Novas medidas do PSI paralisam mercado de caminhões

     “Do jeito que o governo está agindo, ele vai cortar pela metade o número de concessionárias de caminhões no Brasil.” A declaração é do gerente comercial da Konrad (concessionária Ford) no Paraná, Fernando Xavier Mourão. Ele se refere às novas regras do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). O prognóstico de Mourão pode parecer apocalíptico, mas revela o clima atual na rede distribuidora.

    “O governo deixou R$ 30 bilhões para o PSI. Esse foi o dinheiro que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deu no final de outubro do ano passado para complementar os negócios de novembro e dezembro. Ou seja, a verba que foi gasta em dois meses em 2014 terá de atender todo o ano de 2015”, reclama. Com pouco dinheiro disponível, os bancos ficam mais rigorosos e os negócios andam a passos de tartaruga.

    Em sua loja, Mourão vendeu 11 caminhões em janeiro e apenas 3 em fevereiro (até dia 19). “Eu preciso vender de 30 a 40 por mês para pagar as contas e faturar um pouco”, declara. Segundo ele, em todo o País somente 158 caminhões haviam sido faturados na primeira quinzena de fevereiro, informação que a reportagem ainda não conseguiu confirmar com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

    O gerente explica que a Konrad está buscando outras linhas para impulsionar os negócios. “O problema é que é difícil convencer o brasileiro, que ficou os últimos cinco anos comprando caminhão com taxas subsidiadas, a pagar mais juros”, afirma.

    Mesmo que o cliente consiga um financiamento pelo BNDES, as regras não são mais atrativas como no ano passado. Os juros subiram de 6% ao ano (para todos os públicos) para 9% ao ano (para caminhoneiros), 9,5% (para pequenas e médias empresas), e 10% (para grandes empresas). E a participação do banco estatal, que chegava a 100% do valor do bem, baixou para 50% no caso das grandes empresas e 70% para os demais públicos.

    O banco também passou a exigir 10% de entrada. E anunciou uma taxa fixa para financiar o complemento. Sujeita a alteração todos os meses, essa taxa, em fevereiro, é de 15,74% ao ano para grandes empresas e de 17,24% ao ano para os demais públicos.

    Segundo Mourão, a média ponderada da taxa de juros com as novas regras é de 0,89% ao mês contra 0,49% no ano passado. “Ainda é uma taxa baixa se você for comparar com a que existe para compra de automóveis, mas, no setor de transporte, que tem fretes em baixa e diesel em alta, não é suficiente para incentivar a compra de caminhão”, avalia.

    Antonio Carlos Senso Paes, diretor comercial da Concessionária Rivesa (Volvo), concorda. “Mesmo sendo juros prefixados, as empresas não conseguirão absorver diante dos níveis de remuneração do valor do frete, uma vez que têm uma série de outros custos que estão aumentando”, afirma.“O empresário está inseguro, não só com referência aos seus investimentos, mas com a governança do País e com o mundo dos negócios como um todo. O combustível não para de aumentar, assim como o pedágio, os impostos”, declara.

    Ele critica o fato de o BNDES vir mudando suas regras de financiamentos desde novembro do ano passado, situação que gera mais insegurança no mercado e retrabalho nos processos por parte das revendas.

    Em entrevista a Automotivebusiness, o vice-presidente da Anfavea e diretor da MAN Latin America, Marco Antonio Saltini, se mostrou mais otimista. “A nova condição do BNDES permite a visualização de quanto o cliente vai pagar e a gente acredita que esse fato vai facilitar as vendas.”

    OUTRO LADO

    Por meio da assessoria de imprensa, o BNDES afirmou que foram necessárias adequações no PSI devido à necessidade que o País tem de fazer o ajuste fiscal. E que os R$ 30 bilhões são somente para a parte do financiamento com juros subsidiados. Ou seja, para 50% do valor do bem no caso das grandes empresas, e 70% no caso dos demais públicos. “Potencialmente poderemos realizar um número maior de operações”.

    A assessoria também disse que é possível remanejar o orçamento de um programa para outro que tenha mais necessidade.

    Fonte: Automotive Business

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