Anfavea aponta desaceleração no terceiro trimestre

Entidade destaca crise no segmento de pesados e revela que toda a indústria associada precisa crescer 13% até o final do ano para confirmar a meta de 10% de crescimento em 2025

Por Gustavo Queiroz

- outubro 9, 2025

Anfavea destaca queda no segmento de pesados | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA

A Associação dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou, em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira, uma análise detalhada do desempenho do setor no mês de setembro e no terceiro trimestre de 2025. Os dados revelam um cenário de desafios, marcado por um recuo na produção industrial e uma crise específica no segmento de veículos pesados, contrastando com a performance positiva das exportações.

O principal destaque do relatório foi o recuo de 0,8% na produção total do setor no terceiro trimestre, interrompendo uma trajetória de crescimento observada nos períodos anteriores. O primeiro trimestre havia registrado alta de 10,5% e o segundo, de 10,3%, ambos em comparação com 2024.

De acordo com o presidente da Anfavea, Igor Calvet, esse resultado negativo foi puxado principalmente pelo desempenho do segmento de veículos pesados. “Infelizmente, o recuo nos pesados foi de 9,4% no terceiro trimestre. Nós temos já há alguns meses tratado do assunto aqui nas nossas coletivas. Neste mês, vocês verão novamente o aprofundamento dessa crise, tanto na produção quanto nos emplacamentos“, afirmou o executivo. Ele ainda detalhou que, enquanto a produção de veículos leves apresentou relativa estabilidade (recuo de 0,3%), o segmento de pesados foi o grande responsável pela reversão do quadro geral.

A Anfavea atribui a desaceleração a um ambiente macroeconômico desafiador, tanto interno quanto externo. Internamente, a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano foi apontada como um dos principais fatores de restrição. “Isso restringe muito as operações do setor, aliás, não só do setor automotivo, mas também do setor de bens de consumo duráveis em geral“, analisou Calvet.

No cenário externo, a entidade destacou a desaceleração econômica do México, que tem redirecionado as vendas para o mercado interno local, impactando as exportações brasileiras. Outro ponto de instabilidade citado foi o fim do acordo comercial com a Colômbia, o terceiro maior destino das exportações do setor. “O fim desse acordo, que já havia sido anunciado há um ano, traz também uma certa instabilidade do que acontecerá com as nossas exportações“, ponderou o presidente da Anfavea.

O relatório trimestralizado também evidenciou a pressão sobre as vendas domésticas. Enquanto os emplacamentos totais apresentaram crescimento de 7,2% no primeiro trimestre e 2,9% no segundo, o terceiro trimestre fechou com um recuo de 0,4%.

A análise por segmento mostrou que a estabilidade nos veículos leves (crescimento de 0,4%) foi ofuscada pela forte retração nos pesados. Calvet revelou que o recuo no emplacamento de veículos pesados foi de 14,2% no terceiro trimestre, com um aprofundamento da crise em um subsegmento específico. “Grande parte desse recuo é derivado da queda expressiva no mercado de caminhões pesados, cujo dado é uma queda no acumulado de mais de 20%. Hoje já é um quadro bastante preocupante para todos nós do setor“, alertou.

Em meio aos desafios internos, as exportações surgem como o principal vetor de resiliência para a indústria. No acumulado do ano, os embarques ao exterior cresceram 51,6%, com um volume de 430,8 mil unidades que já supera o total exportado em todo o ano de 2024. “Esse crescimento de 51,6% nos surpreende, de certa forma“, admitiu Calvet.

A Argentina se mantém como o principal destino, respondendo por 59% do total embarcado. No entanto, a entidade demonstrou preocupação com a diminuição das vendas para o México e com as incertezas geradas pelo fim do acordo com a Colômbia.

A Anfavea também anunciou a implementação de uma nova metodologia para o cálculo de estoques, que passará a incluir tanto os veículos produzidos domesticamente quanto os importados. A nova aferição revelou um estoque de 42 dias para a indústria como um todo, com uma disparidade significativa, considerando que os veículos nacionais têm 26 dias de estoque, enquanto os importados contam com 136 dias. “É um dado super importante porque mexe em todo o mercado“, comentou o presidente.

Para manter a nossa projeção de um crescimento superior a 10% na produção, nós precisamos de 12,9% de aumento no último trimestre. É um dado bastante desafiador e mostra que temos bastante trabalho nesse quarto e último trimestre do ano“, concluiu o presidente da Anfavea.

Dados de caminhões e ônibus

Com base nos dados da Anfavea referentes a setembro de 2025 e ao acumulado de janeiro a setembro de 2025, e fazendo a comparação com os mesmos períodos de 2024, seguem os detalhes para caminhões e ônibus.

No mês de setembro de 2025, o emplacamento de caminhões totalizou 9.798 unidades, representando um crescimento de 9,9% em relação ao mês anterior, agosto de 2025, que registrou 8.916 unidades. Na comparação com setembro de 2024, que teve 11.455 unidades, houve uma retração de 14,5%. No acumulado de janeiro a setembro de 2025, a produção de caminhões montados alcançou 84.066 unidades, um aumento de 7,4% em relação ao mesmo período de 2024, que foi de 91.098 unidades. As exportações de caminhões montados somaram 2.787 unidades em setembro de 2025, um crescimento expressivo de 28,0% frente a setembro de 2024, que registrou 2.177 unidades. No acumulado do ano até setembro, as exportações totalizaram 24.030 unidades, um aumento de 13,4% comparado aos 21.197 unidades do período jan-set de 2024. Analisando as categorias de caminhões emplacados em setembro de 2025, os veículos pesados lideraram com 3.909 unidades, seguidos pelos semipesados com 3.363, médios com 1.371, leves com 721 e semileves com 434 unidades.

Para os ônibus, o emplacamento em setembro de 2025 foi de 1.954 unidades, o que representa um crescimento de 13,6% em relação a agosto de 2025, que teve 1.720 unidades, e uma leve queda de 2,5% se comparado a setembro de 2024, que foi de 2.004 unidades. A produção de ônibus (chassis) no acumulado de janeiro a setembro de 2025 ficou em 17.690 unidades, um crescimento significativo de 12,2% sobre o mesmo período de 2024, que produziu 15.760 unidades. As exportações de ônibus montados totalizaram 677 unidades em setembro de 2025, um aumento de 85,5% em relação a setembro de 2024, que exportou 365 unidades. No acumulado do ano, as exportações somaram 5.233 unidades, um crescimento robusto de 60,6% frente às 3.258 unidades do período jan-set de 2024.

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