MobiliDADOS revela informações críticas nas capitais do Norte

A falta de políticas públicas de qualidade revela o aprofundamento das desigualdades sociais na Região, que privilegia um tipo de público e condena outro

Por Gustavo Queiroz

- junho 25, 2025

Imagem de mobilidade urbana nas capitais do Norte do Brasil meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia

A falta de políticas públicas de qualidade revela o aprofundamento das desigualdades sociais na Região, que privilegia um tipo de público e condena outro

A análise dos dados sobre mobilidade urbana em Belém (PA), Boa Vista (RR), Macapá (AP), Manaus (AM), Palmas (TO), Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC), a partir de informações atualizadas pelo portal MobiliDADOS, revela um retrato cruel da mercantilização do direito à cidade. As altas taxas de motorização (de 378 a 698 veículos por mil habitantes) vão na contramão do progresso e revelam o aprofundamento das distâncias sociais nessas praças. Talhadores enfrentam até uma hora de deslocamento em condições precárias. A ausência de calçadas (em até 81,94% dos domicílios em Boa Vista) e rampas (menos de 3% na maioria das cidades) explicita como a infraestrutura urbana reproduz a lógica da mais-valia em que se investe mais ou apenas no que gera acumulação e escassez, negligenciando pedestres, idosos e pessoas com deficiência.

As disparidades de acesso à infraestrutura cicloviária e transporte público são escancaradas. Por exemplo, em Belém, trabalhadores que ganham até meio salário mínimo têm 60% menos acesso a ciclovias em relação à parcela com mais recursos financeiros; em Manaus, 0% da população tem transporte de média capacidade, condenando os usuários a horas perdidas em deslocamentos exaustivos.

A violência no trânsito é refletida por meio da desigualdade, como em Palmas, que possui uma taxa de 37,66 mortes por 100 mil hab. (70% negros). As 429 internações/100 mil em Porto Velho revelam que o tema da mobilidade urbana está longe de ser uma preocupação da gestão pública. Quando mulheres negras têm 50% menos acesso a infraestrutura que homens brancos (como em Belém), fica claro que a mobilidade urbana na Região é fator de segregação.

Belém (PA)

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Belém, capital do Pará, apresenta indicadores relevantes sobre mobilidade urbana, infraestrutura e impactos ambientais. A cidade possui uma taxa de motorização de 378,91 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma dependência significativa do transporte individual. No entanto, a infraestrutura para pedestres ainda é limitada, com apenas 50,87% dos domicílios tendo calçadas no entorno, e um percentual muito baixo de rampas para cadeirantes (2,71%).

O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 33 minutos, e uma pequena parcela da população (2,91%) gasta mais de uma hora nesse trajeto. A cidade enfrenta desafios na poluição do ar, com emissões per capita de 495,84 kg de CO₂, 82,64 gramas de material particulado e 1.536,85 gramas de NOx devido ao uso de combustíveis.

Quanto à mobilidade ativa, 36,69% da população vive próxima a infraestrutura cicloviária, mas há desigualdades. Por exemplo, enquanto 43,70% das pessoas com renda acima de três salários mínimos têm acesso, apenas 25,08% daqueles que ganham até meio salário mínimo estão nessa condição. Mulheres negras têm menor proximidade (30,25%).

O transporte público também apresenta disparidades. Apenas 20,54% da população mora perto de estações de média e alta capacidade, sendo que esse acesso é maior para quem tem renda mais alta (22,28% acima de três salários mínimos) e menor para os mais pobres (10,16% até meio salário mínimo). Mulheres negras (13,33%) e mulheres com renda de até um salário mínimo (12,92%) são as mais prejudicadas.

A segurança viária é outro desafio. A taxa de mortalidade no trânsito é de 5,51 mortes por 100 mil habitantes, sendo os pedestres (2,19) e motociclistas (1,19) os mais vulneráveis. A população negra representa 83,13% das vítimas fatais. Além disso, há 2,76 internações por 100 mil habitantes devido a acidentes, com pedestres (1,92) sendo os mais afetados.

Esses dados evidenciam a necessidade de políticas públicas mais inclusivas, com melhorias na infraestrutura urbana, ampliação do transporte coletivo e ações para reduzir acidentes e desigualdades socioeconômicas e raciais na mobilidade.

Boa Vista (RR) 

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Boa Vista apresenta uma taxa de motorização de 496,38 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma significativa dependência do transporte individual. A infraestrutura urbana, no entanto, ainda é precária em termos de acessibilidade, sendo que apenas 18,06% dos domicílios têm calçadas no entorno, e um número ainda menor (2,05%) possui rampas para cadeirantes.

O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 32,80 minutos, com 10,62% da população gastando mais de uma hora nesse trajeto. A cidade também enfrenta desafios ambientais, com altas emissões per capita de poluentes, incluindo 936,87 kg de CO₂, 166,31 gramas de material particulado e 2.801,65 gramas de NOx por habitante, provenientes do uso de combustíveis.

A infraestrutura cicloviária atende de forma desigual. Enquanto 24,07% da população com renda acima de três salários mínimos vive próxima a ela, apenas 12,13% dos que ganham até meio salário mínimo têm esse acesso. Entre mulheres negras, o percentual é de 14,87%. Já o transporte público de média e alta capacidade é ausente, considerando que 0% da população reside próximo a estações, independentemente de renda ou perfil demográfico. 

A segurança viária é outro problema grave, pois a taxa de mortalidade no trânsito é de 19,01 óbitos por 100 mil habitantes, sendo 8,70 mortes de ocupantes de automóveis, 2,29 de pedestres, 2,06 de motociclistas e 0,92 de ciclistas. 75,90% das vítimas fatais são pessoas negras, evidenciando desigualdades sociais. As internações por acidentes de trânsito somam 129,15 por 100 mil habitantes, com destaque para motociclistas (74,73) e pedestres (38,94).

Os dados revelam a necessidade de políticas públicas que priorizem acessibilidade universal, transporte sustentável e redução das disparidades socioeconômicas na mobilidade urbana de Boa Vista.

Macapá (AP) 

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Macapá, capital do Amapá, apresenta dados relevantes sobre mobilidade urbana, infraestrutura e impactos ambientais e sociais do transporte. A taxa de motorização na cidade é de 386,73 veículos para cada mil habitantes, indicando um uso significativo de automóveis. No entanto, a infraestrutura para pedestres e pessoas com deficiência ainda é limitada: apenas 33,84% dos domicílios têm calçadas no entorno, e apenas 2,31% possuem rampas para cadeirantes.

O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 24 minutos, e 4,41% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. Quanto à poluição, as emissões per capita são altas: 750,03 kg de CO₂, 115,83 gramas de material particulado e 1.706,82 gramas de NOx por habitante, resultantes do uso de combustíveis.

A infraestrutura cicloviária atende apenas 7,51% da população, com acesso desigual entre faixas de renda. Enquanto 2,02% da população com renda entre ½ e 1 salário mínimo vive próxima a ciclovias, esse percentual é de 2,31% para quem ganha entre 1 e 3 salários mínimos. Mulheres negras têm 2,07% de proximidade a ciclovias. Já o transporte de média e alta capacidade não atende nenhum grupo populacional, com 0% de cobertura em todas as categorias analisadas. 

A violência no trânsito é um problema grave: a taxa de mortalidade é de 11,87 mortes por 100 mil habitantes, sendo motociclistas e ocupantes de automóveis os mais afetados (3,06 mortes/100 mil cada). Pedestres e ciclistas correspondem a 1,53 e 0,57 mortes/100 mil, respectivamente. 93,55% das vítimas fatais são pessoas negras. Além disso, a taxa de internações por acidentes de trânsito é de 116,95/100 mil habitantes, com destaque para motociclistas (75,41 internações/100 mil).

Esses dados revelam desafios urgentes em acessibilidade, transporte público, segurança viária e redução de emissões, demandando políticas públicas mais eficazes para melhorar a mobilidade em Macapá.

Manaus (AM)

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Manaus apresenta uma taxa de motorização de 390,60 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma alta dependência do transporte individual. A infraestrutura urbana ainda é precária em acessibilidade: apenas 50,4% dos domicílios têm calçadas no entorno, e apenas 2,4% contam com rampas para cadeirantes.

O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 40,6 minutos, e 17,34% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. A falta de opções de transporte eficientes é evidente, já que nenhuma parcela da população reside próxima a estações de transporte de média ou alta capacidade, independentemente de renda ou gênero. A infraestrutura cicloviária também é limitada, atingindo apenas 2,54% da população, com maior acesso entre pessoas de maior renda (7,26% para quem ganha acima de três salários mínimos) e menor entre as mais pobres (1,75% para até ½ salário mínimo). Mulheres negras têm acesso próximo à média geral (2,49%).

As emissões poluentes são preocupantes, considerando que cada habitante emite o equivalente a 784,94 kg de CO₂, 158,66 g de material particulado e 3.162,54 g de NOx anualmente devido ao uso de combustíveis.

A violência no trânsito é outro desafio. Com taxa de mortalidade de 11,88 mortes por 100 mil habitantes, os motociclistas são as maiores vítimas (5,81 mortes), seguidos por pedestres (3,28) e ocupantes de automóveis (1,86). Ciclistas representam 0,04 mortes. 87,31% das vítimas fatais são negras. As internações por acidentes chegam a 57,86 por 100 mil habitantes, com motociclistas correspondendo a 37,61 internações, enquanto pedestres somam 2,23.

Os dados revelam a necessidade urgente de políticas públicas que melhorem a mobilidade, reduzam desigualdades e promovam um trânsito mais seguro e sustentável em Manaus.

Palmas (TO)

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Palmas, capital do Tocantins, apresenta indicadores relevantes sobre mobilidade urbana, infraestrutura e impactos ambientais e sociais do transporte. A taxa de motorização na cidade é de 698,33 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma significativa presença de automóveis na região. Quanto à acessibilidade, apenas 57,82% dos domicílios têm calçadas no entorno, e um número muito reduzido (0,82%) possui rampas para cadeirantes, indicando desafios na inclusão de pessoas com mobilidade reduzida.

O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 25,6 minutos, e 4,88% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. A cidade também enfrenta questões ambientais, com emissões per capita de 1.126,31 kg de CO₂, 198,38 gramas de material particulado e 3.781,65 gramas de NOx devido ao uso de combustíveis.

Em relação à infraestrutura cicloviária, 17% da população reside próxima a ciclovias, com variações por faixa de renda: 15,66% (até ½ salário mínimo), 17,98% (½ a 1 salário), 24,11% (um a três salários) e 24,39% (acima de três salários). Entre mulheres negras, esse percentual é de 19,5%. No entanto, nenhuma parcela da população tem acesso próximo a estações de transporte de média ou alta capacidade, evidenciando a falta de infraestrutura de transporte coletivo eficiente.

A segurança viária é outro ponto crítico: a taxa de mortalidade no trânsito é de 37,66 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas os mais afetados (21,06 mortes), seguidos por ocupantes de automóveis (6,7) e pedestres (4,15). 70,34% das vítimas fatais são pessoas negras, destacando desigualdades raciais nesse contexto. As internações por acidentes de trânsito chegam a 429,15 por 100 mil hab., com os motociclistas correspondendo a 348,87 casos, reforçando a vulnerabilidade desse grupo.

Esses dados revelam a necessidade de políticas públicas que melhorem a infraestrutura urbana, ampliem o acesso a transportes sustentáveis e reduzam os riscos no trânsito, especialmente para grupos mais vulneráveis.

Porto Velho (RO)

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Em Porto Velho, capital de Rondônia, a taxa de motorização na cidade é de 597,61 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma alta dependência do transporte individual. Quanto à acessibilidade, apenas 42,05% dos domicílios têm calçadas no entorno, e um percentual mínimo (1,19%) conta com rampas para cadeirantes, evidenciando desafios na inclusão de pessoas com mobilidade reduzida.

O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 28,20 minutos, enquanto 7,38% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. A infraestrutura cicloviária ainda é limitada, com apenas 4,34% da população residindo próximo a vias adequadas para bicicletas, sendo que esse acesso é ligeiramente maior entre grupos de maior renda (6,72% para quem ganha acima de 3 salários mínimos). Mulheres negras têm 6,05% de proximidade, enquanto a população de baixa renda (até ½ salário mínimo) apresenta 5,05%.

Chama a atenção a ausência de estações de transporte de média e alta capacidade na cidade, com 0% da população tendo acesso a esse tipo de infraestrutura, independentemente de renda ou perfil demográfico. 

Nos aspectos ambientais, as emissões de CO₂ per capita chegam a 1.400,32 kg por habitante, além de 278,45 gramas de material particulado e 5.898,46 gramas de NOx por pessoa, indicando um significativo impacto da queima de combustíveis.

A violência no trânsito é outro problema grave, uma vez que a taxa de mortalidade é de 17,85 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas as maiores vítimas (8,93/100 mil). Pedestres e ciclistas correspondem a 1,46 e 1,09 mortes/100 mil, respectivamente. 68,37% das vítimas fatais são pessoas negras, destacando desigualdades raciais nesse contexto. As internações por acidentes de trânsito atingem 402,25/100 mil habitantes, com os motociclistas novamente liderando (249,99/100 mil).

Esses dados revelam a necessidade de políticas públicas que melhorem a infraestrutura urbana, ampliem o transporte sustentável e reduzam as disparidades socioeconômicas e ambientais em Porto Velho.

Rio Branco (AC)

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Rio Branco, capital do Acre, apresenta uma taxa de motorização de 542,10 veículos para cada mil habitantes, indicando um uso significativo de transporte individual. No entanto, a infraestrutura urbana ainda apresenta desafios: apenas 30,58% dos domicílios têm calçadas no entorno, e somente 6,53% possuem rampas para cadeirantes, o que pode dificultar a acessibilidade.

O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 25,80 minutos, e 4,8% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. A cidade também enfrenta questões ambientais relacionadas ao transporte, com emissões per capita de 715,20 kg de CO₂, 121,46 gramas de material particulado e 2.287,42 gramas de NOx devido ao uso de combustíveis.

A infraestrutura cicloviária atende apenas 9% da população, com desigualdades socioeconômicas: enquanto 18,92% das pessoas com renda acima de três salários mínimos têm acesso, apenas 6,28% daqueles que ganham até meio salário mínimo estão próximos a ciclovias. Entre as mulheres negras, o percentual é de 9,03%.

Quanto ao transporte público, nenhuma parcela da população reside próxima a estações de média ou alta capacidade, independentemente de renda ou gênero.

A taxa de mortalidade no trânsito é de 15,26 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas os mais vulneráveis (3,81 mortes/100 mil), seguidos por pedestres (0,72/100 mil) e ciclistas (0,24/100 mil). 82,81% das vítimas fatais são pessoas negras, evidenciando um grave viés racial.

As internações por acidentes de trânsito chegam a 299,93 por 100 mil habitantes, com destaque para motociclistas (86,91 internações/100 mil), refletindo a necessidade de políticas públicas mais eficazes para reduzir esses índices.

Em resumo, Rio Branco enfrenta desafios importantes em mobilidade urbana, acessibilidade e segurança viária, com disparidades socioeconômicas e raciais que demandam ações integradas para promover um transporte mais inclusivo e sustentável.

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