Na busca do equilíbrio, momento da Intralogística é de transição

Evento debateu o impacto da IA e da automação na intralogística e alertou para a necessidade de investir em tecnologia e a preparação de pessoas

Por Gustavo Queiroz

- outubro 24, 2025

Na busca do equilíbrio, momento da Intralogística é de transição

A Intra-Log Expo South America, realizada no período de  23 a 25 de setembro, no Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte, em São Paulo (SP), foi palco para discutir o presente e o futuro da movimentação e armazenagem de materiais no país. Em painéis técnicos, especialistas de diferentes vertentes concordaram que a intralogística está no centro de uma transformação radical, impulsionada pela Inteligência Artificial (IA) e pela automação. Mas, para tanto, vai exigir investimentos paralelos em governança de dados e, principalmente, no capital humano para ser sustentável. Confiram quatro opiniões a respeito do tema.

Reinaldo Moura (IMAM)A visão macro da transição foi apresentada por Reinaldo Moura (foto), presidente do Conselho do IMAM, que traçou um panorama histórico e técnico da evolução do setor. “Em um passado recente, o picking se fazia de caixa fechada. Hoje temos o picking unitário, feito até por humanoides, manipulando peças de confecção, algo impensável tempos atrás“. Em sua exposição, o executivo definiu a intralogística como o “planeta” dentro do “universo” da cadeia de suprimentos e detalhou os pilares do que chamou de “Infralogística 5.0”. O conceito abrange armazéns automatizados, empilhadeiras autônomas, shuttles e a computação quântica aplicada à roteirização complexa. “O material andava muito mais rápido do que a informação. Hoje, é o contrário, pois a informação é no clique, e o material próximo disso. Estamos além da Logística 4.0, discutindo conceitos da 5.0, que aprofunda a hiperpersonalização”, afirma resoluto.

Multiplicadores de processos

Alexandre SouzaEssa aceleração tecnológica, no entanto, esbarra em um desafio crítico: a preparação das pessoas. Alexandre Souza (foto), especialista em educação corporativa da Leroy Merlin, alertou para o risco de um abismo entre a velocidade da tecnologia e o desenvolvimento de habilidades. “A questão central é como preparamos os humanos para essa transição? Será que estamos gastando a mesma energia para garantir a inclusão das pessoas, para que elas não só consumam, mas também fomentem a transformação tecnológica?“, questiona o profissional, ao defender que a solução está no propósito e nas soft skills. “Temos que transformar nossos colaboradores em multiplicadores de propósito, não apenas de processos. O propósito não é mover um produto de A para B, mas resolver a necessidade de alguém. Isso muda o jogo. As soft skills se tornaram o novo ‘hard skill’“.

Fábricas no escuro

Gil GiardeliA dimensão exponencial dessa transformação foi detalhada pelo futurista Gil Giardeli (foto), que citou exemplos concretos da chamada Indústria 6.0. “A China já tem 10.000 dark factories (fábricas escuras totalmente automatizadas). No Brasil, isso avança mais lentamente porque, infelizmente, a mão de obra humana ainda é muito barata“, ressalta. Giardeli lembra que vivemos uma “mudança de era”, não uma era de mudanças, e que o conceito-chave é a Sociedade 5.0, baseada na fusão entre humano e máquina. “O futuro já chegou, só está mal distribuído. A próxima onda pós-smartphone será de agentes autônomos de IA que podem executar tarefas complexas de logística. A Torre de Babel vai cair à nossa frente com dispositivos de tradução universal em tempo real“, previu. Para navegar por esse cenário, o painelista e apontou duas habilidades essenciais: “Ser sereno nunca foi tão importante, e precisamos de alfabetização científica“.

Desmitificando a tecnologia

luis toscanoA materialização prática desses agentes de IA no contexto empresarial foi o tema de Lucas Araújo (foto), diretor de produtos de IA da Semantix. Ele desmistificou a tecnologia, diferenciando um chatbot genérico de um agente de IA corporativo para intralogística. “Um agente de IA não é um chat que sabe tudo. É um funcionário virtual que você precisa treinar, dar ferramentas específicas e definir regras claras de atuação“, explicou. Araújo enfatizou que o sucesso da implementação depende de uma base sólida de dados, não apenas do algoritmo de IA. “O principal desafio não é a IA. Está no dado. Se a informação não for qualificada e governada, a IA apenas exporá todos os problemas. A jornada correta começa com a descoberta, arquitetura e governança dos dados, para só então criar agentes que atuem de forma segura em sistemas como WMS e ERP“.

Equilíbrio estratégico

A convergência das palestras aponta para um caminho claro, destacando que a intralogística brasileira avança para um patamar de alta automação e inteligência, com agentes de IA otimizando processos. No entanto, a sustentabilidade dessa jornada depende de um equilíbrio estratégico entre investir em tecnologia de ponta e desenvolver as competências humanas para liderar e dar significado a essa nova era.

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