Crescimento da frota atrapalha ainda mais o trânsito de BH

Frota de municípios da Grande BH cresce em média 10,6% ao ano e causa impacto no já tumultuado trânsito da capital.

Frota de municípios da Grande BH cresce em média 10,6% ao ano e causa impacto no já tumultuado trânsito da capital.

O movimento intenso de veículos por volta das 8h da manhã na Linha Verde, no Vetor Norte, na Via Expressa, na divisa com Contagem, ou na BR-040, em Ribeirão das Neves, é o retrato de um problema de dimensões desconhecidas e que cresce a todo vapor. Não bastasse o trabalho de dar fluidez ao trânsito por onde circula uma frota que duplicou nos últimos nove anos, a capital mineira, com seu 1,4 milhão de carros, motos, ônibus e caminhões, enfrenta também o desafio de amenizar uma pressão que tem como origem veículos de municípios vizinhos.

Enquanto a frota de BH segue, desde 2002, um ritmo de crescimento médio de 7,6% ao ano, em conjunto as outras 11 cidades mais populosas da região metropolitana aumentam em média 10,6% o volume de veículos. Passado o carnaval, a partir de hoje, os efeitos dessa pressão ficarão ainda mais evidentes, com a volta à rotina.

Apesar de não haver estimativa do tamanho da frota flutuante, que não pertence oficialmente à capital mas se torna parte dela diariamente, o aumento da quantidade de veículos sinaliza a necessidade de uma solução compartilhada entre os municípios. O alerta vem de pesquisa “O crescimento da frota de veículos na RMBH: panoramahistórico e tendências”, sobre a evolução, entre 2002 e 2011, da frota dos 12 maiores municípios da RMBH. O levantamento foi feito pelo mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) Paulo Rogério da Silva Monteiro a partir de dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a pedido do Estado de Minas.

A frota das 12 cidades corresponde a 85% do total de veículos dos 34 municípios da região metropolitana. Sem considerar Belo Horizonte, as 11 maiores cidades – Contagem, Betim, Lagoa Santa, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, Ibirité, Sabará, Vespasiano, Nova Lima, Esmeraldas, Pedro Leopoldo e Lagoa Santa – contam com 714.595 veículos, número duas vezes e meia superior à frota que havia nesses municípios há nove anos (289.682 veículos). O montante já representa quase a metade dos veículos emplacados em BH, que saltou de 742.115 em 2002 para 1.438.723 em dezembro do ano passado.

De acordo com Monteiro, um agravante para o trânsito é o fato de a capital ser centro de atração da população de vários municípios, em especial Santa Luzia, Ribeirão das Neves, Ibirité e Sabará, historicamente conhecidas por serem cidades-dormitório. “Esses municípios têm forte característica pendular e de baixa renda, com moradores que se deslocam para trabalhar em BH. Tudo isso mostra que a capital tem que estar preparada para lidar com um problema maior do que aquele gerado e gerenciado por ela. A frota dos municípios da RMBH cresce, mas muitos acabam rodando aqui”, afirma.

É o caso da engenheira Sara Cristina Passos, de 34 anos, que, apesar de morar em Sabará passa mais tempo em Belo Horizonte, onde trabalha, do que na cidade vizinha. Desde março do ano passado, quando comprou o primeiro carro, ela vem dirigindo para BH todos os dias, sem exceção, percurso que antes era feito de ônibus. “Gasto 1h30 da minha casa ao escritório. De carro, reduzo esse tempo para 45 minutos. Além da facilidade, é uma questão de segurança, pois quando saio tarde do trabalho acho perigoso o local onde passa o coletivo para Sabará”, afirma Sara, que dá carona para mais três sabarenses que trabalham em BH.

Pressão – Em números absolutos, Contagem ainda exerce o maior peso sobre a capital, com 257.460 veículos e variação anual da frota de 8,5%. “Mas pela característica econômica, tanto Contagem quanto de Betim não têm tanta dependência em relação a BH”, ressalta Monteiro. No topo do ranking do crescimento está Ibirité, a 21 quilômetros de Belo Horizonte. Desde 2002, o município tem aumentado 15,1% o tamanho da frota a cada ano e quase quadruplicou a quantidade de veículos, saltando de 12 mil em 2002 para 42,6 mil em 2011.

Numa pressa sem precedentes, o motoboy Tiago Jardim Lopes, de 25, entregador de uma rede de fast food, ajudou a aumentar essa estatística. Há quatro anos, ele comprou uma moto para trabalhar na capital. “Em Ibirité, infelizmente, não tem mercado. Comprei a moto em 48 prestações para rodar em BH.”, afirma. Na lista da evolução da frota, abaixo da cidade de Tiago, está Vespasiano, no Vetor Norte, com 13,4% de crescimento médio anual e frota de 27,1 mil veículos. Colada em BH, Ribeirão das Neves está em terceiro lugar nessa escalada, com aumento anual de 12,6% e um pulo de 25,1 mil para 73,4 mil carros, ônibus, caminhões e motos.

A maior pressão dos municípios do entorno sobre Belo Horizonte levou, inclusive, a BHTrans, que administra o trânsito da capital, a incluir a “interação metropolitana” na missão da autarquia. “Projetos para a região metropolitana são obrigação do estado, mas procuramos entender o impacto para a RMBH”, afirma o presidente da empresa, Ramon Victor César, citando obras do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês), nas avenidas Antônio Carlos, Pedro I e Cristiano Machado, além das linhas do metrô. Segundo ele, no dimensionamento das obras é feita uma contagem de veículos que trafegam no trecho e veículos de outras cidades acabamentrando na conta. “Mas a gestão de trânsito e transporte tem que se articular com o uso do solo. A região metropolitana precisa avançar para tirar a centralidade que BH exerce sobre os outros municípios”, diz.

Motos lideram crescimento – As motos foram as principais responsáveis pela arrancada no crescimento da frota de veículos das cidades no entorno de Belo Horizonte. O número de motocicletas nas 11 cidades mais populosas da região metropolitana, sem considerar a capital mineira, quadruplicou nos últimos nove anos, passando de 33,7 mil para 147,4 mil veículos. Os dados são da pesquisa “O crescimento da frota de veículos na RMBH: panorama histórico e tendências”, do mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) Paulo Rogério da Silva Monteiro.

O aumento do veículo sobre duas rodas foi de em média 15,9% ao ano, enquanto o de carro foi de 9,5% por ano. Ibirité foi o município em que a frota de moto mais cresceu nos últimos nove anos, com aumento anual de 18,8% e salto de 1,8 mil para 10 mil. “Os responsáveis por esse crescimento são as pessoas que usavam o transporte coletivo e com as facilidades de financiamento passaram a usar a moto. Nesse ritmo de crescimento, mais de um terço da frota da região metropolitana em 2020 serão veículos sobre duas rodas”, ressalta Monteiro.

Em Sabará, as motos já representam 27% da frota do município, enquanto em 2002, correspondiam a apenas 17% do total de veículos. Já os automóveis reduziram sua participação entre 2002 e o ano passado de 67% para 59%. Morador de Sabará, o motoboy Wagner Soares, de 37 anos, tem na garagem carro e moto. “Trabalho com a moto em BH e uso o carro para passear. De Sabará para a capital são 12 quilômetros e chego a rodar por dia 120 quilômetros dentro de Belo Horizonte”, afirma. (F.A)

Personagem da notícia – Por Francisco Augusto do Carmo Coelho, analista e consultor de finanças.

Jornada de 30 quilômetros – “E você aí que está no congestionamento?”. A pergunta da radialista, na manhã de sexta-feira, parece ser direcionada a Francisco, que todos os dias enfrenta jornada de quase 30 quilômetros entre a casa e o trabalho. Há mais de 10 anos, o analista financeiro sai de Contagem, cruza Belo Horizonte até chegar ao serviço, em Nova Lima, na região metropolitana. No início, o percurso era feito de ônibus: nada mais nada menos que três coletivos, num trajeto que demorava 1h30. A demora e a dificuldade para se descolar foram os principais incentivos para o rapaz comprar o primeiro carro. “Gastava meu salário de estagiário todo com as despesas do carro”, conta, a caminho do trabalho. “Mas, mesmo de carro, notei que de cinco anos para cá passei a gastar o dobro do tempo para percorrer a mesma distância”. Hoje, ele leva em torno de 50 minutos, num percurso de motorista experiente. “Para não parar no engarrafamento, vou pegando caminhos alternativos, por dentro de bairros. Prefiro demorar mais mas ter a garantia de que vou chegar a tempo”, conta Francisco, que agora não precisará bolar mais rotas de fuga. Por causa do trânsito, já decidiu que vai pôr fim à saga e se mudar para BH até junho.

Estado de Minas

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