Fundo multimilionário visa acelerar a descarbonização do transporte público

Aliança tenta viabilizar fundo de 80 milhões de euros para destravar o financiamento e colocar mais de 1.700 ônibus zero emissão em capitais

Por Gustavo Queiroz

- novembro 19, 2025

BRT Salvador

Um consórcio formado pelo WRI Brasil, o ITDP Brasil e o banco BTG Pactual está liderando a proposta de um novo fundo de crédito destinado a superar uma das principais barreiras à descarbonização do transporte público no país, que se refere ao alto custo de aquisição de veículos e infraestrutura para ônibus elétricos. A iniciativa, estruturada para ser submetida ao programa internacional de financiamento climático Mitigation Action Facility, tem o objetivo de financiar a aquisição de mais de 1.700 ônibus elétricos, impulsionando uma transição energética na qual o Brasil tem ficado atrás de países como Chile e Colômbia.

A percepção de risco por parte de financiadores e operadoras encarece o capital e retarda a adoção em massa dessa tecnologia limpa. Para contornar esse obstáculo, o fundo está sendo desenhado com uma estrutura de financiamento misto, que combina capital de diferentes fontes para atrair investimentos privados.

Durante o Fórum de Líderes Locais da COP30, o BTG Pactual, selecionado como gestor financeiro do mecanismo, se comprometeu com um aporte de 24 milhões de euros (aproximadamente R$ 148 milhões). O Mitigation Action Facility planeja contribuir com outros 16 milhões de euros (cerca de R$ 98,6 milhões), valor (mais de R$ 246 mi no total) que será alocado como uma camada de garantia para absorver perdas iniciais, mitigando riscos e incentivando a entrada de mais investidores. O total necessário para a operação do fundo é de 80 milhões de euros (R$ 492,9 mi).

A proposta, intitulada “Ônibus elétricos e transformação industrial no Brasil: acelerando a transição justa e verde”, é co-liderada pelo WRI Brasil e ITDP Brasil e conta com apoio fundamental do Ministério das Cidades e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, além de cooperação técnica da Catalytic Finance Foundation e da rede C40 Cities. O projeto está, atualmente, em sua Fase de Preparação Detalhada, com previsão de conclusão para maio de 2026. A decisão final do Conselho do Mitigation Action Facility sobre o financiamento para implementação será submetida a uma rigorosa avaliação após essa etapa.

Além do mecanismo financeiro propriamente dito, o projeto é composto por pilares de assistência técnica, fomento a políticas públicas e estímulo à indústria nacional. As cidades de Salvador, Belo Horizonte, Curitiba e Rio de Janeiro estão previstas para serem as primeiras a acessar os recursos. A iniciativa tem o potencial de evitar a emissão de 2,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), contribuindo simultaneamente para a qualidade de vida urbana e uma transição justa.

A equidade de gênero e a inclusão social (GESI) são tratadas como pilares centrais do mecanismo, e não como complementos. O ITDP Brasil, responsável por essa frente, já realizou um diagnóstico setorial para elaborar um Plano de Ação de GESI. “Isso significa criar oportunidades tangíveis para as mulheres em toda a cadeia de valor do transporte público — desde a fabricação de ônibus até as operações — e melhorar a qualidade do serviço para tornar o transporte público verdadeiramente inclusivo para todos”, afirmou Clarisse Cunha Linke, diretora-executiva do ITDP Brasil.

Especialistas envolvidos no projeto enfatizam que a eletrificação vai além de uma simples troca tecnológica. “A eletrificação da frota não é apenas uma mudança tecnológica — é uma transformação estrutural que exige coordenação entre governos, empresas e o setor financeiro. O fundo ajuda a alinhar esses atores e criar um ambiente propício para a transição”, explicou Magdala Satt Arioli, gerente de Descarbonização do Transporte do WRI Brasil.

Para Luis Antonio Lindau, diretor do programa de Cidades do WRI Brasil, mecanismos de financiamento misto, como este fundo, são fundamentais para tornar a eletromobilidade uma realidade. “Possibilitar a transição para modelos elétricos é essencial para melhorar a qualidade de vida de milhões de cidadãos e ajudar o país a entrar no caminho para atingir a neutralidade de emissões em 2050”, disse.

O projeto é financiado pelo Mitigation Action Facility em nome de um consórcio de doadores internacionais, que inclui os ministérios do meio ambiente e energia da Alemanha, Reino Unido e Dinamarca, além da União Europeia e da Children’s Investment Fund Foundation (CIFF).

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