Mercedes-Benz aposta em coexistência tecnológica para a descarbonização do transporte

Montadora aposta em múltiplas soluções para a descarbonização do transporte, que vão da eletromobilidade ao uso de biocombustíveis

Por Victor Fagarassi

- novembro 12, 2025

Mercedes-Benz aposta em coexistência tecnológica para a descarbonização do transporte

Para a Mercedes-Benz, a Arena ANTP representou um fórum mais que oportuno para discutir o desenvolvimento da mobilidade no país. Bem como, para detalhar a estratégia multimodal da montadora em direção à descarbonização do transporte urbano, com base em uma abordagem plural que combine veículos elétricos e biocombustíveis. Foi o que explicou o vice-presidente de Vendas, Marketing, Peças e Serviços Ônibus da empresa no Brasil, Walter Barbosa em entrevista para o Caderno ÔNIBUS, de Frota&Cia.

Walter BarbosaO executivo foi enfático ao afirmar que a eletromobilidade não é a única solução para um país continental como o Brasil. “Dada a diversidade e o tamanho do nosso país, acreditamos que existem outras soluções, como as que passam pelos biocombustíveis. Nós temos o maior agronegócio do mundo e muitas tecnologias voltadas para energia limpa serão desenvolvidas ao longo dos próximos anos”, aposta Barbosa. Ele citou especificamente o HVO (Hydrotreated Vegetable Oil), combustível que pode ser utilizado na proporção de até 100% em motores a diesel convencionais, permitindo uma redução entre 65% e 70% das emissões de CO2, considerando a análise “do Poço à Roda”. A metodologia considera desde a produção do combustível até o consumo final no veículo, incluindo o CO2 capturado durante o crescimento da biomassa vegetal.

Paralelo a isso, Barbosa lembra que a Mercedes-Benz está conduzindo testes ambiciosos com o BeVant, outro biocombustível de origem vegetal (Biodiesel B100). “Uma caravana percorreu o trecho de Passo Fundo (RS) até Belém (PA), quase 5.000 km, onde estamos testando e comparando o BeVant 100”. Esse combustível, submetido a um processo de bidestilação, também apresenta redução de 65% nas emissões de CO2 no ciclo completo. 

Sobre os veículos elétricos, o executivo fez uma correção importante quanto às emissões zero. “Se a gente olhar da bateria até a roda, o elétrico é zero de emissão. Mas, também é preciso considerar se a energia utilizada no carregamento provém de fontes limpas. No caso do Brasil, onde 88% da energia é renovável, a chance de redução de CO2 é muito grande. Porém, se for proveniente de uma fonte térmica, já não é mais 100%”, esclarece.

Mesmo assim, Barbosa admite que a evolução da mobilidade urbana em direção à eletromobilidade é evidente no mundo todo. Como se viu na recente exposição da Busworld Europe 2025, realizada em outubro, na Bélgica, onde a evolução das baterias foi um marco significativo. “Há dois anos atrás, a maioria das baterias expostas na feira oferecia uma autonomia entre 150 e 250 km. Hoje, o componente já alcança 500 a 850 km sem a necessidade de recarga”.

Infraestrutura de recarga

Sobre o crucial tema da infraestrutura para veículos elétricos, Barbosa possui uma visão realista e de longo prazo. “Infraestrutura não é algo que se planeja para quatro anos. Tem que se pensar a cidade para os próximos 20 anos”. Ele criticou a abordagem baseada em mandatos eleitorais curtos e comemorou a percepção crescente entre municípios brasileiros sobre a necessidade de planejamento robusto. “Começou a cair a ficha de vários municípios. Já se consegue enxergar vários projetos menores que hoje consideramos ‘mais pé no chão’”. O executivo explicou, ainda, que a evolução da infraestrutura elétrica para suportar frotas maiores envolve migrar de baixa para média e alta tensão, processo que pode levar até uma década nos grandes centros urbanos.

Apesar dos reveses, Barbosa reconhece o papel de liderança do município de São Paulo nesse processo, com mais de 1.000 ônibus elétricos em operação atualmente, ainda que abaixo da meta inicial de 3.000 unidades para o ano passado. Ao comparar os mercados europeu e brasileiro, o vice-presidente enfatizou as diferenças estruturais fundamentais. “Na Europa, o ônibus não necessariamente é o principal transporte. Lá eles têm bicicleta, tem o automóvel, tem uma rede ferroviária muito ampla”. Ele contrastou essa realidade com a brasileira, onde operadores concentram frotas numerosas e as linhas chegam a ter 400 km de extensão diária. “Aqui, precisa de mais autonomia, precisa de mais capacidade de bateria. O ônibus é o nosso maior modal, diferente da Europa. Então por isso que o nosso desafio é maior”, concluiu, reafirmando que a transição energética no transporte brasileiro demandará múltiplas tecnologias adaptadas às especificidades locais.

Novidades na Europa

Entre os lançamentos da Mercedes-Benz na Busworld se destacam o eIntouro, um veículo para fretamento com autonomia de até 500 km. E a nova geração de baterias NMC 4, que pode alcançar 600 km dependendo da configuração. Walter Barbosa também citou o surgimento de serviços integrados de eletromobilidade como o OmniPlus Charge, que oferece soluções completas incluindo infraestrutura elétrica e carregadores.

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