Durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, realizada em Belém, a Eletra Industrial formalizou a “Carta de Belém pela Eletromobilidade como estratégia ambiental, econômica e social para a América Latina“. O documento, distribuído a autoridades nacionais e internacionais, acadêmicos e formadores de opinião presentes no evento, defende uma ação coordenada dos países latino-americanos para posicionar a região como protagonista na transição energética global.
O cerne do documento argumenta que a América Latina vive um momento histórico único para se inserir de forma competitiva no mercado global de bens tecnológicos de alto valor agregado, especificamente no setor da eletromobilidade. A Carta de Belém posiciona a transição para veículos elétricos como uma estratégia tríplice que atende simultaneamente aos pilares ambiental, econômico e social da sustentabilidade. O texto é enfático ao afirmar que “a eletromobilidade na América Latina deve estar no mapa do caminho” da transição energética mundial.

Em declaração, a CEO da Eletra Industrial, Milena Braga Romano, destacou a base industrial e de recursos existente na região. “Temos recursos naturais, tecnologia e parque fabril para toda a cadeia de transportes não poluentes: ônibus, carros e caminhões elétricos, chassis, carrocerias, baterias, eixos, capacitores, inversores, motores, carregadores e produção limpa de energia“, enumerou. No entanto, ela alertou para o risco iminente de perder essa posição estratégica, observando o aumento da presença de produtos importados de outras regiões nos mercados latino-americanos.
Romano fez um apelo por uma união regional urgente e por políticas públicas integradas. “É hora de nos unir e virar o jogo. A oportunidade é agora. Os governos latino-americanos precisam criar políticas e acordos em bloco que estimulem a aquisição de veículos elétricos produzidos aqui“, defendeu. A executiva reforçou que a consolidação dessa cadeia produtiva local representa geração de emprego, renda, arrecadação e desenvolvimento tecnológico para a região, finalizando que “a preservação ambiental também é prosperidade e melhor qualidade de vida“. A Carta de Belém se configura, portanto, como um chamado à ação para que a América Latina capitalize seus ativos e ocupe um lugar de liderança na nova economia global de baixo carbono.
Carta de Belém pela eletromobilidade como estratégia ambiental, econômica e social para a américa latina — Íntegra
A eletrificação dos transportes nas cidades é a escolha estratégica que os países latino-americanos precisam adotar para atender de forma concreta aos três pilares da sustentabilidade: social, econômico e ambiental. A eletromobilidade na região deve estar no “mapa do caminho”.
Os biocombustíveis têm sua aplicação, especialmente para médias e longas distâncias — como caminhões pesados e ônibus rodoviários —, mas não podem servir como justificativa para adiar investimentos na expansão da eletromobilidade, especialmente para os deslocamentos urbanos e metropolitanos.
No Brasil, parceiro do Mercosul e de outros acordos internacionais, mais de 90% da geração de energia elétrica é limpa. Deixar de ampliar a infraestrutura de distribuição, redes de carregamento e a frota de ônibus, carros e caminhões elétricos é, no mínimo, uma escolha pouco estratégica.
O Brasil e seus países vizinhos podem ocupar posição de destaque global, tornando-se exportadores de tecnologia, veículos, equipamentos e conhecimento.
Os três pilares
- Ambiental: Ônibus, caminhões e carros elétricos não poluem durante a operação. Em países com geração de energia renovável, o ciclo de vida se torna ainda mais vantajoso.
- Econômico: A operação de veículos elétricos já se mostra mais vantajosa e tende a avançar com a redução de custos de veículos e baterias. A manutenção é mais simples, econômica e limpa, com menor descarte de óleos e fluidos no meio ambiente.
- Social: A produção local de veículos elétricos e de toda a cadeia de equipamentos, serviços e conhecimento gera emprego, renda e desenvolvimento. Famílias tornam-se mais economicamente ativas, ampliando consumo e circulação de riqueza. Governos aumentam a arrecadação e podem investir em políticas públicas.
Além disso, a possibilidade de exportação fortalece a inserção da América Latina no mercado global com produtos de alto valor agregado. Ao mesmo tempo, os transportes se tornam mais eficientes e confortáveis. Nas cidades onde há ônibus elétricos, passageiros frequentemente optam por aguardar os modelos modernos e silenciosos, o que aumenta a satisfação e fideliza usuários.
Veículos elétricos também preservam vidas

Um estudo do Grupo C40 de Grandes Cidades para Liderança do Clima, divulgado pelo Ministério das Cidades durante a COP30, mostra que, em média, três vidas são preservadas quando mil ônibus a diesel são substituídos por veículos elétricos (bateria, trólebus ou ETrol), devido à redução de doenças provocadas pela poluição do ar.
Entre os principais dados apresentados pelo C40 e pelos debates da CNT estão:
A cada mil ônibus a diesel trocados por elétricos, três pessoas deixam de morrer por problemas de saúde relacionados à poluição;
O ciclo de vida de um ônibus elétrico no Brasil e em países vizinhos gera 77% menos emissões de gases de efeito estufa do que um modelo equivalente a diesel;
Apesar de mais caros na aquisição, ônibus elétricos duram de 50% a 100% mais e têm custos de manutenção 25% menores, além de menor custo energético por quilômetro;
O conforto, menor ruído e menos trepidação podem atrair novos passageiros e aumentar a receita de operação;
A eletromobilidade pode reposicionar a indústria latino-americana no movimento de “neoindustrialização”, gerando exportações de produtos de alto valor agregado;
A cadeia produtiva cria empregos mais qualificados e estimula o fortalecimento do ensino técnico e superior.
Os investimentos em infraestrutura elétrica podem melhorar também o fornecimento de energia para residências, hospitais, escolas, comércio e demais consumidores.
A hora é agora
A América Latina tem recebido grande volume de produtos elétricos de outros mercados, muitas vezes competitivos devido a subsídios de países de origem. Se a região não agir conjuntamente, corre o risco de perder protagonismo.
Ainda há tempo. Mas o atraso terá um custo alto.
