A cerimônia inaugural da Arena ANTP 2025 estabeleceu um tom de urgência e complexidade para os debates que se seguiram, transitando entre crises financeiras imediatas e a necessidade de uma visão integrada de longo prazo associada ao transporte público. O presidente da ANTP, Ailton Brasiliense Pires, fez um resgate histórico da entidade, lembrando sua fundação em 1977 e reafirmou o propósito original da associação.
“A ANTP nasceu para que o transporte público fosse tratado como serviço essencial e parte do direito à cidade. Nosso desafio continua sendo o de garantir qualidade, eficiência e inclusão“.
Na sequência, o superintendente da ANTP, Luiz Carlos Mantovani Néspoli, definiu o momento atual como “decisivo” para a mobilidade urbana. Ele enumerou os principais entraves a serem enfrentados de forma simultânea, incluindo a crise de financiamento motivada por juros altos, a queda estrutural na demanda e a persistente desigualdade no acesso.
“Estamos falando de um novo pacto urbano. Precisamos de cidades mais inclusivas, conectadas e seguras, que reconheçam o transporte público como instrumento de cidadania“. Néspoli também apontou a digitalização dos sistemas, a transição energética da frota e a busca pela equidade como vetores centrais para essa transformação.
Atos de resistência
A fala de Sílvia Stuchi, do Instituto Corrida Amiga, inseriu a mobilidade ativa no cerne desta transformação, defendendo que caminhar e pedalar são direitos a serem garantidos, não atos de resistência.
“Cuidar, caminhar e viver não podem ser atos de resistência. São direitos que precisam ser garantidos pelo poder público“, afirmou. Silvia argumentou que investimentos em calçadas de qualidade, travessias seguras, arborização e acessibilidade são tão essenciais quanto a expansão de linhas de metrô ou a renovação de frotas de ônibus, conectando a pauta diretamente a questões de sustentabilidade, saúde pública, justiça e inclusão urbanas.
De outro lado, o vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth, focou sua intervenção nos avanços da gestão estadual, destacando os investimentos em curso para a ampliação da rede metroferroviária e a eletrificação da frota de ônibus. “O Estado tem o compromisso de liderar a transição energética e oferecer sistemas mais modernos e limpos”, declarou.
Custeio do transporte
Em contraponto, o deputado federal Jilmar Tatto centrou seu discurso na urgência de se resolver o problema do custeio. Ele defendeu a criação de fontes estáveis de financiamento para o transporte público e a progressiva implementação da Tarifa Zero como política de equidade social. “Sem custeio permanente, o transporte público não se sustenta e a cidadania perde movimento”, alertou.
A cerimônia também contou com a visão do vice-ministro de Transportes do Paraguai, Emiliano Fernandes, que trouxe uma perspectiva internacional ao definir o “transporte público como o sangue das cidades“. Fernandes enfatizou a importância do intercâmbio de experiências entre as nações latino-americanas para enfrentar desafios comuns.
A abertura do Arena ANTP 2025 deixou clara a complexidade da agenda da mobilidade, que exige respostas multifacetadas. A mensagem que ecoou do palco foi a de que não basta apenas mover pessoas de forma eficiente, mas que é preciso mover ideias, garantir acesso universal e transformar a percepção nacional sobre o direito de ir e vir.
