Em um painel técnico realizado com executivos das principais unidades de negócio da DHL no Brasil, a empresa detalhou sua preparação e perspectivas para a alta temporada de comércio eletrônico do final de 2025. O cenário é marcado pela continuidade da volatilidade geopolítica, pela diversificação de rotas comerciais e pela consolidação de novos hábitos de consumo, com o Brasil se firmando como um dos maiores mercados digitais do mundo.
De acordo com Mirele Griesius Mautschke, CEO da DHL Express Brasil, a expectativa para os meses de novembro e dezembro é de um crescimento de 11% a 15% no volume de remessas em comparação com o trimestre anterior. A executiva destacou que, embora se espere um pico mais moderado em relação a anos anteriores, a operação foi desenhada para garantir flexibilidade e capacidade de resposta a mudanças súbitas na demanda. “Alguns clientes já anteciparam estoques, como observamos em julho devido aos aumentos tarifários nos Estados Unidos. Nosso planejamento, portanto, compara-se mais aos meses anteriores deste ano atípico do que necessariamente ao pico do ano passado“, explicou Mautschke.
A resiliência operacional e a manutenção da qualidade do serviço premium, mesmo frente a complexidades regulatórias e alfandegárias globais, foram apontadas como aprendizados centrais que norteiam o planejamento para 2025. A DHL Express também está expandindo sua presença física no país, com planos de abrir 10 lojas próprias ainda este ano e mais 16 em 2026, ampliando sua rede de mais de 550 pontos de venda para atender microempresas e o comércio city-to-city (C2C).
Eric Brenner, CEO da DHL Global Forwarding Brasil, enfatizou a mudança estrutural no calendário de demandas. “O conceito de um ou dois picos anuais, como o Golden Week chinês, está ultrapassado. Hoje enfrentamos picos constantes ao longo do ano“, afirmou. Ele apresentou dados que ilustram essa transição, como os fluxos de carga da Ásia para o Brasil, que aumentaram aproximadamente 12%, enquanto os da Ásia para os Estados Unidos caíram 8%. O comércio intra-América Latina também cresceu cerca de 5%, sinalizando um movimento de nearshoring (terceirização ou realocação de atividades empresariais) e diversificação de fornecedores.
Para lidar com essa realidade, Brenner destacou a segurança da capacidade – assegurada por acordos globais que movimentam 1,8 milhão de toneladas aéreas e 3,3 milhões de TEUs (unidades equivalentes a 20 pés) – e a criticidade da flexibilidade operacional. Soluções multimodais, como a combinação de transporte marítimo da China para os EUA, rodoviário até Miami e aéreo para o Brasil, ganham relevância ao oferecer um equilíbrio entre custo e tempo de trânsito. A plataforma “My DHL” é peça fundamental nessa estratégia, proporcionando rastreamento em tempo real, transparência sobre emissões de carbono e a possibilidade de remodalização de cargas em momentos críticos, como a transferência urgente de uma peça de um contêiner marítimo para o modal aéreo.
E-commerce Brasileiro
Plínio Pereira, CEO da DHL Supply Chain Brasil, traçou a trajetória do comércio eletrônico nacional, caracterizando-o como um setor que “nunca andou para trás” após o salto observado durante a pandemia. “A temporada de pico de um ano estabelece a base de volume para o crescimento do ano seguinte. É um ciclo de expansão contínua“, afirmou. A DHL Supply Chain atua em toda a cadeia doméstica, do abastecimento de fábricas à distribuição B2B e B2C, incluindo as operações de primeiro quilômetro (first mile), line haul (movimentação de cargas entre pontos-chave, como fábrica/CD, CD/porto, etc) e a crítica last mile (último quilômetro).
Pereira identificou a expectativa do consumidor como a grande força motriz do setor. “Quem manda é o consumidor, e sua expectativa sobe a todo momento. O padrão de entrega evoluiu de uma semana para o dia seguinte ou, em alguns casos, para o mesmo dia“. Para atender a essa demanda, a empresa está implementando soluções inovadoras. Entre as principais inovações entre 2024 e 2025, destacam-se os chatbots impulsionados por Inteligência Artificial para agendamento de entregas. “Esses robôs interagem com o destinatário, consolidam agendas e remarcam horários de forma transparente, sem que o cliente perceba que está se comunicando com uma máquina. O potencial de aplicação na logística é imenso“, explicou.
Outras tendências emergentes incluem a DHL Fulfillment Network (DFN), que oferece capilaridade logística para indústrias de menor porte, e os pontos PUDO (Pickup and Drop-off), que consolidam entregas em locais estratégicos da cidade, gerando eficiência operacional e comodidade para o consumidor final.
Sobre as principais inovações em processos e tecnologias implementadas pela DHL entre a alta temporada de 2024 e a de 2025, Plínio começou corroborando a visão de que picos de demanda distribuídos são logisticamente superiores aos concentrados, pois permitem uma utilização mais eficiente da capacidade instalada. Quanto aos avanços tecnológicos, o executivo foi enfático ao afirmar que o período de um ano não é suficiente para transformações radicais, mas destacou a implementação de uma ferramenta específica com potencial disruptivo. “Uma pessoa que visite um armazém nosso em outubro de 2024 e faça a mesma visita agora talvez não veja grandes transformações. Em alguns lugares, investimos em esteiras diferentes ou em um robô que executa alguma etapa“, contextualizou.
O exemplo de inovação citado como mais significativo foi a implantação de robôs movidos por Inteligência Artificial para automatizar tarefas repetitivas. Uma aplicação concreta está no agendamento de entregas. Conforme detalhado, centenas de agendamentos que antes eram realizados manualmente por operadores humanos agora são conduzidos por chatbots inteligentes. Esses sistemas interagem com os destinatários finais para definir horários, alterar datas e consolidar entregas, tudo de forma autônoma. “A sensação é de estar realmente interagindo com um humano“, explicou Plinio. Ele expressou otimismo com o potencial da aplicação, vislumbrando seu uso em diversos outros segmentos da logística. “Esse é um exemplo que eu vi uma aceleração… e que me espanta o potencial“, destacou, ilustrando como a inteligência artificial está sendo integrada de forma prática para ganhos de eficiência e escalabilidade.
Aprendizados
Ao final do painel, os executivos sintetizaram os principais aprendizados que orientam a DHL. Para Mireli Grissios, a “resiliência sem abrir mão da conformidade e da qualidade” foi a lição mais valiosa. Plinio Pereira reforçou a importância capital de “cuidar bem das nossas pessoas“, investindo no desenvolvimento dos mais de 24 mil colaboradores da Supply Chain para sustentar o crescimento acelerado. Eric Brenner complementou citando “agilidade e flexibilidade” como atributos indispensáveis. “Na logística, você não pode apostar tudo em uma única solução. É preciso sempre ter um ás na manga e múltiplas alternativas para garantir o fluxo das cargas“, concluiu.
A alta temporada de 2025, portanto, se configura não apenas como um teste de capacidade logística, mas como um reflexo da maturidade do Brasil em se integrar a um comércio global cada vez mais complexo, dinâmico e orientado pela experiência do consumidor final.