Dez anos. Foi preciso esperar todo esse tempo, para que o mercado brasileiro de chassis e carrocerias para ônibus voltasse a acusar um volume satisfatório de vendas e produção. Como aconteceu em 2024, quando mais de 22 mil plataformas e 24 mil carrocerias foram adquiridas por operadores urbanos e rodoviários evidenciando, pela ordem, um incremento de 9% e 25% na comparação com o ano anterior.
Foi o que mostrou o Ranking 2024 do Mercado de Veículos Comerciais, publicado na edição de fevereiro de Frota&Cia, com todos os números relativos ao comportamento da atividade no ano que passou. E que revelou, ainda, os fabricantes que mais se destacaram no ano e conquistaram o Prêmio Lótus Campeão de Vendas 2025.
Agora, para completar esse trabalho, Frota&Cia de março explica as razões que levaram o mercado de ônibus a alcançar esse notável desempenho no ano que passou. E as projeções para 2025, na visão dos principais players da indústria.
Líder histórica no mercado de chassis para ônibus, a Mercedes-Benz considera que alcançou uma boa performance em 2024, apesar de ter sido a única montadora que acusou queda nos volumes e na participação de mercado. Tudo por culpa da ausência no Programa Caminho da Escola, principal alavancador das vendas de ônibus no ano passado.
Walter Barbosa (foto) vice-presidente de Vendas, Marketing, Peças e Serviços Ônibus da Mercedes-Benz minimiza o fato, ao enfatizar que a empresa manteve a liderança do segmento, com 55% de participação. E que a estabilização do mercado pós-pandemia era um movimento mais que esperado pelos fabricantes de chassis e carrocerias.
Múltiplos fatores
Segundo colocada no ranking de fabricantes, a Volkswagen Caminhões e Ônibus foi umas das beneficiárias do programa escolar, o que levou a marca a alcançar 26% de participação no mercado geral, ante 22% do ano anterior. Jorge Carrer (foto), diretor de Vendas Ônibus da montadora, comenta que recuperação do mercado foi decorrência de inúmeros fatores. A começar da demanda por transporte coletivo pós-pandemia, a maior disponibilidade de crédito e a retomada dos investimentos por parte das prefeituras e Estados.
Outra favorecida com o avanço do transporte escolar foi a Agrale, ainda que as Atas de Sessões Públicas para a compra de ônibus não tenham sido cumpridas integralmente. De acordo com Edson Ares Martins, diretor de Vendas da montadora gaúcha, apenas 2.535 ônibus de um total de 7,1 mil unidades licitadas foram entregues às prefeituras municipais através do programa federal.
A necessidade de renovação de frotas também foi apontada como fator importante no aumento dos pedidos de ônibus, na visão de Gustavo Cecchetto (foto), gerente de Vendas de Soluções para Mobilidade, da Scania. “Acrescente a isso as várias iniciativas de descarbonização do transporte nas cidades, através da oferta de ônibus a diesel que oferecem mais eficiência energética. Ou de propulsão elétrica e ainda movidos a biometano”, completa.
Aumento da demanda
Mesmo com recuo na oferta de oferta de ônibus urbanos da marca, a Volvo Bus comemorou o incremento de 40% nas vendas dos modelos rodoviários, em especial na versão 8×2. “O segmento rodoviário continua em recuperação desde o final da pandemia, em decorrência do aumento da demanda por viagens rodoviárias, notadamente de longas distâncias”, observa André Marques (foto), presidente da Volvo Buses Latin America.
O mesmo cenário positivo beneficiou os fabricantes de carrocerias para ônibus, como explica o diretor de Operações Comerciais Mercado Interno e Marketing da Marcopolo, Ricardo Portolan. ”Mesmo sem o fornecimento de volumes previstos para os importantes segmentos de elétricos e Caminho da Escola, a indústria brasileira de ônibus vivenciou um crescimento importante em 2024”. Dessa forma, o mercado retoma os níveis históricos de produção, após uma década marcada pela inconsistência e renovação inferior à necessária, acrescenta o executivo.
Alçada à condição de líder no ranking de fabricantes pela terceira vez na história, por conta das vendas de micros e versões urbanas, a Caio admite a virada do mercado. Motivada, em boa parte, pela necessidade de renovação das frotas urbanas e, sobretudo, a mega-licitação para a compra de mais de 15 mil ônibus para uso no transporte escolar em 2024. “Nosso retorno como parceiro de fornecimento de veículos do programa federal colaborou, e muito, para essa condição diferenciada no ano passado”, comemora Maurício Lourenço da Cunha, (foto), vice-presidente Industrial da Caio.
Previsões para ano
Por sorte, o bom desempenho em 2024 pode se repetir no ano em curso ou até superar as expectativas, na ótica dos representantes da indústria de chassis e carrocerias para ônibus. Nas contas de Walter Barbosa, da Mercedes-Benz, os volumes em 2025 poderão oscilar entre 22 mil a 25 unidades chassis licenciados.
Para tanto, o executivo aposta que o câmbio deverá impulsionar o segmento rodoviário, por encarecer os tickets aéreos, enquanto o dólar se mantiver na faixa de R$ 5,70 a R$ 6,00. “O fretamento, por sua vez, deve avançar junto com o crescimento da indústria e do PIB no país. Já o mercado urbano deverá ser impulsionado pelos programas governamentais que estão em vigor e vão continuar em 2025, caso do Pacto da Mobilidade, o Fundo Clima e o Refrota”, comenta Barbosa.
Outro fator que pode impulsionar a demanda é a tendência de eletrificação no transporte público, com a adesão de um maior número d cidades adotando metas de redução de emissões e investindo na infraestrutura de carregamento, lembra Jorge Carrer, da Volksbus.
Demanda saudável
Mesma opinião tem os encarroçadores de ônibus, que apostam em volumes crescentes em 2025, caso da Marcopolo. Ricardo Portolan (foto) lembra que a demanda por ônibus rodoviários segue saudável, tanto de veículos pesados quanto de leves. Enquanto o segmento urbano deve experimentar uma reação em 2025, com destaque para veículos de maior valor agregado como os ônibus articulados.
“A prorrogação da licitação de 2023 por mais um ano do Caminho da Escola transfere, por sua vez, o potencial de unidades não entregue em 2024 para 2025 e o início de 2026, com volumes remanescentes de até 5.189 unidades durante esse período”, ressalta o diretor da Marcopolo.
Em que pese esse cenário de sonhos, também pairam nuvens sombrias no caminho. Como o aumento das taxas de juros, que dificultam o acesso às linhas de crédito e podem impactar negativamente as operadoras do transporte rodoviário de passageiros, alerta Edson Martins, da Agrale.
Outro fator adverso, segundo o diretor, é a instabilidade econômica do país, que pode reduzir os investimentos tanto público quanto privados no setor de transportes e afetar a renovação da frota nacional de ônibus.
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