Carta propões que América Latina lidere a transição energética

Documento lançado por empresa brasileira na COP30 alerta que, apesar de ter recursos e tecnologia, região corre risco de importar veículos elétricos em vez de fortalecer sua própria cadeia produtiva

Por Gustavo Queiroz

- novembro 24, 2025

BRT Amazônia

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, realizada em Belém, a Eletra Industrial formalizou a “Carta de Belém pela Eletromobilidade como estratégia ambiental, econômica e social para a América Latina“. O documento, distribuído a autoridades nacionais e internacionais, acadêmicos e formadores de opinião presentes no evento, defende uma ação coordenada dos países latino-americanos para posicionar a região como protagonista na transição energética global.

O cerne do documento argumenta que a América Latina vive um momento histórico único para se inserir de forma competitiva no mercado global de bens tecnológicos de alto valor agregado, especificamente no setor da eletromobilidade. A Carta de Belém posiciona a transição para veículos elétricos como uma estratégia tríplice que atende simultaneamente aos pilares ambiental, econômico e social da sustentabilidade. O texto é enfático ao afirmar que “a eletromobilidade na América Latina deve estar no mapa do caminho” da transição energética mundial.

Milena Braga Romano, CEO da Eletra Industrial
Milena Braga Romano, CEO da Eletra Industrial | Foto: Divulgação

Em declaração, a CEO da Eletra Industrial, Milena Braga Romano, destacou a base industrial e de recursos existente na região. “Temos recursos naturais, tecnologia e parque fabril para toda a cadeia de transportes não poluentes: ônibus, carros e caminhões elétricos, chassis, carrocerias, baterias, eixos, capacitores, inversores, motores, carregadores e produção limpa de energia“, enumerou. No entanto, ela alertou para o risco iminente de perder essa posição estratégica, observando o aumento da presença de produtos importados de outras regiões nos mercados latino-americanos.

Romano fez um apelo por uma união regional urgente e por políticas públicas integradas. “É hora de nos unir e virar o jogo. A oportunidade é agora. Os governos latino-americanos precisam criar políticas e acordos em bloco que estimulem a aquisição de veículos elétricos produzidos aqui“, defendeu. A executiva reforçou que a consolidação dessa cadeia produtiva local representa geração de emprego, renda, arrecadação e desenvolvimento tecnológico para a região, finalizando que “a preservação ambiental também é prosperidade e melhor qualidade de vida“. A Carta de Belém se configura, portanto, como um chamado à ação para que a América Latina capitalize seus ativos e ocupe um lugar de liderança na nova economia global de baixo carbono.

Carta de Belém pela eletromobilidade como estratégia ambiental, econômica e social para a américa latina — Íntegra

A eletrificação dos transportes nas cidades é a escolha estratégica que os países latino-americanos precisam adotar para atender de forma concreta aos três pilares da sustentabilidade: social, econômico e ambiental. A eletromobilidade na região deve estar no “mapa do caminho”.

Os biocombustíveis têm sua aplicação, especialmente para médias e longas distâncias — como caminhões pesados e ônibus rodoviários —, mas não podem servir como justificativa para adiar investimentos na expansão da eletromobilidade, especialmente para os deslocamentos urbanos e metropolitanos.

No Brasil, parceiro do Mercosul e de outros acordos internacionais, mais de 90% da geração de energia elétrica é limpa. Deixar de ampliar a infraestrutura de distribuição, redes de carregamento e a frota de ônibus, carros e caminhões elétricos é, no mínimo, uma escolha pouco estratégica.

O Brasil e seus países vizinhos podem ocupar posição de destaque global, tornando-se exportadores de tecnologia, veículos, equipamentos e conhecimento.

Os três pilares

  • Ambiental: Ônibus, caminhões e carros elétricos não poluem durante a operação. Em países com geração de energia renovável, o ciclo de vida se torna ainda mais vantajoso.
  • Econômico: A operação de veículos elétricos já se mostra mais vantajosa e tende a avançar com a redução de custos de veículos e baterias. A manutenção é mais simples, econômica e limpa, com menor descarte de óleos e fluidos no meio ambiente.
  • Social: A produção local de veículos elétricos e de toda a cadeia de equipamentos, serviços e conhecimento gera emprego, renda e desenvolvimento. Famílias tornam-se mais economicamente ativas, ampliando consumo e circulação de riqueza. Governos aumentam a arrecadação e podem investir em políticas públicas.

Além disso, a possibilidade de exportação fortalece a inserção da América Latina no mercado global com produtos de alto valor agregado. Ao mesmo tempo, os transportes se tornam mais eficientes e confortáveis. Nas cidades onde há ônibus elétricos, passageiros frequentemente optam por aguardar os modelos modernos e silenciosos, o que aumenta a satisfação e fideliza usuários.

Veículos elétricos também preservam vidas

Frota Eletra na COP30
Frota Eletra na COP30 | Foto: Divulgação

Um estudo do Grupo C40 de Grandes Cidades para Liderança do Clima, divulgado pelo Ministério das Cidades durante a COP30, mostra que, em média, três vidas são preservadas quando mil ônibus a diesel são substituídos por veículos elétricos (bateria, trólebus ou ETrol), devido à redução de doenças provocadas pela poluição do ar.

Entre os principais dados apresentados pelo C40 e pelos debates da CNT estão:

A cada mil ônibus a diesel trocados por elétricos, três pessoas deixam de morrer por problemas de saúde relacionados à poluição;

O ciclo de vida de um ônibus elétrico no Brasil e em países vizinhos gera 77% menos emissões de gases de efeito estufa do que um modelo equivalente a diesel;

Apesar de mais caros na aquisição, ônibus elétricos duram de 50% a 100% mais e têm custos de manutenção 25% menores, além de menor custo energético por quilômetro;

O conforto, menor ruído e menos trepidação podem atrair novos passageiros e aumentar a receita de operação;

A eletromobilidade pode reposicionar a indústria latino-americana no movimento de “neoindustrialização”, gerando exportações de produtos de alto valor agregado;

A cadeia produtiva cria empregos mais qualificados e estimula o fortalecimento do ensino técnico e superior.

Os investimentos em infraestrutura elétrica podem melhorar também o fornecimento de energia para residências, hospitais, escolas, comércio e demais consumidores.

A hora é agora

A América Latina tem recebido grande volume de produtos elétricos de outros mercados, muitas vezes competitivos devido a subsídios de países de origem. Se a região não agir conjuntamente, corre o risco de perder protagonismo.

Ainda há tempo. Mas o atraso terá um custo alto.

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