Dados da plataforma MobiliDADOS, especializada em indicadores de mobilidade e desenvolvimento urbano, revelam os principais desafios enfrentados pelas cidades brasileiras em termos de acessibilidade, emissões de poluentes, tempo de deslocamento e segurança viária. Os números mostram disparidades socioeconômicas e a urgência de políticas públicas mais eficientes para garantir mobilidade sustentável e inclusiva. Neste artigo, traremos os dados das capitais da Região Sudeste, contemplando São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Vitória.
São Paulo
A taxa de motorização em São Paulo, capital, é de 784,85 veículos para cada mil habitantes, refletindo a alta dependência do transporte individual. Esse cenário contribui para as elevadas emissões de poluentes, sendo 642 kg de CO₂ por habitante, 127g de material particulado (MP) por habitante e 2.319g de NOx por habitante. Esses índices reforçam a necessidade de investimentos em transporte público e modais sustentáveis para reduzir a poluição atmosférica.
Apesar de 92,59% dos domicílios terem calçadas no entorno, apenas 9,13% possuem rampas para cadeirantes, evidenciando a falta de acessibilidade. Quando o assunto é infraestrutura cicloviária e transporte de média/alta capacidade, os dados mostram desigualdades sociais, como o fato de apenas 27,73% da população viver próxima a ciclovias, sendo que apenas 16,13% são pessoas com renda de até meio salário mínimo.
No transporte público, 24,05% da população mora perto de estações, mas esse acesso é três vezes maior para quem ganha acima de 3 salários mínimos (35,53%) em comparação com quem ganha até meio salário (12,47%). Mulheres negras são as mais prejudicadas, pois apenas 15,8% têm acesso a ciclovias e 12,21% a estações de transporte.
O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 50,9 minutos, e 31,03% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. A violência no trânsito também preocupa e registra média de 5,53 mortes por 100 mil habitantes, sendo motociclistas (2,53) e pedestres (1,58) os mais vulneráveis. 47,15% das vítimas fatais são pessoas negras. As internações por acidentes chegam a 93,6 por 100 mil habitantes, com destaque para motociclistas (61,61).
Os dados da MobiliDADOS mostram que, apesar dos avanços, as cidades brasileiras ainda enfrentam desigualdades no acesso à mobilidade, altas emissões de poluentes e riscos no trânsito. Especialistas defendem a expansão de transporte público de qualidade; investimento em infraestrutura cicloviária e acessível; além de políticas de segurança viária com foco em grupos vulneráveis.
A plataforma, que disponibiliza todos os dados brutos e metodologias, é uma ferramenta essencial para subsidiar políticas públicas mais eficientes e inclusivas.
Belo Horizonte
Belo Horizonte (MG) registra mais de 1.100 veículos para cada 1.000 habitantes, refletindo uma cidade altamente dependente do transporte individual. Os dados revelam, porém, disparidades no acesso a infraestrutura urbana: enquanto 93,7% dos domicílios têm calçadas no entorno, apenas 9,6% contam com rampas para cadeirantes, evidenciando desafios na acessibilidade.
O uso intensivo de veículos impacta diretamente a qualidade de vida: cada belo-horizontino emite, em média, 710 kg de CO₂ por ano, além de 1846 g de NOx e 118 g de material particulado, poluentes ligados a doenças respiratórias. O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 39,4 minutos, com 16,55% da população gastando mais de uma hora nesse trajeto.
Apenas 22,33% da população vive próximo a estações de transporte de média e alta capacidade, percentual que cai para 12,24% entre quem ganha até meio salário mínimo e sobe para 22,12% na faixa acima de três salários. Mulheres negras são as mais prejudicadas, sendo que só 15% têm acesso fácil a estações.
Na mobilidade ativa, só 15,23% dos moradores estão perto de ciclovias, com diferença clara por renda: 16,73% dos mais ricos contra 12,07% dos mais pobres. A cobertura cicloviária também é insuficiente, considerando que apenas 40% das estações de transporte têm estrutura para bikes.
A taxa de mortalidade no trânsito é de 10,67 mortes por 100 mil habitantes, sendo pedestres (4,11) e motociclistas (3,04) as maiores vítimas. Pessoas negras representam 62,59% dos óbitos. Nas internações, os motociclistas lideram (211,22 por 100 mil), seguidos por pedestres (56,53).
Os números mostram uma cidade que, apesar da infraestrutura urbana presente, ainda enfrenta desigualdades no acesso ao transporte, poluição elevada e violência no trânsito, com impactos maiores sobre populações vulneráveis. A expansão de transporte público e ciclovias, além de políticas de segurança viária, surgem como caminhos urgentes.
Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro possui uma taxa de motorização de 457,85 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma cidade dependente do transporte individual. No entanto, os desafios na mobilidade urbana vão além do trânsito intenso, já que o tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 46,3 minutos, e 25,34% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto.
Enquanto 85,9% dos domicílios têm calçadas no entorno, apenas 8,64% contam com rampas para cadeirantes, evidenciando a falta de preparo da cidade para pessoas com mobilidade reduzida.
Quase metade da população (45,92%) mora perto de estações de transporte de média e alta capacidade, mas a proximidade varia drasticamente conforme a renda, uma vez que apenas 28,06% das pessoas que ganham até meio salário mínimo têm essa facilidade, contra 52,32% daquelas com renda acima de três salários.
Já as ciclovias atingem apenas 16,88% da população, com disparidades ainda maiores: mulheres negras (11,99%) e moradores de baixa renda (12,15% para quem ganha até meio salário) têm menos acesso a essa infraestrutura.
Cada carioca emite, em média, 470,54 kg de CO₂ por ano devido ao uso de combustíveis. Além disso, os sinistros no trânsito matam 9,87 pessoas a cada 100 mil habitantes, sendo os pedestres as maiores vítimas (4,31 mortes/100 mil). Motociclistas representam 1,15 mortes/100 mil, mas lideram em internações (28,74/100 mil). A população negra corresponde a 64,87% das mortes no trânsito, mostrando um viés racial na letalidade.
Os dados revelam um Rio de Janeiro com mobilidade desigual, pois enquanto parte da população tem acesso a transporte rápido e sustentável, outra parcela enfrenta longos deslocamentos, falta de acessibilidade e maior exposição a acidentes e poluição. A cidade precisa de políticas públicas que reduzam essas disparidades e garantam um transporte mais seguro e inclusivo.
Vitória
A capital capixaba apresenta um cenário misto quando o assunto é mobilidade urbana, infraestrutura e impactos ambientais. Enquanto a taxa de motorização é elevada, com 587,16 veículos para cada mil habitantes, a acessibilidade para pedestres e cadeirantes ainda é desigual, considerando que 83,22% dos domicílios têm calçadas no entorno, mas apenas 19,86% possuem rampas para cadeirantes.
O tempo médio de deslocamento casa-trabalho em Vitória é de 28 minutos, e apenas 5,45% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. No entanto, as emissões de poluentes preocupam: cada habitante emite 798,41 kg de CO₂ por ano, além de 139,45 gramas de material particulado e 2.481,97 gramas de NOx devido ao uso de combustíveis.
Metade da população (50,03%) vive próxima à infraestrutura cicloviária, mas há disparidades econômicas e raciais, já que 32,20% das pessoas que ganham até meio salário mínimo têm acesso a ciclovias; e 33,87% dos que recebem mais de três salários mínimos estão próximos a essa estrutura. Mulheres negras (32,91%) e pessoas com renda de até um salário mínimo (33,04%) têm acesso ligeiramente menor.
A taxa de mortalidade no trânsito é de 43,84 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas os mais vulneráveis (15,70 mortes), seguidos por pedestres (11,37) e ciclistas (5,14). Pessoas negras representam 60,49% das vítimas fatais.
As internações por acidentes de trânsito também são altas (394,90 por 100 mil hab.), com motociclistas liderando (223,62), enquanto pedestres (59,47) e ciclistas (58,23) aparecem em seguida.
Os dados revelam avanços na infraestrutura, mas também desigualdades no acesso e graves problemas de segurança viária e poluição. Enquanto parte da população usufrui de mobilidade eficiente, outros grupos – especialmente negros, pedestres e motociclistas – enfrentam riscos diários. A cidade precisa de políticas públicas mais inclusivas e sustentáveis para reduzir essas disparidades.