As montadoras de caminhões instaladas no Brasil, que esperavam uma recuperação das vendas em 2017 por meio do agronegócio, admitem que estão frustradas com os resultados vistos até o momento, que mostram queda de 27% no acumulado de janeiro a março. Com a decepção, as empresas acreditam que será muito difícil atingir a projeção da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) para o ano, de crescimento de 6% neste segmento, e fala-se até que 2017 deverá terminar “no zero a zero” em relação a 2016.
“Nós iniciamos o ano achando que o mercado já tinha chegado ao fundo do poço e que 2017, já com as reformas estruturais, políticas e em termos de infraestrutura, começaria uma nova fase de crescimento, não abrupta, mas consistente, mês após mês. Mas, por inúmeras razões, o primeiro trimestre não cresceu, na verdade caiu 27%”, lamentou o vice-presidente de Vendas, Marketing e Pós-Vendas da MAN Latin America, Ricardo Alouche.
Sobre a projeção da Anfavea para o ano, de avanço de 6%, Alouche afirmou que hoje “esta é uma questão a ser considerada”, sugerindo que uma revisão do número se mostrará inevitável. “Caindo 27% no primeiro trimestre, fica realmente difícil que o mercado cresça em quantidade suficiente para compensar os 27% de queda e ainda assim gerar um volume incremental”, disse. Ele espera que o ano termine no “zero a zero” em relação a 2016, com uma reversão da tendência a partir de maio.
A decepção com o mercado de caminhões, segundo as montadoras, se deve a uma demanda menor do que a esperada por parte de clientes do agronegócio. Na avaliação do gerente de vendas de caminhões da Volvo, Alcides Cavalcanti, o agronegócio tem comprado menos caminhões porque tem enfrentado um “esmagamento” de suas margens. “Eles compraram insumos no ano passado com dólar mais alto e agora estão vendendo a safra com dólar mais baixo, com preços menores, o que espremeu toda a cadeia, inclusive os transportadores, que acabaram não renovando suas frotas”, explicou.
Apesar da decepção dos executivos com o mercado, as quedas não devem resultar em níveis menores de produção ou de emprego, em razão de uma postura mais cautelosa das montadoras. “Imaginava-se um cenário bastante diferente desse que se apresentou entre janeiro e março, mas estamos preventivos na hora de colocar a produção, na hora de aumentar o estoque. Estamos mais ajustados à realidade”, disse o vice-presidente da Iveco, Mauro Borba.
Alouche, da MAN, também afirmou que seus estoques estão “regularizados” e que a produção da fábrica está “dimensionada” para a demanda atual. “Não houve necessidade de mais cortes, de mais ajustes, já havíamos nos preparado”, declarou.
Fonte: Estadão