É inviável o país cumprir meta de avanço para biocombustíveis, conclui Embrapa

    Apesar dos aparentes esforços do governo e da iniciativa privada, dificilmente o Brasil conseguirá cumprir a meta de elevar para 18% a participação dos biocombustíveis em sua matriz energética até 2030, como foi prometido pelo país na Conferência Mundial do Clima de Paris (COP-21). É o que sinaliza um estudo inédito elaborado pela Embrapa Agroenergia, que traça quatro cenários para os volumes de biodiesel e etanol que o país precisaria produzir para alcançar o objetivo. Em todos eles, porém, o Brasil só cumpriria o objetivo traçado se incluísse na conta outras fontes de energia, como cogeração a partir da queima do bagaço da cana e do carvão vegetal.
     
    O problema é que, como ressalta o estudo da Embrapa, o Acordo do Clima estabelece que a meta deve ser cumprida com biocombustíveis líquidos. E como há um “teto” previsto para o etanol, que deverá registrar crescimento anual relativamente baixo no horizonte previsto, o peso da missão recai sobre o biodiesel, que tem atualmente 70% de sua produção no país proveniente da soja, principal grão cultivado no Brasil.
    As perspectivas, portanto, não são animadoras. No primeiro cenário, a Embrapa considera que a produção de etanol continuará a crescer 5% ao ano, até chegar a 50 bilhões de litros em 2030, ou 6,1% da matriz energética brasileira. Assim, o volume de biodiesel necessário para cumprir o prometido na COP-21 precisaria chegar a 63 bilhões de litros, ou 11,9% da matriz, o que demandaria um percentual de 69% de mistura no diesel fóssil (B69), de acordo com as projeções feitas pela estatal. 
     
    Hoje o percentual de mistura obrigatória de biodiesel no diesel é de 8% (B8). “Chegar a essa quantidade de biodiesel em 2030 é inviável, portanto todos os cenários mostram que só com os combustíveis não será possível cumprir a meta do Acordo de Paris”, afirma Bruno Laviola, um dos seis pesquisadores da Embrapa Agroenergia envolvidos no trabalho.
     
    O segundo cenário parte da hipótese de que, se a taxa de crescimento do etanol brasileiro dobrar para 10,2% ao ano, o volume produzido atingiria 79,5 bilhões de litros em 2030, ou 9,7% da matriz energética do país. Isso significa que restariam ao biodiesel, para cumprir a meta, os 8,3% restantes – ou seja, seria preciso que o percentual de mistura subisse para 48% (B48), marca também considerada inviável pela Embrapa.
     
    No caso dos dois últimos cenários, Laviola explica que o objetivo não foi mais encontrar uma conta matemática que buscasse preencher os espaços exigidos para produção de biodiesel e etanol, mas sim estimar o potencial de expansão do plantio da soja, a principal matéria-prima de sua fabricação no país.
    O terceiro cenário indica que, se o percentual da safra brasileira de soja utilizada hoje para o biodiesel (15%) mais do que dobrar, para 35%, será possível obter uma mistura de biodiesel de 15% no diesel (B15). Mesmo assim, a participação do biocombustível na matriz energética seria de apenas 2,6%. Se forem considerados os mesmos 9,7% de presença do etanol na matriz, faltariam 5,7% para cumprir a meta, espaço que teria que vir de outros produtos, como bioquerosene ou biogás, queainda não têm escala de produção comercial no Brasil.
     
    O quarto cenário prevê que se 50% do volume de soja produzido nacionalmente fosse destinado ao biodiesel, seria viável uma mistura de 21% (B21) do produto no diesel até 2030 – participação de 3,7% na matriz. “A mensagem é que o Brasil tem que diversificar urgentemente as matérias-primas com escala de produção [para a produção de biocombustíveis], como gordura animal, algodão, girassol, canola e amendoim”, destaca Laviola. “Hoje não temos problema com matéria-prima para o biodiesel, mas em 2030 podemos ter”, acrescenta.
     
     
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