporte individual. No entanto, a infraestrutura urbana ainda apresenta desafios: apenas 30,58% dos domicílios têm calçadas no entorno, e somente 6,53% possuem rampas para cadeirantes, o que pode dificultar a acessibilidade.
O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 25,80 minutos, e 4,8% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. A cidade também enfrenta questões ambientais relacionadas ao transporte, com emissões per capita de 715,20 kg de CO₂, 121,46 gramas de material particulado e 2.287,42 gramas de NOx devido ao uso de combustíveis.
A infraestrutura cicloviária atende apenas 9% da população, com desigualdades socioeconômicas: enquanto 18,92% das pessoas com renda acima de três salários mínimos têm acesso, apenas 6,28% daqueles que ganham até meio salário mínimo estão próximos a ciclovias. Entre as mulheres negras, o percentual é de 9,03%.
Quanto ao transporte público, nenhuma parcela da população reside próxima a estações de média ou alta capacidade, independentemente de renda ou gênero.
A taxa de mortalidade no trânsito é de 15,26 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas os mais vulneráveis (3,81 mortes/100 mil), seguidos por pedestres (0,72/100 mil) e ciclistas (0,24/100 mil). 82,81% das vítimas fatais são pessoas negras, evidenciando um grave viés racial.
As internações por acidentes de trânsito chegam a 299,93 por 100 mil habitantes, com destaque para motociclistas (86,91 internações/100 mil), refletindo a necessidade de políticas públicas mais eficazes para reduzir esses índices.
Em resumo, Rio Branco enfrenta desafios importantes em mobilidade urbana, acessibilidade e segurança viária, com disparidades socioeconômicas e raciais que demandam ações integradas para promover um transporte mais inclusivo e sustentável.