Dados recentes da MobiliDADOS revelam que as três capitais da região Sul (Curitiba/PR, Florianópolis/SC e Porto Alegre/RS) enfrentam desafios estruturais em mobilidade urbana, marcados por desigualdades socioeconômicas, falta de acessibilidade e altos índices de poluição. Enquanto Curitiba lidera a taxa de motorização (927 veículos por mil habitantes), Florianópolis e Porto Alegre também dependem excessivamente do transporte individual, com infraestrutura precária para pedestres, ciclistas e pessoas com deficiência.
Acessibilidade é um problema comum, considerando que menos de 25% das calçadas nas três cidades têm rampas para cadeirantes. O transporte público é desigual, pois em Porto Alegre, apenas 33% da população vive perto de estações de média e alta capacidade, enquanto em Florianópolis esse serviço é quase inexistente. Os impactos ambientais também preocupam e cada habitante dessas capitais emite entre 740 kg e 980 kg de CO₂ por ano, com Curitiba no topo do ranking.
Mortes no trânsito e disparidades raciais e de renda completam o cenário crítico. Os dados apontam para a urgência de políticas públicas que priorizem transporte coletivo eficiente, infraestrutura inclusiva e redução das emissões poluentes, mostrando que, por trás do desenvolvimento urbano, há uma dívida social e ambiental a ser resolvida.
MobiliDADOS: Curitiba (PR)
A capital paranaense, conhecida por seu planejamento urbano, ainda enfrenta obstáculos significativos em mobilidade, acessibilidade e impactos ambientais, segundo indicadores da MobiliDADOS. Com uma taxa de motorização de 927,41 veículos para cada mil habitantes, a cidade reflete uma dependência do transporte individual, enquanto a infraestrutura para pedestres e ciclistas segue desigual.
Apenas 66,63% dos domicílios curitibanos têm calçadas no entorno, e somente 12,5% contam com rampas para cadeirantes, evidenciando barreiras para pessoas com deficiência. A infraestrutura cicloviária atende 22,05% da população, mas com disparidades socioeconômicas: enquanto 28,48% dos moradores com renda acima de três salários mínimos vivem próximos a ciclovias, apenas 14,14% daqueles que ganham até meio salário mínimo têm o mesmo acesso. Mulheres negras são ainda mais excluídas, com apenas 12,88% próximas a essa estrutura.
O percentual de população próxima a estações de transporte de média e alta capacidade é de 41,02%, mas a diferença por renda salta aos olhos: 54,09% dos que ganham mais de três salários mínimos estão próximos a estações, contra 26,27% dos que recebem até meio salário. Mulheres negras de baixa renda são as mais prejudicadas, com apenas 23,63% de proximidade.
O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 33,9 minutos, mas 10,84% dos curitibanos gastam mais de uma hora nesse trajeto. A emissão de poluentes também preocupa: cada habitante emite 980,43 kg de CO₂ por ano, além de 166,56 gramas de material particulado e 2.778,97 gramas de NOx, agravando problemas ambientais e de saúde pública.
A taxa de mortalidade no trânsito é de 15,07 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas as maiores vítimas (6,67/100 mil). Pedestres e ciclistas correspondem a 3,77 e 1,32 mortes por 100 mil, respectivamente. Pessoas negras representam 29,05% das vítimas fatais, destacando um viés racial nos sinistros. As internações por acidentes de trânsito chegam a 46 por 100 mil habitantes, com motociclistas novamente no topo (24,69/100 mil).
Os dados revelam a necessidade de políticas públicas mais inclusivas, com investimentos em transporte coletivo, infraestrutura segura para modais ativos e redução das desigualdades socioespaciais. Enquanto Curitiba é referência em urbanismo, os números mostram que há caminhos a percorrer para uma cidade verdadeiramente acessível e sustentável.
MobiliDADOS: Florianópolis (SC)
Florianópolis, conhecida por suas praias deslumbrantes e qualidade de vida, enfrenta desafios significativos em mobilidade urbana, acessibilidade e impactos ambientais, segundo dados recentes. A capital catarinense tem uma das maiores taxas de motorização do país, com aproximadamente 684 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma dependência intensa do transporte individual.
Apesar de 62,3% dos domicílios terem calçadas em seu entorno, apenas 7,5% contam com rampas para cadeirantes, evidenciando uma infraestrutura urbana pouco inclusiva. O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 29,3 minutos, mas 8,2% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto, indicando disparidades na eficiência do transporte.
A emissão de poluentes preocupa: cada habitante emite, em média, 852,6 kg de CO₂ por ano, além de 1,49 kg de NOx e 113,8 gramas de material particulado, consequências diretas do uso massivo de combustíveis fósseis. O trânsito também é uma questão de segurança pública. A taxa de mortalidade em acidentes é de 8,32 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas as maiores vítimas (3,87/100 mil), seguidos por pedestres (2,32/100 mil) e ciclistas (0,77/100 mil). Pessoas negras representam 11,6% das vítimas fatais, apesar de constituírem parcela menor da população local.
A infraestrutura cicloviária atende apenas 32,4% da população, com clara desigualdade socioeconômica: enquanto 42,6% dos moradores com renda acima de três salários mínimos têm acesso, apenas 18,5% daqueles que ganham até meio salário mínimo estão próximos a vias adequadas para bicicletas. Mulheres negras são ainda mais excluídas, com apenas 15,8% de cobertura.
Chama atenção a ausência total de estações de transporte de média e alta capacidade próximas à população, independentemente de renda ou perfil demográfico—um sinal de que o transporte público estruturante ainda é uma lacuna na ilha.
Os dados revelam uma Florianópolis dividida entre a beleza natural e os obstáculos urbanos. Enquanto parte da população usufrui de relativa comodidade, outros grupos—especialmente os mais pobres, mulheres negras e pessoas com deficiência—enfrentam dificuldades diárias em deslocamentos, poluição e risco de vida no trânsito. A cidade, que atrai turistas de todo o mundo, precisa conciliar seu crescimento com políticas de mobilidade sustentável e inclusiva para garantir um futuro mais equânime a todos os habitantes.
MobiliDADOS: Porto Alegre (RS)
A capital gaúcha apresenta um cenário misto quando o assunto é mobilidade urbana, acessibilidade e impactos ambientais do transporte. Com uma taxa de motorização de 632 veículos para cada mil habitantes, Porto Alegre enfrenta desafios significativos em infraestrutura, segurança viária e inclusão.
Apesar de 76,97% dos domicílios terem calçadas no entorno, apenas 23,23% contam com rampas para cadeirantes, o que revela uma deficiência na inclusão de pessoas com mobilidade reduzida. O tempo médio de deslocamento entre casa e trabalho é de 33,6 minutos, enquanto 10,05% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto.
Apenas 33,05% dos porto-alegrenses vivem próximos a estações de transporte de média e alta capacidade, e somente 23% dessas estações estão integradas à infraestrutura cicloviária. As ciclovias, por sua vez, atendem apenas 18,56% da população, com acesso quase nulo para grupos de baixa renda e mulheres negras.
A emissão de poluentes preocupa: cada habitante produz, em média, 740,3 kg de CO₂ por ano, além de 107,51 gramas de material particulado e 1.612 gramas de NOx. Os sinistros de trânsito também deixam marcas e a taxa de mortalidade é de 7,77 mortes por 100 mil habitantes, sendo pedestres (2,48) e motociclistas (2,35) os mais vulneráveis. As internações por acidentes chegam a 129,37 por 100 mil habitantes, com motociclistas representando mais da metade dos casos (71,44).
Ainda de acordo com o MobiliDADOS, apesar de avanços em infraestrutura básica, Porto Alegre ainda precisa melhorar em acessibilidade, redução de desigualdades no transporte e segurança viária para garantir uma mobilidade mais justa e sustentável.