A busca por soluções mais limpas e eficientes no transporte rodoviário ganha força no Brasil, impulsionada por avanços tecnológicos, políticas públicas e uma mudança gradual no comportamento dos consumidores. André Gentil, gerente de Vendas de Soluções de Transporte a Frotistas da Scania Operações Comerciais Brasil, acredita que o processo de descarbonização do transporte no país deverá beneficiar soluções multienergéticas. Como é o caso do gás natural veicular (GNV) e o biometano, que vem ganhando cada vez mais espaço junto ao setor, como resultado da iniciativa pioneira da montadora em ofertar veículos com esse combustível alternativo.
“Enquanto a Europa avança na eletromobilidade, o modelo brasileiro deverá ser mais plural. Vejo um futuro com 10–15% de veículos a biometano, 10–15% elétricos e o restante dividido entre diesel e outras tecnologias, como o HVO”, avalia o gerente. A razão para isso, segundo ele, está na disponibilidade de matrizes energéticas locais e na infraestrutura ainda incipiente para elétricos.
Gentil lembra que em 2019, quando a Scania iniciou as vendas de caminhões a gás no país, o desafio era estruturar toda a cadeia: desde a oferta de veículos até a criação de uma rede de postos de abastecimento e a conscientização de embarcadores e transportadores. “Na época, a complexidade era grande. A gente trazia o veículo, mas não tinha quem demandasse”, relembra. Hoje, o cenário é outro. A malha de abastecimento se expandiu de forma significativa, permitindo rotas que ligam o Rio Grande do Sul ao Ceará, com destaque para eixos como São Paulo-Rio de Janeiro e São Paulo-Mato Grosso do Sul.
Autonomia expandida
Além da infraestrutura, os próprios veículos evoluíram. “Antes, o caminhão a gás transportava 26 pallets; hoje, leva 30, assim como um diesel. A autonomia saltou de 400 km para 650 km, o que atende perfeitamente à jornada de trabalho do motorista, limitada por lei”, explica o gerente. Essa melhoria operacional, somada à competitividade de preços, por meio de com motores produzidos localmente, tem acelerado a adoção.
Inicialmente, o gás atraiu principalmente embarcadores industriais comprometidos com ESG, mas o perfil do consumidor está se diversificando. “Hoje, vemos transportadores adquirindo caminhões a gás por conta própria e buscando embarcadores depois”. Setores como combustíveis, carga perigosa e fertilizantes já adotam a tecnologia, e a expectativa é que o transporte de grãos entre nessa lista conforme a rede de postos avance para regiões como Mato Grosso e Goiás.
Motivos para isso é que não faltam. Na visão de André Gentil, o biometano derivado de resíduos orgânicos é um combustível renovável, que pode ser produzido em qualquer local do país. “O Brasil tem potencial para substituir 60% do diesel por biometano”, afirma confiante. Um caso emblemático é o uso em caminhões de coleta de lixo, setor no qual a Scania passou a atuar recentemente. “O lixo gera biometano, que alimenta os veículos. É um ciclo virtuoso, especialmente em grandes cidades, onde a redução de emissões traz impacto direto na qualidade do ar”, complementa.