Elon Musk coleciona polêmicas para fomentar a Tesla

Bilionário costuma se utilizar de bravatas como cortina de fumaça para proteger os interesses comerciais de suas empresas

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Elon Musk, CEO da Tesla.

O bilionário Elon Musk é um dos personagens mais controversos do nosso tempo. Frequentemente envolto em polêmicas, o executivo mirou os seus ataques pessoais, que possuem grande poder de influência, aos poderes executivo e judiciário do Brasil. Esse tipo de comportamento não é novidade na trajetória de Musk, que coleciona uma série de problemas e embates geopolíticos envolvendo a indústria automotiva voltada para a eletromobilidade.

Há dois temas sensíveis neste sentido, sendo uma envolvendo a sua própria montadora de veículos elétricos e outra em disputas ferrenhas com a marca chinesa BYD em mercados estratégicos.

Concorrência

BYD
Painel de um BYD Song | Imagem meramente ilustrativa | Divulgação

A disputa pelo mercado da eletromobilidade ganhou contornos geopolíticos em diversos mercados. Em janeiro deste ano, o CEO da Tesla, Elon Musk, solicitou a implementação de barreiras comerciais contra carros chineses baratos ao governo dos Estados Unidos. Segundo o executivo, montadoras como a BYD representam uma “ameaça significativa” aos concorrentes ocidentais. Com base neste argumento, disse que somente com uma sobretaxa seria possível “igualar o jogo”. “Se não houver barreiras comerciais estabelecidas, elas praticamente demolirão a maioria das outras empresas automobilísticas do mundo. Eles são extremamente bons”, declarou Musk em entrevista.

Após este pedido, o presidente dos EUA, Joe Biden, informou que seu governo não permitirá que os chineses dominem o mercado de veículos elétricos.

Na Índia, por exemplo, Musk se opôs a questões políticas locais, mas acabou acatando as decisões judiciais e anunciou o equivalente a US$ 3 bilhões (cerca de R$ 15,190 bi na cotação de 09/04/23) na construção de uma fábrica local para competir com a BYD naquele país.

Em 2023, a Tesla manifestou interesse em comprar a Sigma Lithium, que é uma das maiores mineradoras de lítio do planeta, por se tratar de minério essencial para a composição de suas baterias. A empresa apresentou significativa valorização de mercado após a descoberta de novas reservas em Minas Gerais. Mas, a BYD passou por cima e passou a negociar a compra da companhia. A brasileira Vale é uma das principais fornecedoras de lítio para a Tesla. Todavia, não se trata somente de uma questão de compra de insumos e, sim, de controle de mercado.

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Tesla Cybertruck | Imagem meramente ilustrativa | Divulgação

Dessa forma, o Brasil se mostra um país estratégico para os negócios de Elon Musk, que envolvem outras empresas, como o próprio X; a SpaceX, que atua no ramo aeroespacial e que visa a colonização e a mineração de outros planetas, bem como o turismo espacial; a Tesla, que visa liderar a eletromobilidade e a automação do transporte no mundo; a The Boring Company, que atua na construção de túneis urbanos para a formação de uma rede subterrânea de transportes; e a Neuralink, que desenvolve interfaces cérebro-computador para tratar doenças neurológicas e fundir humanos com a inteligência artificial.

Tesla Gigafactory Berlin-Brandenburg
A Gigafactory Berlin-Brandenburg é a primeira fábrica da Tesla na Europa | Imagem meramente ilustrativa | Divulgação

No campo do mercado de capitais, a disputa também é acirrada. Em 2023, a Tesla tinha um valor de mercado da ordem de US$ 750 bilhões, enquanto a BYD valia US$ 90 bilhões. A previsão de faturamento para 2024 é de US$ 112 bilhões, com lucro de US$ 7,1 bilhões, para a chinesa, enquanto a marca estadunidense pode arrecadar US$ 114 bilhões, com lucros da ordem de US$ 8,7 bilhões. Dessa forma, o volume de vendas da BYD deve aumentar em 29% ante uma previsão de 19% da Tesla. Sobre a previsão de lucro, o da chinesa crescerá 33% e o da empresa de Musk se manterá no mesmo patamar.

No último trimestre de 2023, a Tesla havia entregue 484.507 veículos aos seus clientes, enquanto a BYD comercializou 526.409 unidades. Mas essa diferença é explicável, afinal a chinesa possui um portfólio de produtos muito mais amplo e mais barato, atuando com diversos modelos de automóveis e de veículos comerciais, ante uma gama formada por um caminhão, uma picape e dois automóveis da rival. As estratégias de mercado também são distintas, já que a Tesla mira macrorregiões como a Europa, os Estados Unidos e a China, enquanto a BYD opera com força nos mercados em desenvolvimento, como o Brasil, por exemplo. A chinesa também conta com modelos a combustão e híbridos, além dos elétricos, o que faria o volume de vendas saltar substancialmente sobre o número apresentado anteriormente, enquanto a estadunidense opera, somente, com produtos elétricos.

Tesla

Com a promessa de veículos altamente tecnológicos de motorização elétrica, direção autônoma e alto grau de sofisticação e conforto no interior de seus veículos, Musk conseguiu emplacar a marca Tesla muito rapidamente, atingindo um volume de escala altíssimo. O modismo tornou seus produtos desejados em todo o planeta, mas o que parecia ser somente um case de sucesso emblemático, se tornou uma pilha enorme de tragédias e processos judiciais que impactaram, diretamente, na fuga de acionistas.

Tesla Full Self-Driving
Demonstração do sistema Tesla Full Self-Driving mostra motorista sem interagir com o veículo durante viagem | Imagem retirada de vídeo oficial

Dos cerca de 765.000 automóveis Tesla equipados com o Autopilot e o Full Self-Driving, que são os sistemas de assistência de condução e direção autônoma de Nível 2 na escala SAE, 273 unidades estiveram envolvidas em acidentes, o que representa 70% dos 392 acidentes acerca de todos os sistemas avançados de assistência ao condutor no ano de 2022.

Após investigações, agências reguladoras norte-americanas descobriram que os veículos da Tesla desligavam cerca de um segundo antes do acidente. Portanto, para evitar a subnotificação dos acidentes, as montadoras passaram a ser obrigadas em divulgar todos os acidentes em que este tipo de software estiver sendo usado por um período de até trinta segundos após o impacto.

A Administração Nacional de Segurança no Trânsito Rodoviário (NHTSA) dos Estados Unidos destacou que, até meados de 2022, 39 dos 48 acidentes que constam na lista de investigações especiais de acidentes da NHTSA envolveram veículos da Tesla. Tais ocorrências resultaram em 19 vítimas fatais. Uma grande parte destes episódios ocorreram com veículos que estavam estacionados ou, até mesmo, atropelando motocicletas, porque os sistemas, simplesmente, não conseguiam detectar os objetos.

Em 2021, o sistema de condução autônoma fez com que um veículo da marca tentasse passar por baixo de um bloqueio de uma ferrovia, justamente, enquanto um trem passava em alta velocidade. Há casos de colisões em paredes de estacionamento, de acelerações em curvas perigosas, entre outros sinistros, incluindo a explosão do pack de baterias.

Em exemplo de contradição, o site da Tesla alerta para a necessidade de atenção do motorista, que deve manter as mãos no volante, já que seus veículos não são totalmente autônomos. O problema é que o material publicitário da marca indicava que o condutor seria apenas um passageiro e que não precisaria de qualquer interação na direção do produto.

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Tesla Semi | Imagem meramente ilustrativa | Divulgação
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