Diante da pressão da indústria do biodiesel sobre os membros do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), para que se eleve o percentual do biodiesel adicionado à mistura no óleo diesel comercializado no Brasil, a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) faz um alerta sobre os efeitos possivelmente gerados.
Segundo a Associação, o aumento do percentual de biodiesel poderá ter um reflexo imediato no reajuste das tarifas de ônibus coletivo, já que o custo do biodiesel é maior; o impacto pode variar de acordo com o aumento do percentual de biodiesel.
A mudança, segundo a nota, pode causar também uma perda do desempenho dos veículos do transporte de passageiros e de cargas, além de ter efeitos prejudiciais para o meio ambiente, ao contrário do senso comum. Dessa forma, a NTU vem se somar ao posicionamento conjunto de nove entidades, liderado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), contra essa medida.
“Nós apoiamos a descarbonização do setor e somos favoráveis à adoção de alternativas que reduzam as emissões, como os biocombustíveis”, esclarece o presidente executivo da NTU, Francisco Christovam. “Mas o tipo de biodiesel produzido hoje no Brasil, de base éster, gera muitos problemas, quando misturado ao diesel regular em quantidades mais elevadas, como a formação de borra no motor, com alto teor poluidor, além de danificar os componentes mecânicos. O que parece uma solução, na verdade pode piorar bastante a questão ambiental. E há o problema do custo mais elevado, que vai pressionar a tarifa do transporte”.
Atualmente o brasil tem 10% de biodiesel adicionado ao combustível, volume acima dos níveis praticados em outros países: nos países europeus, por exemplo, o percentual de mistura autorizado é de 7%, enquanto no Japão, Estados Unidos e Argentina, o teor de biodiesel é de 5%; e no Canadá, varia de 1% a 5%.
Ônibus urbano
A NTU defende a realização de estudos que permitam definir, de forma objetiva, os teores máximos aceitáveis de biodiesel, de base éster, no diesel convencional, sem que haja impactos negativos, como o aumento da poluição, perda de desempenho e problemas mecânicos nos veículos, que podem privar os passageiros de seu principal meio de deslocamento.
A Associação defende também a adoção de uma política nacional de descarbonização dos transportes, que leve em conta as alternativas mais modernas de biocombustíveis, como o diesel verde (também conhecido como HVO), que não tem restrições e pode ser adicionado em qualquer quantidade ao diesel.
“A decisão do governo, em prorrogar a desoneração tributária do diesel até o final deste ano, foi correta e deveria se tornar permanente; essa medida vem ajudando a manter as tarifas do ônibus com relativa estabilidade. Temos que perseguir isso para continuar recuperando a demanda perdida durante a pandemia”, conclui Francisco Christovam. O transporte coletivo por ônibus urbano é um serviço essencial, responsável atualmente por realizar 33,6 milhões de viagens, diariamente, em todo o País.
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