BeVant antecipa a descarbonização do transporte pesado

Dados auditados revelam que o biocombustível da Be8 reduz em 65% as emissões de CO2 em caminhões e ônibus, oferecendo uma solução prática e sem necessidade de novas frotas para cumprir metas ambientais

Por Gustavo Queiroz

- outubro 23, 2025

Rota Sustentável COP 30

Em um movimento estratégico que antecipa os debates da COP 30, a Mercedes-Benz do Brasil e a Be8, maior produtora de biodiesel do país, uniram forças em uma iniciativa de fôlego: a Rota Sustentável COP 30. O projeto, que envolve uma caravana de dois caminhões e dois ônibus percorrendo mais de 4.000 quilômetros do Sul ao Norte do Brasil, entre Passo Fundo (RS) a Belém (PA), tem como objetivo central validar, em condições reais de estrada, o desempenho e o potencial de descarbonização do BeVant, um biocombustível avançado desenvolvido pela Be8. A ação transcende um mero teste de combustível, posicionando-se como uma demonstração prática do potencial brasileiro na vanguarda da transição energética do setor de transportes.

O contexto para esta empreitada é delineado pela iminente Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será sediada em Belém, no Pará. Luiz Carlos Moraes, diretor de Comunicação Corporativa e Relações Institucionais da Mercedes-Benz do Brasil, enfatiza o compromisso da montadora com a descarbonização, ancorado em uma estratégia de multi-soluções. “Para o nosso setor da mobilidade, temos um grande desafio, a descarbonização. Sabemos que as realidades sobre infraestrutura nos diversos países, legislações regionais e a própria maturidade de cada mercado são aspectos que naturalmente levam ao desenvolvimento de variadas alternativas“, afirmou Moraes durante o evento de lançamento da rota, na fábrica da montadora em São Bernardo do Campo. Ele destacou que, enquanto a Europa avança na eletromobilidade, o Brasil possui uma vantagem competitiva única representada pelos biocombustíveis, perfeitamente alinhada à sua matriz energética renovável.

Erasmo Carlos Battistella, CEO da Be8
Erasmo Carlos Battistella, fundador e CEO da Be8

A peça central desta demonstração é o BeVant, apresentado por Erasmo Carlos Battistella, CEO da Be8, não como um simples combustível, mas como uma “nova molécula” patentiada pela empresa. “Nós acreditamos, assim como a Mercedes, que a descarbonização vai acontecer sob diferentes rotas e diferentes tecnologias. O BeVant é o HVO brasileiro“, declarou Battistella, referindo-se ao Óleo Vegetal Hidrotratado, um biocombustível avançado global. A grande vantagem do BeVant, segundo ele, reside em sua combinação de performance, sustentabilidade e viabilidade econômica. “Ele consegue entregar uma descarbonização de no mínimo 50% no ciclo completo, pode ser utilizado puro (100%) em qualquer motor diesel sem necessidade de adaptações e está disponível agora, com um custo condizente à realidade de países em desenvolvimento, cerca de 10% superior ao diesel comum, mas significativamente mais barato que o HVO importado”, detalhou o executivo.

A Rota Sustentável foi meticulosamente planejada para gerar dados robustos e auditáveis. Quatro veículos Mercedes-Benz com motores Euro 6 (dois caminhões Actros 2553 e dois ônibus rodoviários) percorrem o trajeto de Passo Fundo (RS) a Belém (PA). Dois deles utilizam diesel B15 (combustível comercial) e os outros dois são abastecidos com BeVant 100%. Todo o processo é auditado pelo Instituto Mauá de Tecnologia, que valida a metodologia de cálculo das emissões de CO2 equivalente, seguindo padrões internacionais como o protocolo GHG e a ISO 14064. Camilo Adas, diretor de Transição Energética e Relações Institucionais da Be8, explicou a abrangência da análise. “Os cálculos comparativos de emissões de CO2 equivalente serão suportados por parâmetros técnicos robustos, transparentes e auditáveis que mensurarão os impactos ambientais no ciclo do poço à roda, considerando da produção do combustível até o seu uso no veículo“.

Os primeiros resultados, divulgados após o trecho inicial entre Passo Fundo e São Bernardo do Campo, são considerados extremamente promissores. No conceito “tanque à roda”, que considera apenas as emissões do escapamento, a redução de gases de efeito estufa foi de 99%. “Isso acontece porque o combustível feito a partir de fontes renováveis como a soja já absorveu o CO2 da atmosfera durante o seu cultivo“, explicou Luiz Carlos Moraes. Já na análise do ciclo completo “poço à roda”, a redução preliminar foi de aproximadamente 65%. “Importante ressaltar que esse percentual de 65% só não é maior porque o Brasil já utiliza o B15 como combustível comercial“, complementou Moraes. Projetando os dados, a Mercedes-Benz calcula que um veículo abastecido com BeVant pode deixar de emitir cerca de 532 toneladas de CO2 equivalente ao longo de 700.000 km.

Camilo Adas reforçou a praticidade do BeVant como uma solução imediata para a descarbonização da frota existente. “Para veículos mais antigos, a recomendação é uma limpeza do tanque e troca do filtro de combustível após os primeiros 20 a 30 minutos de uso com o novo biocombustível. Isso é necessário porque o BeVant tem um poder detergente que remove as incrustações de carbono deixadas pelos combustíveis fósseis. Após essa simples adequação, o veículo pode operar normalmente, entregando a drástica redução de emissões“, detalhou Adas. Sobre o desempenho, ele foi categórico: “Nas 32 aplicações diferentes em que já testamos o BeVant, o consumo e a autonomia estão sendo equivalentes ao diesel, um para um. Estamos entregando descarbonização de mão beijada, sem precisar de nova tecnologia no veículo“.

Be8 BeVant (B100) aplicado no Mercedes-Benz Actros
O Be8 BeVant (B100) aplicado no Mercedes-Benz Actros não forma borra, de acordo com porta-voz da fabricante | Foto: GQ / Frota&Cia

A ambição comercial da Be8 é escalar a produção do BeVant conforme a demanda crescer. Atualmente, a capacidade inicial é de 120 mil litros/dia, mas a empresa possui uma infraestrutura nacional que permite expandir rapidamente essa produção. “Nós nascemos como uma empresa para a produção de biodiesel e ao longo desses 20 anos estamos trabalhando para transformar a nossa companhia numa companhia de outras soluções para a transição energética“, afirmou Erasmo Battistella, conectando a inovação ao legado da empresa. Ele também destacou o impacto socioeconômico dos biocombustíveis: “Um estudo que entregamos em Davos mostrou que os biocombustíveis no Brasil geram 13 vezes mais PIB que a produção do diesel. É uma comprovação prática de que, além de ser bom para as pessoas e para o meio ambiente, é muito bom para nossa economia“.

A Rota Sustentável COP 30 transcende os limites de uma iniciativa corporativa para se tornar um projeto de interesse nacional. Ela demonstra, com dados concretos, uma solução prática para um dos maiores desafios ambientais e de saúde pública que é a descarbonização do transporte de cargas e passageiros. Ao validar um biocombustível que reduz drasticamente as emissões poluentes, a iniciativa coloca à disposição do mercado uma tecnologia capaz de melhorar a qualidade do ar nas estradas e nas cidades, contribuindo de forma mensurável para as metas climáticas do país.

Mais do que uma vitrine tecnológica, o projeto evidencia como o Brasil pode converter seu patrimônio natural e agroindustrial em energia limpa, gerando desenvolvimento econômico de baixo carbono. Esta rota sinaliza um caminho viável para aliar a necessária transição energética à geração de emprego e renda, aproveitando recursos e infraestruturas nacionais para construir um modelo de transporte mais saudável e sustentável para a população.

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