A mobilidade urbana no Nordeste retrata desafios estruturais

Problemas como falta ou baixo acessos a sistemas de transporte de média e alta capacidades aprofundam as desigualdades sociais e raciais nas capitais nordestinas

Por Gustavo Queiroz

- julho 4, 2025

Mobilidade urbana nas capitais do Nordeste

Os dados compilados pelo portal MobiliDADOS revelam um cenário alarmante e estrutural nas capitais do Nordeste em que a mobilidade urbana não apenas reflete, mas aprofunda desigualdades sociais, ambientais e raciais. Enquanto as taxas de motorização disparam, como em Teresina (616,46 veículos por mil habitantes) e Natal (556,67), a infraestrutura para transporte coletivo, pedestres e ciclistas permanece insuficiente, precária e, sobretudo, excludente.

Um padrão perverso se repete e quanto menor a renda, maior a dificuldade de acesso a transporte digno. Em São Luís, apenas 1,57% da população que ganha até meio salário mínimo vive perto de ciclovias, contra 5,93% dos mais ricos. Em Fortaleza, onde 56,03% dos moradores têm acesso a vias cicláveis, a parcela mais pobre fica com apenas 44,61%. Mulheres negras, as mais afetadas, têm cobertura ainda menor, como em Recife, onde só 25,9% residem próximas a essa infraestrutura.

O transporte público de média e alta capacidade é quase inexistente. Em João Pessoa, Maceió e São Luís, 0% da população tem acesso a estações, enquanto em Fortaleza e Recife, o serviço chega a menos de 25% dos moradores, com exclusão gritante da baixa renda. O resultado? Deslocamentos longos (37,5 minutos em média em São Luís) e populações periféricas gastando até duas horas por dia em trajetos ineficientes.

Diante de todos os dados que veremos a seguir, fica evidente a necessidade de investir em transporte coletivo acessível e integrado, com prioridade para corredores de ônibus e metrô; redesenhar as cidades para pedestres e ciclistas, combatendo a segregação espacial; regular o uso de motos e reduzir emissões, com incentivos a energias limpas; bem como enfrentar o racismo estrutural nos dados de violência no trânsito.

Aracaju (Sergipe) 

Mobilidade urbana em Aracaju (SE) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia
Mobilidade urbana em Aracaju (SE) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia

Aracaju, capital de Sergipe, apresenta um cenário de mobilidade urbana marcado por contrastes. Com uma taxa de motorização de 514,76 veículos para cada mil habitantes, a cidade reflete a dependência do transporte individual, enquanto a infraestrutura para pedestres e ciclistas ainda avança a passos lentos.

Apesar de 88,16% dos domicílios terem calçadas em seu entorno, apenas 7,79% contam com rampas para cadeirantes, evidenciando barreiras à acessibilidade. O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 31 minutos, mas 8,17% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto, revelando disparidades na eficiência do transporte.

As emissões de CO₂ por habitante chegam a 653,08 kg/ano, com altos índices de material particulado (96,42 g/hab.) e NOx (1.725,39 g/hab.), fatores que impactam diretamente a qualidade do ar e a saúde pública.

Apenas 28,53% da população vive próxima a infraestrutura cicloviária, com desigualdades evidentes. Por exemplo, enquanto 27% das pessoas que ganham entre 1 e 3 salários mínimos têm acesso, o número cai para 20,62% entre os que recebem até meio salário mínimo. Mulheres negras são ainda mais afetadas, com apenas 23,42% de cobertura.

Chama atenção a total falta de acesso a estações de transporte de média e alta capacidade, onde 0% da população, independentemente de renda, gênero ou raça, vive próximo a esse tipo de infraestrutura.

A taxa de mortalidade no trânsito é de 25,42 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas as maiores vítimas (14,87/100 mil). Pedestres e ciclistas também sofrem, com 3,42 e 2,68 mortes por 100 mil, respectivamente. A população negra corresponde a 88,89% das vítimas fatais, destacando o componente racial nessa tragédia urbana. As internações por acidentes de trânsito reforçam o problema: 413,93 casos por 100 mil habitantes, com os motociclistas novamente no topo (354,70/100 mil).

Os dados revelam a necessidade de políticas públicas que priorizem transporte coletivo de qualidade, infraestrutura segura para ciclistas e pedestres, e ações para reduzir as emissões poluentes. A desigualdade no acesso à mobilidade, somada à violência no trânsito exige medidas urgentes para transformar Aracaju em uma cidade mais justa e sustentável.

Fortaleza (Ceará)

Mobilidade urbana em Fortaleza (CE) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia
Mobilidade urbana em Fortaleza (CE) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia

Fortaleza, uma das maiores capitais do Nordeste, apresenta dados que revelam tanto progressos quanto desafios em mobilidade urbana, infraestrutura e segurança no trânsito. Com 466,5 veículos para cada mil habitantes, a cidade reflete uma tendência nacional de crescimento da frota, mas também enfrenta problemas como emissões poluentes, desigualdade no acesso a transporte público e altas taxas de acidentes.

Apesar de 82,95% dos domicílios terem calçadas no entorno, apenas 1,6% possuem rampas para cadeirantes, evidenciando deficiências na acessibilidade. Quando o assunto é mobilidade ativa, 56,03% da população vive próxima a ciclovias, mas a distribuição é desigual, considerando que enquanto 73,45% das pessoas com renda acima de três salários mínimos têm acesso, apenas 44,61% daqueles que ganham até meio salário mínimo estão nessa condição. Mulheres negras são ainda mais afetadas, com apenas 48,69% de proximidade com infraestrutura cicloviária.

O transporte público também mostra disparidades, pois apenas 13,95% dos fortalezenses moram perto de estações de média e alta capacidade. Entre a população mais pobre (até meio salário mínimo), esse número cai para 8,4%, enquanto entre mulheres negras é de 10,52%.

A motorização elevada reflete-se nas emissões de poluentes, já que cada habitante emite o equivalente a 555,44 kg de CO₂ por ano, além de 89,06 gramas de material particulado e 1.535,28 gramas de NOx, que são gases associados a problemas respiratórios e ambientais.

Os sinistros de trânsito também preocupam, como a taxa de mortalidade de 7,47 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas as maiores vítimas (4,07/100 mil). Pedestres correspondem a 2,18 mortes/100 mil, e ciclistas, 0,52/100 mil. A população negra é a mais atingida, representando 85,64% das vítimas fatais.

O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 35,2 minutos, mas 12,7% dos fortalezenses gastam mais de uma hora nesse trajeto, um indicador de ineficiência no sistema de transportes.

Apesar dos desafios, Fortaleza tem investido em ciclovias (80% das estações de transporte estão integradas a essa malha) e em políticas de segurança viária. No entanto, os dados mostram que é preciso reduzir desigualdades, melhorar o transporte público e garantir acessibilidade universal para tornar a cidade mais sustentável e inclusiva.

João Pessoa (Paraíba)

Mobilidade urbana em João Pessoa (PB) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia
Mobilidade urbana em João Pessoa (PB) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia

A capital paraibana, João Pessoa, apresenta um cenário complexo em mobilidade urbana, acessibilidade e segurança viária, segundo indicadores recentes. Com uma taxa de motorização de 498,91 veículos para cada mil habitantes, a cidade reflete uma crescente dependência do transporte individual, enquanto a infraestrutura para pedestres e ciclistas ainda é limitada.

Apesar de 76,28% dos domicílios terem calçadas no entorno, apenas 2,11% possuem rampas para cadeirantes, evidenciando dificuldades para pessoas com mobilidade reduzida. Além disso, apenas 21,59% da população vive próxima a ciclovias, com disparidades socioeconômicas: enquanto 34,77% dos que ganham mais de três salários mínimos têm acesso, apenas 12,41% dos que recebem até meio salário mínimo estão nessa condição. Mulheres negras (16,43%) e a população de baixa renda (16,74% até um salário mínimo) são os mais afetados pela falta de infraestrutura cicloviária.

João Pessoa não possui estações de transporte de média ou alta capacidade, o que impacta diretamente na eficiência dos deslocamentos. O tempo médio casa-trabalho é de 29,8 minutos, mas 7,25% dos moradores gastam mais de uma hora nesse trajeto.

A emissão de poluentes preocupa: cada habitante emite, em média, 591,94 kg de CO₂ por ano, além de 93,79 gramas de material particulado e 1.516,20 gramas de NOx. Esses poluentes estão associados a problemas respiratórios e ao agravamento das mudanças climáticas.

A taxa de mortalidade no trânsito é de 21,43 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas (9,93) e pedestres (2,54) os mais vulneráveis. Dados alarmantes mostram que 87,57% das vítimas fatais são pessoas negras. As internações por acidentes de trânsito também são altas (388,52 por 100 mil hab.), com motociclistas representando 315,85 casos.

Os números destacam a necessidade de políticas públicas que priorizem transporte coletivo eficiente, infraestrutura segura para pedestres e ciclistas, e ações para reduzir acidentes, especialmente entre populações mais vulneráveis. Enquanto a cidade cresce, a mobilidade sustentável e inclusiva deve ser prioridade para garantir qualidade de vida a todos os pessoenses.

Maceió (Alagoas)

Mobilidade urbana em Maceió (AL) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia
Mobilidade urbana em Maceió (AL) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia

Dados recentes sobre mobilidade urbana em Maceió revelam um cenário de desigualdade, com desafios na acessibilidade, altas emissões de poluentes e riscos no trânsito. A capital alagoana tem 388,31 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma forte dependência do transporte individual. Enquanto isso, apenas 12,1% da população vive próxima a infraestrutura cicloviária, com disparidades marcantes por renda: entre os mais pobres (até ½ salário mínimo), esse percentual cai para 3,75%, enquanto nos mais ricos (acima de 3 salários) sobe para 23,9%.

A cidade também enfrenta problemas de inclusão, uma vez que apenas 5,86% dos domicílios têm rampas para cadeirantes no entorno. Além disso, nenhuma parcela da população tem acesso a estações de transporte de média ou alta capacidade, evidenciando a carência de um sistema eficiente de ônibus ou metrô. O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 35,5 minutos, e 13,5% dos moradores gastam mais de uma hora nesse trajeto.

As emissões de poluentes preocupam: cada habitante de Maceió emite 619,4 kg de CO₂ por ano devido ao uso de combustíveis, além de 105,27 gramas de material particulado e 2.008,25 gramas de NOx. No trânsito, a taxa de mortalidade é de 15,03 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas as maiores vítimas (7,08/100 mil). A desigualdade racial também aparece nesse cenário: 98,06% das mortes no trânsito são de pessoas negras.

Dessa forma, fica evidente que a cidade precisa investir em transporte público, ciclovias e calçadas acessíveis – hoje presentes em 71,46% dos entornos de domicílios, mas sem garantia de qualidade. A baixa proximidade da população pobre à estrutura cicloviária (5,9% entre quem ganha até 1 salário mínimo) e a ausência de transporte de alta capacidade mostram a urgência de políticas públicas inclusivas.

Natal (Rio Grande do Norte)

Mobilidade urbana em Natal (RN) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia
Mobilidade urbana em Natal (RN) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia

A capital potiguar possui 556,67 veículos para cada mil habitantes, refletindo uma crescente dependência do transporte individual. No entanto, os dados revelam desafios significativos em mobilidade urbana, acessibilidade e segurança no trânsito.

Enquanto 72,65% dos domicílios têm calçadas no entorno, apenas 2,75% contam com rampas para cadeirantes, evidenciando a falta de acessibilidade. A infraestrutura cicloviária também é limitada: apenas 11,38% da população vive próxima a ciclovias, com disparidades econômicas – quem ganha mais de três salários mínimos tem 14,11% de acesso, contra 5,47% para quem recebe até meio salário. Mulheres negras estão em desvantagem, com apenas 7,43% de proximidade a ciclovias.

Natal não tem nenhuma estação de transporte de média ou alta capacidade, afetando toda a população, especialmente os mais pobres. O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 31,8 minutos, mas 8,76% dos natalenses gastam mais de uma hora nesse trajeto.

A cidade emite 607,38 kg de CO₂ por habitante devido ao uso de combustíveis, além de altos índices de material particulado (96,57 g/hab) e NOx (1.645,79 g/hab). O trânsito também é letal: a taxa de mortalidade é de 10,37 mortes por 100 mil habitantes, com motociclistas (2,45) e pedestres (2,34) como as maiores vítimas. 98,92% das mortes são de pessoas negras, mostrando um grave viés racial. As internações por acidentes chegam a 480,37 por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas os mais afetados (349,26).

Os números destacam a necessidade de investimentos em transporte público, ciclovias e calçadas acessíveis, além de políticas para reduzir acidentes e poluição. Enquanto a motorização avança, a infraestrutura para pedestres, ciclistas e usuários de transporte coletivo ainda é insuficiente em Natal.

Recife (Pernambuco)

Mobilidade urbana em Recife (PE) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia
Mobilidade urbana em Recife (PE) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia

Recife, uma das principais metrópoles do Nordeste, enfrenta desafios significativos em mobilidade urbana, conforme revelam dados recentes. Com 440,62 veículos para cada mil habitantes, a cidade apresenta uma das maiores taxas de motorização do país, refletindo a dependência do transporte individual e seus impactos no trânsito e no meio ambiente.

Enquanto 74,54% dos domicílios têm calçadas no entorno, apenas 4,6% contam com rampas para cadeirantes, evidenciando a falta de acessibilidade. A infraestrutura cicloviária atende 37,29% da população, mas com disparidades: enquanto 53,99% das pessoas com renda acima de três salários mínimos vivem próximas a ciclovias, apenas 22,24% da população que ganha até meio salário mínimo têm o mesmo acesso. Mulheres negras são ainda mais afetadas, com apenas 25,9% residindo perto de vias cicláveis.

O transporte público também mostra desigualdades, considerando que apenas 24,1% dos recifenses moram perto de estações de média e alta capacidade. Entre a população mais pobre (até meio salário mínimo), esse número cai para 16,38%, enquanto mulheres negras de baixa renda têm apenas 17,2% de cobertura.

O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 34,7 minutos, mas 11,22% da população gasta mais de uma hora no trajeto. O uso intenso de veículos movidos a combustíveis fósseis contribui para altas emissões poluentes: 563,26 kg de CO₂ por habitante, além de 95,44g de material particulado e 1.631,88g de NOx por pessoa anualmente.

Recife registra 21,07 mortes no trânsito por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas os mais afetados (10,78 óbitos). Pedestres correspondem a 6,08 mortes, enquanto ciclistas somam 1,38. A população negra representa 70,29% das vítimas fatais, destacando a vulnerabilidade socioeconômica. As internações por acidentes de trânsito chegam a 35,26 por 100 mil habitantes, com motociclistas correspondendo a 86% dos casos (30,42 internações).

Sendo assim, a expansão de transporte público, ciclovias e calçadas acessíveis é urgente para reduzir as desigualdades. Enquanto a cidade avança em alguns indicadores, como a integração cicloviária (46% das estações de transporte têm conexão com ciclovias), ainda há um longo percurso para garantir mobilidade segura e sustentável para todos os recifenses.

São Luís (Maranhão)

Mobilidade urbana em São Luís (MA) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia
Mobilidade urbana em São Luís (MA) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia

A capital maranhense, São Luís, possui 419,69 veículos para cada mil habitantes, um índice que reflete a crescente dependência do transporte individual. No entanto, a cidade enfrenta desafios significativos em mobilidade urbana, acessibilidade e segurança no trânsito, segundo indicadores recentes.

Apenas 64,93% dos domicílios têm calçadas no entorno, e o percentual de vias com rampas para cadeirantes é extremamente baixo: 1,91%. Além disso, a infraestrutura cicloviária atinge apenas 6,17% da população, com desigualdades marcantes: enquanto 5,93% das pessoas com renda acima de três salários mínimos têm acesso a ciclovias, apenas 1,57% da população que ganha até meio salário mínimo conta com essa facilidade.

O tempo médio de deslocamento casa-trabalho é de 37,5 minutos, e 14,19% dos moradores gastam mais de uma hora nesse trajeto. A poluição também preocupa: cada habitante emite 902,88 kg de CO₂ por ano, além de 160,97 gramas de material particulado e 3.495,83 gramas de NOx devido ao uso de combustíveis.

A taxa de mortalidade no trânsito é de 20,34 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas as maiores vítimas (6,09 mortes/100 mil), seguidos por pedestres (3,32) e ciclistas (0,45). 78,85% das mortes são de pessoas negras, evidenciando a vulnerabilidade desse grupo.

Chama atenção a ausência de estações de transporte de média e alta capacidade, já que 0% da população tem acesso a esse tipo de infraestrutura, independentemente de renda ou gênero. 

Os dados revelam uma cidade com alto índice de motorização, mas com graves deficiências em mobilidade sustentável, acessibilidade e segurança viária, impactando principalmente a população mais pobre e negra. A falta de investimento em transporte público e infraestrutura para pedestres e ciclistas agrava os problemas de deslocamento e poluição em São Luís.

Teresina (Piauí)

Mobilidade urbana em Teresina (PI) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia
Mobilidade urbana em Teresina (PI) | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia

Teresina, capital do Piauí, reflete os contrastes típicos das cidades brasileiras quando o assunto é mobilidade urbana. Com uma taxa de motorização de 616,46 veículos para cada mil habitantes, a cidade enfrenta desafios como emissões poluentes, falta de acessibilidade e altos índices de acidentes de trânsito, especialmente envolvendo motociclistas.

Apesar de 72,04% dos domicílios terem calçadas no entorno, apenas 2,59% possuem rampas para cadeirantes, evidenciando a carência de acessibilidade. Quando o assunto é mobilidade ativa, apenas 11,87% da população vive próxima a ciclovias, com disparidades econômicas: enquanto 22,44% dos que ganham mais de três salários mínimos têm acesso, apenas 8,84% dos que recebem até meio salário contam com essa infraestrutura.

O transporte público também mostra desigualdades, considerando que 18,59% da população está próxima a estações de média e alta capacidade, mas nenhuma pessoa de baixa renda (até três salários mínimos) ou mulheres negras têm acesso a esse serviço. 

A emissão de poluentes preocupa: cada teresinense é responsável por 808,10 kg de CO₂ por ano, além de 140,64 gramas de material particulado e 2.765,04 gramas de NOx. Esses números refletem a dependência de veículos movidos a combustíveis fósseis.

Os acidentes de trânsito são outro grave problema com uma taxa de mortalidade de 33,18 mortes por 100 mil habitantes, sendo os motociclistas as principais vítimas (21,12 mortes/100 mil). 80,28% das vítimas fatais são negras, evidenciando a vulnerabilidade social no trânsito.

O tempo médio para ir de casa ao trabalho é de 27,6 minutos, e 5,55% da população gasta mais de uma hora nesse trajeto. A falta de integração entre modais e a insuficiência de transporte coletivo contribuem para esses números. 

Por isso, Teresina poderia direcionar seus esforços na expansão de ciclovias, especialmente em áreas periféricas; transporte público de qualidade, com inclusão da população mais pobre; políticas de segurança viária, com foco em motociclistas e pedestres; redução de emissões por meio do incentivo para veículos menos poluentes. Se por um lado Teresina avança em alguns indicadores, os dados mostram que a inclusão social e a sustentabilidade ainda são desafios urgentes para a mobilidade urbana na capital.

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