A organização não-governamental Greenpeace manifestou veemente rejeição ao texto final proposto pela Presidência da COP30, classificando-o como “praticamente inútil” para conter a crise climática. A crítica central da entidade recai sobre a insuficiência das metas de emissões para 2035 e, de forma mais contundente, sobre a ausência de um plano global vinculante para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.
De acordo com a avaliação do Greenpeace, o documento, denominado “Texto Mutirão“, falha em reduzir significativamente a lacuna de ambição necessária para limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme estabelecido no Acordo de Paris. A diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, afirmou que a proposta contribui muito pouco para pressionar os países a acelerarem suas ações climáticas. “Não há outra opção senão os países rejeitá-lo e devolvê-lo à presidência para revisão“, declarou.
O cerne da crítica técnica reside no tratamento dado à matriz energética global. Pasquali destacou que, apesar do “apoio crescente a um roteiro para o abandono dos combustíveis fósseis” demonstrado durante as negociações em Belém, o texto final não incorpora esse mecanismo de forma operacional. A omissão de um cronograma claro e coletivo para o desligamento de usinas a carvão, petróleo e gás natural é apontada como uma falha crítica. A posição da organização é que “relatórios e mais negociações não são suficientes” e que a comunidade internacional precisa, urgentemente, de um “plano de resposta global” para gerir o declínio controlado da infraestrutura fóssil.
A especialista em política internacional do Greenpeace Brasil, Camila Jardim, acrescentou que a proteção florestal, outro pilar fundamental para o equilíbrio climático, também foi negligenciada na versão atual do acordo. Jardim argumentou que “não há solução para o aquecimento global de 1,5°C sem a proteção das florestas“, mas que o texto carece de uma ação coletiva concreta e urgente para acabar com o desmatamento. Ela criticou a linguagem vaga do documento, que se limita a estar “atento” ou a “reconhecer” direitos, sem estabelecer mecanismos executivos.
No âmbito do financiamento climático, outro elemento crucial para viabilizar qualquer transição energética, o texto também foi considerado deficiente. Rebecca Newsom, especialista em políticas financeiras do Greenpeace Internacional, avaliou que as propostas para triplicar o financiamento para adaptação e estabelecer um programa de trabalho sobre o tema não são suficientemente robustas. Segundo ela, os países mais vulneráveis ficam desamparados, sem planos claros para desbloquear os fundos públicos necessários. Newsom citou especificamente a necessidade de avançar em mecanismos de tributação e no fim dos subsídios aos maiores poluidores, medidas que direta ou indiretamente onerariam os combustíveis fósseis e liberariam recursos para energias limpas.
Um ponto considerado um avanço, ainda que insuficiente, foi o compromisso com a criação de um Mecanismo de Transição Justa, destinado a coordenar e ampliar esforços para garantir que a mudança para uma economia de baixo carbono seja socialmente equitativa. No entanto, a estrutura proposta é considerada fraca e sem a força necessária para orientar políticas nacionais de forma eficaz.
A conclusão do Greenpeace é que a COP30, que gerou expectativas iniciais com propostas de mapas do caminho para o fim dos combustíveis fósseis e do desmatamento, falhou em traduzir esse apoio em um acordo ambicioso. A organização encerrou sua avaliação com um alerta: sem um roteiro concreto e coletivo, o mundo continua “tateando no escuro enquanto o tempo se esgota” para evitar os piores impactos da crise climática.
