Caminhões têm um mês de produção perdida em 2025

Produção de pesados despenca 31% em um ano e presidente da Anfavea avalia que queda equivale a 30 dias de produção perdida

Por Gustavo Queiroz

- novembro 13, 2025

Igor Calvet, presidente da Anfavea

Em coletiva de imprensa realizada durante a COP 30, em Belém (PA), o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet, apresentou um panorama de contrastes para a indústria automotiva brasileira. Enquanto o país se consolida como protagonista em mobilidade limpa, com investimentos massivos em descarbonização, o mercado de caminhões enfrenta uma crise profunda, com a produção do último trimestre equivalendo a um mês inteiro perdido, de acordo com avaliação da entidade.

O segmento de veículos pesados foi o centro dos alertas técnicos de Calvet. A produção de caminhões em outubro de 2025 foi de 10,2 mil unidades, uma queda vertiginosa de 31,3% em relação ao mesmo mês de 2024, quando foram produzidas 14,8 mil unidades. No acumulado de janeiro a outubro, a fabricação de caminhões recuou 7,3%, passando de 117,4 mil para 108,8 mil unidades. “A queda acumulada já equivale a um mês inteiro de produção. Esse é o alerta importante para todos nós, porque eu acho que traduz, efetivamente, a realidade daquilo que tá acontecendo no mercado de caminhões“, afirmou o executivo.

O presidente da Anfavea foi enfático ao atribuir a crise aos juros elevados. “Nós já falamos sobre Juros, que aliás foram mantidos taxa Selic em 15%. Nós temos crédito aumentando, mas não temos tido a capacidade de vender os nossos caminhões, sobretudo os pesados, que representam 45% do mercado. Isso se deve a um momento muito ruim, embora tenhamos safra e PIB positivo esse ano, mas os juros eles impedem, eles são constritores do nosso mercado de caminhões“. Calvet detalhou que, para empresas (pessoa jurídica), a taxa de juros para financiamento chega a 27,9%, inviabilizando investimentos. Ele já relata flexibilização de medidas de trabalho, lay-off e férias coletivas nas montadoras, temendo notícias futuras sobre desligamentos.

No front dos ônibus, o cenário é mais positivo. A produção acumulada no ano cresceu 10,8%, saindo de 23,6 mil para 26,2 mil chassis. Contudo, em outubro, tanto a produção quanto as vendas caíram na comparação com o mesmo mês de 2024, o que a Anfavea atribui a ajustes pontuais de linha, sem maior preocupação.

Os dados de emplacamentos de pesados espelham a crise na produção. Em outubro, foram licenciados 10,7 mil caminhões, uma retração de 12,7% ante outubro de 2024. No ano, a queda é de 8,3%. Para ônibus, foram 2 mil emplacamentos em outubro, queda de 23,5% na comparação anual, mas o acumulado ainda mantém crescimento de 7,2%.

Em contrapartida à crise imediata, Calvet destacou o protagonismo brasileiro na descarbonização do transporte pesado, evidenciado pelos projetos das associadas apresentados na COP 30. A Scania realizou uma viagem de 3.000 km de São Bernardo do Campo a Belém com um caminhão abastecido com biometano. A Volkswagen Caminhões e Ônibus lançou o corredor verde e-Dutra, entre Rio e São Paulo, para desenvolver infraestrutura para caminhões elétricos. A Mercedes-Benz testou um combustível que reduz emissões em uma viagem de 4.000 km de Passo Fundo (RS) a Belém. “As nossas empresas presentes atuando na COP mostram um pouco do que nós, setor automotivo, temos feito individualmente“, declarou Calvet.

O presidente também citou um estudo encomendado pela Anfavea ao BCG que projeta uma mudança significativa na matriz de vendas de pesados até 2035. A fatia dos veículos a combustão deverá cair dos atuais 98,6% para 68%, com os elétricos subindo para 11%, os híbridos para 19% e o hidrogênio para 2%. “O Brasil tem uma vantagem comparativa com outras geografias que é indiscutível. A nossa fonte de energia elétrica é 90% verde, as fontes energéticas do Brasil 50% renováveis. Isso nos traz uma competitividade muito grande, dado que 80% das emissões dos veículos em geral acontece no uso dos nossos produtos“, explicou, reforçando que um caminhão urbano elétrico no Brasil emite metade do que um equivalente nos EUA.

Para os veículos leves, o mês de outubro trouxe alguma estabilidade. As vendas totais foram de 260,7 mil unidades, o maior volume em 12 meses, mas com uma média diária em queda pelo terceiro mês consecutivo. O programa “Carro Sustentável” surgiu como um dos principais impulsionadores, com 155 mil unidades vendidas desde julho, um aumento de 20,5% para os modelos habilitados. “O que amorteceu a queda no varejo do veículo nacional foi o programa do carro sustentável. O nosso setor, os nossos produtos são muito sensíveis à tributação e consequentemente a preço“, analisou Calvet.

As exportações gerais tiveram um recuo de 23% em outubro, puxado por uma queda de 92% nas vendas para a Colômbia, devido ao término temporário do acordo automotivo bilateral – que já foi reativado por 12 meses. No acumulado do ano, as exportações ainda estão 43,8% acima de 2024, puxadas principalmente pela Argentina, que responde por 58% do total.

Sobre a recente crise de semicondutores, Calvet informou que uma ação rápida da Anfavea e do governo evitou uma paralisação generalizada. “Houve avanços do governo chinês, com um ‘fast track’ para liberação desses semicondutores. Há uma retomada gradual, lenta porém gradual na exportação desses componentes“, concluiu, descartando um impacto significativo na produção de outubro e novembro.

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